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BIENAL DE VENEZA
De várias formas e estilos, atuações marcam trabalhos dos artistas participantes da 51ª edição do evento
Performances criam aproximação entre o público e a arte
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
No sisudo pavilhão alemão, no
Giardini da Bienal de Veneza,
uma grande escultura do artista
Thomas Scheibitz é vigiada por
cinco guardas. De repente, todos
os cinco começam a dançar em
volta da obra e sussurram cantando aos visitantes: "Isto é tão contemporâneo, contemporâneo".
Ninguém entende o que está
acontecendo, mas todo mundo
cai na gargalhada.
A dança dos vigias é, na verdade, uma performance de Tino
Sehgal, artista inglês que é outro
dos representantes da Alemanha
na mostra. Sehgal, que trabalha
na interface entre dança e artes
plásticas, também instruiu os
guardas a conversarem com os visitantes: "Você não quer discutir
os efeitos da globalização comigo?" Essa performance, chamada
"Exchange" (troca), ocorre quando o visitante aceita discutir o tema com um dos guardas. Após
um tempo de conversa, o visitante
ganha o reembolso do valor da
entrada para a Bienal numa forma de envolvimento e troca entre
o artista e o observador.
A 51ª Bienal de Veneza está sendo marcada pelas performances,
em várias formas e estilos. Até
mesmo um dos Leões de Ouro, o
prêmio da Bienal, foi entregue à
artista da Guatemala Regina José
Galindo. Sua performance foi caminhar nua pela cidade e apresentar os registros em vídeo em
Veneza. O pavilhão português
apresenta fotos e vídeos de Helena Almeida, 86, com "A Experiência do Corpo no Espaço", uma
obra que remete aos trabalhos
conceituais da artista nos anos 70,
uma das precursoras da performance. Em sua obra, Almeida usa
seu próprio corpo, não como caráter biográfico, mas para abordar a presença física do ser.
Já o argentino Jorge Macchi, em
seu pavilhão, num pequeno oratório fora do Giardino, reproduz
em forma de cama elástica a forma de uma imagem pintada na
capela, da Ascensão de Nossa Senhora. Um ginasta usa a cama
elástica para pular e, claro, ascender no espaço, como sugere a
imagem sacra. Seus sons servem
de acompanhamento para o musico Edgardo Rudnitzky, no violino, numa das performances mais
concorridas da Bienal.
"Fiz especialmente para este local, nunca tinha realizado uma
performance antes", disse Macchi, que também está na mostra
de Maria de Corral, uma das curadoras da Bienal, com uma das
melhores obras do espaço, um
globo de vidros que ao invés de
refletir luz, tem os eventuais reflexos como buracos por toda sala.
A performance também foi
uma das preocupações das curadoras da Bienal italiana e não esteve presente apenas nas representações nacionais. Em "Sempre um
Pouco a Frente", curada por Rosa
Martinez, o alemão John Bock
reuniu dezenas de pessoas nos últimos dias em torno de "Bobby
Fischer", uma ação do próprio artista que criou esculturas como se
fossem vísceras e misturou diversos tipos de objeto no local, em
seu estilo escatológico.
Em outro caso, o público era
convidado a participar, como em
"Swansong" (o canto do cisne),
da dupla franco-inglesa The Centre of Attention. Numa mesa com
um dos integrantes do grupo, um
computador disponibiliza musicas que os visitantes gostariam de
ouvir no dia de sua morte. A canção então é tocada, e o participante deve se deitar, como morto,
num altar branco. "Isso eu não faço", disse a libanesa Lina Calfat,
quando soube da história. "Quando eu morrer, prefiro que alguém
escolha isso por mim", disse Calfat em tom de brincadeira.
A última obra exibida no Arsenale, aliás, é registro de performance da espanhola Pilar Albarracin, que caminha correndo pelas ruas de Madri, seguida por
uma estridente banda, talvez uma
boa metáfora para a própria arte
contemporânea. Incômoda, mas
que está próxima do ser humano,
como, aliás, sempre a performance propôs.
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