São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2010

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Robin Hood"

Ridley Scott filma Robin Hood político e restitui força do herói

Com liberdades em relação à história, diretor trata o nascimento do mito com ênfase para as cenas de batalha

ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

E ncarnação da justiça social, símbolo da revolta dos fracos contra os poderosos, o mito medieval de Robin Hood foi muito parodiado no cinema, quando não literalmente ridicularizado. É o que acontece em "Os Aventureiros do Tempo", de Terry Gilliam (1981), ou em "Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões" (1991), de Kevin Reynolds, com Kevin Costner na pele do justiceiro. Diluída, a lenda recupera força pelas mãos de Ridley Scott. O filme fala mais do nascimento do mito do que do próprio. Para isso, toma algumas liberdades em relação à história.
A mais importante, e que está na origem de todas as outras liberdades, é fazer Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, perecer no retorno da Terceira Cruzada, durante o cerco a um castelo na França. O roteiro também muda algumas coisas na lenda. A tradição reza que Robin de Locksley é um fidalgo. No filme, Robin (Russell Crowe) tem o sobrenome Longstride e é um humilde arqueiro a serviço do rei Ricardo (Danny Huston).
Depois de algumas peripécias, ele assume a identidade de Sir Robert Loxley (Douglas Hodge), cavaleiro real morto enquanto levava a coroa de volta à Inglaterra. Fingindo ser Loxley, Robin acaba entregando a coroa ao inepto João sem Terra (Oscar Isaac), irmão de Ricardo, que se torna o novo soberano. Em seguida, vai a Nottingham, terra do verdadeiro Loxley, e acaba vivendo com a mulher deste, Lady Marian (Cate Blanchett). O Robin Hood revisto por Ridley Scott vai se tornando cada vez mais político à medida que a narrativa avança.
Ele não é ainda "aquele que rouba dos ricos para dar aos pobres", mas é descrito como arauto da causa democrática, em luta contra os poderes instituídos -sejam eles o corrupto xerife do condado ou o próprio João sem Terra. Este aumenta os impostos a ponto de condenar boa parte da população à fome; trai a Magna Carta, que o impedia de exercer o poder absoluto, e leva a Inglaterra à beira da guerra civil.
Como de hábito, Scott mostra gosto por cenas de batalha. A melhor é a do cerco de Ricardo ao castelo, com lançamento de líquidos viscosos ferventes e corpos caindo das torres. A menos convincente é a do combate final, em que o Exército francês é vencido ao desembarcar na Inglaterra. A chuva de flechas é perfeita demais para ser verossímil, a montagem fragmenta excessivamente os movimentos e o espaço, e a presença de Lady Marian -com armadura- só serve para que Robin a salve, adoçando o austero romance.


ROBIN HOOD

Direção: Ridley Scott
Produção: EUA/Reino Unido, 2010
Onde: nos cines Bristol, Center Norte Cinemark e circuito
Com: Russell Crowe, Cate Blanchett
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




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