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MÚSICA
Em nova "encarnação", veterana banda de Detroit toca ao lado da dupla anglo-americana no festival Campari Rock
O "velho" Kills encontra o "novo" MC5 em SP
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
É como se o velho e o novo nunca tivessem se encontrado de forma tão natural. Totem do rock de
garagem, o histórico MC5 fechou
sua primeira apresentação no
Brasil dentro do Campari Rock.
Banda que faz parte do batalhão
de infantaria do recente ressurgimento do rock de garagem, a dupla The Kills também está confirmada no festival.
É a chance única de assistir ao
lendário MC5 em nova encarnação, e o The Kills, nome já estabelecido naquilo que foi batizado de
"novo rock" após o aparecimento
dos Strokes, em 2001.
Antes um quinteto surgido em
Detroit nos anos 60, o MC5 excursiona atualmente com três de seus
integrantes originais: o guitarrista
Wayne Kramer, o baixista Michael Davis e o baterista Dennis
Thompson. Eles vêm ao Brasil
com um vocalista convidado
-ainda não divulgado.
O Kills chega ao país também
pela primeira vez, após o lançamento do elogiado "No Wow", o
segundo disco, e de apresentações
nos festivais Coachella (EUA, em
abril) e Glastonbury (no dia 24
deste mês, na Inglaterra).
O festival acontece entre 12 e 14
de agosto, em São Paulo, em local
a ser definido. As duas bandas se
juntam à inclassificável dupla de
DJs escocesa Optimo, à dupla
franco-americana de rock Berg
Sans Nipple, ao grupo de rock
sueco Dungen e ao DJ/empresário escocês Alan McGee -a dupla
eletrônica Fixmer & McCarthy
está para ser confirmada.
Não é só. Treze nomes nacionais estarão no evento, entre eles
Forgotten Boys e Cansei de Ser
Sexy, talvez os dois shows mais
animados e indispensáveis do
rock/pop brasileiro hoje.
O festival terá um dia mais
pop/eletrônico (12 de agosto), encabeçado por The Kills e Optimo,
outro (13/8) mais rock, liderado
pelo MC5, e o encerramento (14/
8), com Alan McGee (dono do selo Creation, que lançou nos anos
90 bandas como Oasis e Primal
Scream) como DJ.
Organizado pelo jornalista e
promotor André Barcinski e pelo
colunista da Folha Lúcio Ribeiro,
o Campari Rock terá ainda palestras de artistas e festas espalhadas
por oito clubes de São Paulo.
The Kills
Nome de ponta do novo rock de
garagem que conta também com
Yeah Yeah Yeahs e Strokes, o Kills
é formado pelo inglês Jamie Hince (ou Hotel) e pela americana
Alison Mosshart (ou apenas VV).
Em 2001, Hotel vivia em Londres, era um desconhecido guitarrista, enquanto Alison morava na
Flórida cantando no também desconhecido Discount. Em uma viagem à Inglaterra, os dois se encontraram e, depois, passaram a
trocar fitas, letras e filmes caseiros. E fizeram um pacto: iriam parar tudo o que estavam fazendo,
formariam uma banda e se dedicariam exclusivamente a ela. E
surgiu o Kills.
"Vivíamos muito distantes um
do outro. Tínhamos quartos
cheios de fitas que ninguém escutava, cheios de filmes que ninguém queria assistir, e escrever e
compor era obsessão para nós",
disse Hotel à Folha.
Outra obsessão dos dois -e o
que os ajudou nessa união-, foi a
paixão pela atriz/modelo Edie
Sedgwick, presença constante na
turma de Andy Warhol e do Velvet Underground nos anos 60, e
da qual Hotel tem a biografia.
"Sempre acabo voltando para
aquele livro, é muito inspirador,
pois é a Nova York do final dos
anos 60. O Velvet Underground
não era apenas uma banda, não
dá para dissociar a música de
Warhol, de Ginsberg, da política,
dos filmes da época... Era um caos
criativo, sem regras. É o oposto do
que ocorre hoje, em que as gravadoras se dedicam a absorver esse
caos e transformá-lo em coisas
simplórias, como vídeos da MTV,
campanhas de marketing..."
A dupla é econômica ao extremo. Hotel fica na guitarra, VV leva os vocais. São amparados por
uma bateria programada. "Não
foi uma decisão planejada a de ser
apenas nós dois. Falávamos sobre
ter um tecladista ou um baixista
na banda, mas estávamos tão entusiasmados do jeito que estava, e
seria difícil encontrar alguém que
se encaixasse no que queríamos
fazer, pois não há nada formulado
em nossa música."
É pouco, mas tiram muito daí.
Costumam ser comparados a Sonic Youth, Royal Trux, Patti
Smith, Velvet Underground. Gravaram dois discos: "Keep On
Your Mean Side" (2003) e "No
Wow" (05). "Não consigo descrever como soamos... Talvez como
agonia, dor, alegria. "Keep on
Your..." foi erroneamente descrito
como uma celebração roqueira.
Mas nós nunca nos afiliamos ao
rock ou ao blues ou o que seja.
Queremos ser uma banda que
não se encaixa em nada, que caminha sempre para a frente. Por
isso temos uma bateria eletrônica,
pois não se encaixa em nada..."
Se para Hotel o Kills não se encaixa em nenhum rótulo específico, ele enxerga o rock atual com
visões diferentes. "Uma vez que a
porta foi aberta novamente para a
música de guitarras, em 2001,
apareceram uma enxurrada de
bandas, como LCD Soundsystem,
TV on the Radio, Electrelane.
Uma coisa que não gosto é que,
hoje, entrar numa banda de rock
virou moda, um meio de ter uma
carreira profissional de sucesso.
Dá-se muito valor ao marketing,
em fazer música que se encaixe
nas rádios. Eu prefiro o caos."
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