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Erudito na moda
Crises de pânico e vaias coletivas
CONTARDO CALLIGARIS
COLUNISTA DA FOLHA
O desfile da Ellus aconteceu
entre as árvores do Bosque dos
Eucaliptos, com a fonte do Ibirapuera como pano de fundo. E
com uma hora de atraso.
Centenas de pessoas ficaram,
por um bom tempo, amassadas
ou enfiadas em corredores de
barreiras que evocavam a espera do gado antes do momento
fatal. Houve brigas de malucos
exasperados (com intervenção
dos seguranças), uma crise de
pânico e vaias coletivas, invocando as "Organizações Tabajara".
Quando o desfile começou,
alguns tinham ânimo só para
debochar: as primeiras luzes
foram recebidas por um
"Haaa!" zombador. A causa da
Ellus parecia perdida.
Mas o desfile nos ganhou, aos
poucos. As roupas eram leves,
pareciam panos drapeados e
enrolados ao redor dos corpos,
como saris curtos e esvoaçantes. A mistura de estampas e
tramados de cores vivas e padrões diferentes evocava uma
diversidade livre, não apenas
das roupas.
As e os modelos, depois de
desfilar, continuavam passeando pelo bosque: a visão final foi
feérica. No conjunto, até os homens (um pouco grotescos) pareciam bonitos. O grupo deambulava pelo Ibirapuera como
uma versão luminosa das turmas mais escuras que habitam
o parque à noite. E isso na São
Paulo sitiada destes dias, lembrada pelas luzes do trânsito,
na distância.
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