São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2011

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Pioneira do vídeo ganha retrospectiva

Letícia Parente, uma das primeiras a usar o suporte no país, tem conjunto da obra reunido no Oi Futuro, no Rio

Em seus vídeos, artista revê questão feminina e opressão política na ditadura a partir de um universo doméstico

DO ENVIADO AO RIO

Entre preparações e tarefas, Letícia Parente encarou a vida doméstica como um microcosmo da condição feminina e de um país amordaçado por excessos da ditadura. Em 1975, a artista, morta há 20 anos aos 61, fez um vídeo em preto e branco em que costura na sola do pé a frase "Made in Brasil". Talvez o trabalho mais célebre da videoarte no país, é uma denúncia visceral e dolorosa das contradições do período.
Linha e agulha, coisas de mulher, afundam na pele com perícia obstinada, desenhando um sentido de alienação no conjunto das letras. Sua obra, agora reunida em retrospectiva no Oi Futuro, no Rio, usa truques e artifícios femininos aliados à secura documental do vídeo, um suporte que teve Parente como pioneira no país.
Junto de "Marca Registrada", a obra da costura no pé, estão ações gravadas na casa da artista. Em "Preparação I", ela cola esparadrapos nos olhos e na boca e se maquia sobre eles, encarando um espelho mesmo sem nada ver.
"Tudo parte de questões cotidianas e explode na cara da gente", resume André Parente, filho da artista e curador da exposição. "Ela cria uma máscara social para a mulher que não pode reclamar do marido ou para o cidadão que não pode assumir suas posições políticas."
E, por trás da máscara, na esfera do lar, Parente tentava abarcar um universo. Numa série de fotografias, mostra um armário de casa abarrotado de objetos, primeiro roupas pretas, depois roupas brancas, jornais e comida.
Esse viés categórico, talvez pelo fato de ela ter sido química a vida inteira, também se alastra pelo resto da obra. Nas montagens da mostra em Salvador e Fortaleza, para onde a retrospectiva viaja depois do Rio, estará a instalação "Medidas", em que o público pode medir e comparar sua resistência à dor, capacidade pulmonar, altura e outros dados biométricos.
"Tem o que ela chamava de arqueologia do cotidiano", diz o curador. "Não há como viver sem essa relação estatística, equilíbrio entre risco e prazer." (SILAS MARTÍ)

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Oi Futuro.

LETÍCIA PARENTE

QUANDO de ter. a dom., das 11h às 20h; até 28/8
ONDE Oi Futuro (r. Dois de Dezembro, 63, Rio, tel. 0/xx/21/ 3131-3060)
QUANTO grátis


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