|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
OPINIÃO
Extensão do talento do cineasta inglês vai além das obras de sua grande fase
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O exemplo mais perfeito
do talento de Alfred Hitchcock não se encontra em
"Um Corpo que Cai" nem em
"Janela Indiscreta" ou qualquer outra obra da sua grande fase. Ele se encontra em
"Chantagem e Confissão"
("Blackmail"), de 1929.
Era para ser um filme mudo. Mas Hitchcock, homem
extremamente precavido e
avesso a surpresas, previu a
possibilidade de o filme se
tornar falado e preparou-se
para as duas hipóteses.
Não deu outra: com o filme
já começado, o produtor optou por tornar o filme sonoro.
Hitchcock preparara tudo,
mas algo de importante lhe
escapara: Anny Ondra, a
atriz principal, era estrangeira, o que forçou Hitchcock a
usar sua astúcia para resolver o problema: colocou uma
atriz ao lado da câmera, dublando Ondra no mesmo momento em que ela falava.
Na notável mostra que se
abre hoje no CCBB, esse momento de alta criatividade e
técnica poderá ser conferido
em toda a sua extensão.
A mostra, aliás, traz a retrospectiva completa dos
longas do grande mestre, o
que inclui o raro (e fraquíssimo, ele mesmo achava) "Valsas de Viena", um musical de
1933 que, em definitivo, nada
tinha a ver com seu estilo.
De resto, Hitchcock não esperou o cinema falado para
manifestar a extensão de seu
gênio. Desde a sua estreia,
com "O Jardim dos Prazeres", o estilo fluente e a elegância do enquadramento já
eram visíveis.
Seu cinema, disseram os
críticos da época, parecia
mais americano do que inglês (o cinema inglês era,
desde então, um tanto fracote). Eles o chamaram, por sinal, "the young man with a
master mind" (um jovem
com cabeça de mestre).
MÉTODO
O método do suspense, ao
qual o autor foi fiel durante
toda a vida, surgiu no ano seguinte. Ao contrário de diretores capazes de trabalhar
com vários gêneros, Hitchcock criou inúmeras variantes dentro do mesmo gênero.
Houve poucas exceções,
como "Rebecca" (1940), neste porque estava sob a vigilância de David O. Selznick.
Selznick o levara aos EUA
em 1939. A partir daí, ele teria
de se adaptar a um novo país,
a Hollywood e a seus métodos. Na verdade, Hollywood
logo percebeu que melhor (e
mais lucrativo) seria dobrar-se aos métodos de Hitchcock.
Apenas Selznick resistiu.
Quando entra nos anos
1950, já livre do contrato com
Selznick, Hitchcock encontra-se na plenitude do domínio de suas ideias e da técnica, já dispõe também de toda
segurança.
É quando, uma após outra, compõe suas maiores
obras: "Janela Indiscreta",
"O Homem que Sabia Demais", "O Homem Errado",
"Um Corpo que Cai", "Psicose", "Os Pássaros", "Marnie,
Confissões de uma Ladra",
"Frenesi"... Como pedir
mais?
E, no entanto, a retrospectiva mostrará, há muito mais.
Texto Anterior: Filmografia de Hitchcock ocupa SP por seis semanas Próximo Texto: Crítica - Música erudita: Kristoff Silva e Quarteto Osesp sondam limites da canção em concerto arrojado Índice | Comunicar Erros
|