São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2010

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63º FESTIVAL DE CANNES

Amalric abre disputa com "anarquia"

Um dos mais cortejados atores do cinema francês, ele dividiu a crítica com "Tournée", uma homenagem ao burlesco

Mathieu Amalric já fez filme de graça, trabalhou com cineastas como Alain Resnais e aceitou papéis em produções de Hollywood


ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Na pose para a foto que os artistas tiram antes de conversar com a imprensa, Mathieu Amalric, 44, chamou a atenção não apenas por ser o único nome famoso de seu filme. Mas por ser o menorzinho de todos. E olha que ele estava rodeado pelas seis atrizes de "Tournée", que abriu a mostra competitiva de Cannes. Amalric, cortejado ator do cinema francês atual, é do tipo miúdo e que fica rosado e lacrimeja quando gargalha.
Apesar de ter passado por Cannes um par de vezes, como ator, Amalric estava visivelmente ansioso desta vez. É que, nunca antes, um trabalho seu, como diretor, havia conseguido tamanho reconhecimento: a seleção de Cannes. "Fiz o filme para contar essa história. Mas parece que não basta. Agora todos querem saber se espero o prêmio", diz. Com os olhos expressivos que se comunicavam sozinhos em "O Escafandro e a Borboleta" e o sorriso largo, o ator traz, na ponta da língua, críticas à sociedade que, a seu ver, de tanto cobrar as pessoas, acaba por impedi-las de viver.
"Por que, onde quer que se vá, as pessoas são obrigadas a usar um uniforme?", pergunta, referindo-se aos trajes libertários das atrizes de "Tournée". "Me incomodam os uniformes não só como vestimenta, mas como modo de vida." Homenagem ao gênero burlesco, seu filme expõe corpos e fragilidades humanas.
Atípico num festival como Cannes, desagradou parte da crítica, que o considerou vulgar. Mas agradou outra parte, que se divertiu com as trapalhadas do produtor de TV (Amalric) que volta à França após passagem pelos EUA e recebe uma trupe de strippers. A bagunça que Amalric coloca na tela pode, de fato, espantar quem pensa nele como o ator que trabalhou com grifes do cinema autoral, como Alain Resnais ("Ervas Daninhas"), Arnaud Desplechin ("Um Conto de Natal") e Nicolas Klotz ("A Questão Humana").
Mas ele é camaleão também nas escolhas. É capaz de trabalhar de graça, como em "L'Histoire de Richard O.", de Damien Odoul, e aceitar convites de Hollywood, como em "Munique", de Steven Spielberg, e "O Escafandro e a Borboleta", de Julian Schnabel. Amalric viveu a primeira experiência como ator, aos 18 anos, num filme de Otar Iosseliani. Mas decidiu, ali, que queria virar cineasta. Durante dez anos, trabalhou em diversos filmes, em funções técnicas.
Mas em 1995 foi seduzido por Desplechin e voltou a atuar. De lá para cá, foram inúmeros os prêmios e papéis que o transformaram em ator considerado de primeira linhagem. Não à toa, para alguns, "Tournée" soou como escândalo. "A vida está cada dia mais dura, as pessoas são obrigadas a obedecer o tempo todo. Vivemos numa sociedade que obriga os homens a não serem mais seres humanos", diz. "Quis trazer um pouco de anarquia."

Leia a cobertura diária do Festival de Cannes

www.folha.com.br/101304



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