São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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BIENAL DE VENEZA

De várias formas e estilos, atuações marcam trabalhos dos artistas participantes da 51ª edição do evento

Performances criam aproximação entre o público e a arte

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

No sisudo pavilhão alemão, no Giardini da Bienal de Veneza, uma grande escultura do artista Thomas Scheibitz é vigiada por cinco guardas. De repente, todos os cinco começam a dançar em volta da obra e sussurram cantando aos visitantes: "Isto é tão contemporâneo, contemporâneo". Ninguém entende o que está acontecendo, mas todo mundo cai na gargalhada.
A dança dos vigias é, na verdade, uma performance de Tino Sehgal, artista inglês que é outro dos representantes da Alemanha na mostra. Sehgal, que trabalha na interface entre dança e artes plásticas, também instruiu os guardas a conversarem com os visitantes: "Você não quer discutir os efeitos da globalização comigo?" Essa performance, chamada "Exchange" (troca), ocorre quando o visitante aceita discutir o tema com um dos guardas. Após um tempo de conversa, o visitante ganha o reembolso do valor da entrada para a Bienal numa forma de envolvimento e troca entre o artista e o observador.
A 51ª Bienal de Veneza está sendo marcada pelas performances, em várias formas e estilos. Até mesmo um dos Leões de Ouro, o prêmio da Bienal, foi entregue à artista da Guatemala Regina José Galindo. Sua performance foi caminhar nua pela cidade e apresentar os registros em vídeo em Veneza. O pavilhão português apresenta fotos e vídeos de Helena Almeida, 86, com "A Experiência do Corpo no Espaço", uma obra que remete aos trabalhos conceituais da artista nos anos 70, uma das precursoras da performance. Em sua obra, Almeida usa seu próprio corpo, não como caráter biográfico, mas para abordar a presença física do ser.
Já o argentino Jorge Macchi, em seu pavilhão, num pequeno oratório fora do Giardino, reproduz em forma de cama elástica a forma de uma imagem pintada na capela, da Ascensão de Nossa Senhora. Um ginasta usa a cama elástica para pular e, claro, ascender no espaço, como sugere a imagem sacra. Seus sons servem de acompanhamento para o musico Edgardo Rudnitzky, no violino, numa das performances mais concorridas da Bienal.
"Fiz especialmente para este local, nunca tinha realizado uma performance antes", disse Macchi, que também está na mostra de Maria de Corral, uma das curadoras da Bienal, com uma das melhores obras do espaço, um globo de vidros que ao invés de refletir luz, tem os eventuais reflexos como buracos por toda sala.
A performance também foi uma das preocupações das curadoras da Bienal italiana e não esteve presente apenas nas representações nacionais. Em "Sempre um Pouco a Frente", curada por Rosa Martinez, o alemão John Bock reuniu dezenas de pessoas nos últimos dias em torno de "Bobby Fischer", uma ação do próprio artista que criou esculturas como se fossem vísceras e misturou diversos tipos de objeto no local, em seu estilo escatológico.
Em outro caso, o público era convidado a participar, como em "Swansong" (o canto do cisne), da dupla franco-inglesa The Centre of Attention. Numa mesa com um dos integrantes do grupo, um computador disponibiliza musicas que os visitantes gostariam de ouvir no dia de sua morte. A canção então é tocada, e o participante deve se deitar, como morto, num altar branco. "Isso eu não faço", disse a libanesa Lina Calfat, quando soube da história. "Quando eu morrer, prefiro que alguém escolha isso por mim", disse Calfat em tom de brincadeira.
A última obra exibida no Arsenale, aliás, é registro de performance da espanhola Pilar Albarracin, que caminha correndo pelas ruas de Madri, seguida por uma estridente banda, talvez uma boa metáfora para a própria arte contemporânea. Incômoda, mas que está próxima do ser humano, como, aliás, sempre a performance propôs.


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