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Chinês sensibiliza plateia ao focar tragédia familiar
DA ENVIADA A CANNES
"Chongqing Blues", o primeiro exemplar da farta safra
oriental da mostra competitiva
de Cannes, indica que, de fato, é
do outro lado do mundo que o
cinema contemporâneo tem
encontrado respiro criativo.
O filme foi dirigido por Wang
Xiaoshuai, formado pela Academia de Cinema de Pequim,
cineasta autoral que já teve dois
títulos lançados no Brasil, "Bicicletas de Pequim" (2001) e
"Sonhos de Shangai" (2005).
Em "Chongqing Blues", o cineasta volta a fazer uma espécie de crônica da sociedade chinesa. Mas, cinematograficamente, dá um passo além.
Triste como um blues, esse
filme de aparência simples e
atores impecáveis, trata de perdas e dores. Mas também do
significado das imagens numa
sociedade em que as vidas são
vistas por meio de câmeras
-sejam elas de circuitos de segurança ou de celulares.
A Chongqing do título é uma
cidade do interior da China, onde os prédios são cinzentos e os
sentimentos são recolhidos.
Nós, espectadores, vamos conhecê-la pelos braços de um
ex-morador que, após a morte
do filho, resolve voltar para reconstruir, em detalhes, a tragédia familiar.
Tudo o que ele sabe, de início,
é aquilo que o circuito interno
de TV de um mercado mostra:
após esfaquear uma funcionária e sequestrar uma moça, seu
filho é morto pela polícia.
Marinheiro que se afastou da
terra e do filho por muitos anos,
o protagonista seguirá uma jornada de reencontro com cacos
de sua história que foi deixando
pelo caminho.
"Um aspecto muito importante que parece ficar um pouco escondido no filme é o do
sentimento de valor", explicou
Xiaoshuai, durante entrevista.
"Num contexto de rápido crescimento econômico, fomos
perdendo os nossos valores."
Ao unir o rigor técnico a uma
história que, apesar de construída a partir de personagens
contidos, não teme o melodrama, "Chongquing" tocou a plateia do festival. E aumentou a
expectativa em torno dos outros orientais que virão.
(APS)
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