São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Literatura em tempos sombrios

Política internacional dá o tom a 4ª Festa Literária de Parati; convidados reclamam da predominância do tema

Evento, que acabou ontem, reuniu 12 mil pessoas em quatro dias; participantes discordam da submissão da literatura aos eventos atuais

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Mesa que encerrou a Flip com Jonathan Safran Foer, Ali Smith, Edmund White, Adélia Prado, Benjamin Zephaniah e David Toscana


EDUARDO SIMÕES
MARCOS STRECKER
SYLVIA COLOMBO

ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI

O assunto principal da 4ª edição da Festa Literária Internacional de Parati, que terminou ontem com um público total estimado em 12 mil pessoas, foi a política internacional. Até aí, sem novidades. Desde sua primeira edição, em 2003, a Flip sempre reuniu autores e público que não hesitam em esbravejar contra os EUA.
"Este tipo de discurso de esquerda contra as guerras é o consenso no mundo. Noventa e nove por cento das pessoas que vêm para festivais como esse pensam assim", disse o escritor inglês Christopher Hitchens.
Mas será que não é mais possível falar de literatura sem falar de política? O romancista americano Jonathan Safran Foer foi um dos poucos que defenderam que os livros voltassem ao primeiro plano.
"Não deveríamos submeter a literatura à política", disse o autor de "Tudo se Ilumina".
"Já temos opiniões políticas e lemos jornais todos os dias, deveríamos pelo menos por alguns dias celebrar os livros e não transformar a política em assunto de todas as conversas."
Foer também foi um dos convidados que se recusaram a assinar o manifesto que pedia a retirada das tropas israelenses do Líbano. O documento foi lançado pelo paquistanês Tariq Ali e assinado por, entre outros, Toni Morrison, Mourid Barghouti, Benjamin Zephaniah e Alonso Cueto. "O manifesto é ingênuo", afirmou Foer.
Entretanto, o que prevaleceu nas mesas foi um debate sobre o que a idealizadora do evento, Liz Calder, chamou no seu discurso de abertura de "dias sombrios". Ou seja, os conflitos no Oriente Médio e o terrorismo. Em suas apresentações, Barghouti, Zephanaiah e Ali falaram muito mais sobre política do que propriamente sobre seus livros.


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