São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2011

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Ney Matogrosso leva para os palcos obra de João do Rio

Artista dirige amigo Marcus Alvisi em monólogo que reúne dois contos do precursor de Nelson Rodrigues

Conhecido pelo caráter performático de seus shows, cantor optou por limitar movimentação do ator na montagem

DE SÃO PAULO

Ney Matogrosso volta ao teatro após um jejum de 11 anos, desde que foi diretor do musical "Somos Irmãs". Ele dirige agora "Dentro da Noite", monólogo que reúne dois contos de João do Rio (1881-1921), que estreia em São Paulo amanhã.
Conforme conta à Folha, ele busca ampliar seus domínios artísticos e colocar o precursor de Nelson Rodrigues "na roda". (GABRIELA MELLÃO)

 


Folha - O que trouxe você de volta ao teatro?
Ney Matogrosso -
Antes de ser cantor, trabalhava como ator. Na verdade, nunca me afastei do teatro, levei o teatro para a música.

O que o atraiu em "Dentro da Noite"?
O [ator Marcus] Alvisi encenava esses contos como performance, em livrarias. Quando vi, fiquei louco. Não conhecia João do Rio. Ele me fez entender a loucura de Nelson Rodrigues.

De que forma?
Eles dialogam na doença, na linguagem erotizada e nos relacionamentos bizarros. Nelson admitia ter sido influenciado por João do Rio.

O que une os dois contos? A linguagem. No mais, eles são bem diferentes. "Dentro da Noite" conta a história de um camarada que descobre o prazer sexual quando fura a noiva com uma agulha. "O Bebê de Tarlatana Rosa" fala sobre um Carnaval do começo do século. Nosso Carnaval é completamente careta se compararmos com o descrito no conto.

Qual o prazer da direção?
É um grande prazer colocar João do Rio na roda. Ele foi uma figura importantíssima na literatura, mas a gente não sabe nada sobre ele, por conta dessa coisa irritante que é a falta de memória do brasileiro. Outro prazer é dirigir um amigo de muitos anos.

Por que um homem performático por natureza como você limitou a movimentação do ator ao essencial?
Há uma performance muito poderosa do ator, mas a intenção foi privilegiar a palavra. O gesto é mesmo mínimo. Eu via o que o Alvisi fazia em livrarias, e seu gestual não tinha significado. Era o gesto pelo gesto. Agora ele acrescenta, acentuando o emocional dos personagens.

Você interferiu na trilha do espetáculo?
A trilha foi feita pelo Alvise, já estava pronta. É a mesma usada em suas performances. É muito boa, me chamou atenção na época.

Você voltou ao teatro e ao cinema, no filme "Luz nas Trevas", de Helena Ignez (continuação de "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, e que entra em cartaz em 2012). Esse movimento indica um desejo de explorar novas formas artísticas?
Meu interesse é pela arte. Não acho que o fato de ser cantor deva me restringir. Entre os ensaios e as temporadas, o teatro ocupa tanto meu tempo quanto a música. Mas eu gostaria de fazer mais cinema.

DENTRO DA NOITE

QUANDO sex. e sáb., às 20h; até 27/8
ONDE Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel.0/xx/11/3095-9400)
QUANTO de R$ 5 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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