|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
62º FESTIVAL DE CANNES
Animação desarma crítica em Cannes
Primeiro longa em 3D a abrir o festival, "Up" tem recepção que contrasta com a "faca entre os dentes" dos jornalistas em 2008
John Lasseter, dono da Pixar, buscou seguir receita de Walt Disney de "uma lágrima para cada risada" em filme sobre casa levada por balões
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
O longa de animação "Up -
Altas Aventuras", que abriu ontem o 62º Festival de Cannes,
segue uma receita cinematográfica de Walt Disney.
"Ele dizia que, para cada risada, deveria haver uma lágrima",
afirmou ontem em Cannes
John Lasseter, o homem que
hoje comanda a área de animação da Disney, além de ter sua
empresa, a Pixar, com Steve
Jobs (Apple) como sócio.
Em "Up", o potencial de risadas e lágrimas deriva da história do velhinho Carl que, viúvo,
decide empreender a aventura
com que ele e a mulher sonharam desde a infância -explorar
a natureza na América do Sul.
Acuado pela explosão imobiliária em seu bairro e ameaçado
de ser posto num asilo, Carl ata
à sua casa balões suficientes para fazê-la voar. Sem saber, ele
decola levando a reboque o garoto Russel, escoteiro cuja
"promoção" dependia da tarefa
de prestar auxílio a idosos. É o
início de uma bela amizade.
Lasseter lembrou ontem um
diálogo que teve com Jobs, de
quem ouviu: "Novas tecnologias duram quatro, cinco anos.
Se você fizer bem seu trabalho,
ele pode durar para sempre".
Aposta no 3D
Como o futuro do cinema é a
questão subjacente a este 62º
Festival de Cannes, a escolha
de "Up - Altas Aventuras" para
inaugurá-lo não é casual.
Pela primeira vez, este lugar
de destaque foi dado a um filme
em 3D, cuja projeção exige o
uso de óculos especiais pelo espectador. "Essa vai ser a foto!
Todas aquelas pessoas de smoking e longo usando os óculos.
Mal posso esperar", disse Lasseter, antes da sessão de gala do
filme, marcada para as 19h
(14h, no horário de Brasília).
Pela manhã, quando "Up" foi
exibido para a imprensa, o diretor-geral do Festival de Cannes, Thierry Frémaux, não esperou. "Ponham os óculos, por
favor. Queremos fazer essa foto", disse aos jornalistas, minutos antes do início da sessão.
"Agora finjam que vocês estão
vendo o filme", brincou.
No ano passado, "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando
Meirelles, foi o filme de abertura do festival. Parte da crítica
reagiu com tamanha agressividade ao longa que o jornal "Libération" analisou o fato: "Os
jornalistas chegam a Cannes
com a faca entre os dentes".
Ontem, "Up" parece ter conseguido desarmar até os espíritos mais beligerantes. Terá sido
uma vitória de Frémaux sobre a
predisposição da crítica. Mais
ainda, uma vitória de Lasseter,
executivo em teoria distante do
cinema de autor que Cannes
tanto preza, mas cuja Pixar faz
o que há de mais inteligente e
autoral no mundo da animação.
O sucessor de Disney vê o cinema como modo de emocionar o público. "Sabíamos que
éramos capazes de fazer um filme bonito e engraçado. Mas ele
teria de ser emocionante. Cada
coisa neste filme foi feita pensando no público", disse.
Leia o diário de Cannes no
blog Ilustrada no Cinema
folha.com.br/ilustradanocinema
Texto Anterior: Artes plásticas: Sesc Pompeia abre mostra infantil Próximo Texto: Mondo Cannes Índice
|