São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2006

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Erudito na moda

Crises de pânico e vaias coletivas

CONTARDO CALLIGARIS
COLUNISTA DA FOLHA

O desfile da Ellus aconteceu entre as árvores do Bosque dos Eucaliptos, com a fonte do Ibirapuera como pano de fundo. E com uma hora de atraso.
Centenas de pessoas ficaram, por um bom tempo, amassadas ou enfiadas em corredores de barreiras que evocavam a espera do gado antes do momento fatal. Houve brigas de malucos exasperados (com intervenção dos seguranças), uma crise de pânico e vaias coletivas, invocando as "Organizações Tabajara".
Quando o desfile começou, alguns tinham ânimo só para debochar: as primeiras luzes foram recebidas por um "Haaa!" zombador. A causa da Ellus parecia perdida.
Mas o desfile nos ganhou, aos poucos. As roupas eram leves, pareciam panos drapeados e enrolados ao redor dos corpos, como saris curtos e esvoaçantes. A mistura de estampas e tramados de cores vivas e padrões diferentes evocava uma diversidade livre, não apenas das roupas.
As e os modelos, depois de desfilar, continuavam passeando pelo bosque: a visão final foi feérica. No conjunto, até os homens (um pouco grotescos) pareciam bonitos. O grupo deambulava pelo Ibirapuera como uma versão luminosa das turmas mais escuras que habitam o parque à noite. E isso na São Paulo sitiada destes dias, lembrada pelas luzes do trânsito, na distância.


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