São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Autores nacionais se destacam em Flip sem estrelas

Obras de escritores como Ferreira Gullar e Adélia Prado tiveram boa recepção no evento encerrado ontem em Parati

Organizadores planejam realizar a edição do ano que vem em julho; um dos nomes pretendidos é o português Lobo Antunes

DOS ENVIADOS A PARATI

Esvaziada de grandes nomes, a 4ª edição da Flip trouxe poucas novidades significativas e foi mais fraca, no geral, do que as anteriores. Uma boa amostra disso foi o sucesso de autores nacionais conhecidos e já veteranos. Depois de uma apresentação emocional, com direito a choro, Adélia Prado ficou por quase quatro horas autografando seu livro ontem, o último dia do evento.
No início da noite, o escritor e colunista da Folha Ferreira Gullar era o campeão de vendas na Livraria da Vila instalada no local, com "Poema Sujo" -livro que está completando 30 anos. Em segundo e em terceiro, a própria Adélia (com "Vida Doida" e "O Coração Disparado") e, em quarto, Ignacio de Loyola Brandão, com "A Altura e a Largura do Nada".
O evento ficou maior, mas apenas em seus projetos paralelos, a Flipinha (para as crianças) e a off-Flip (com programação de festas, saraus e shows). Os organizadores explicam que o objetivo é esse mesmo, manter a programação oficial com o mesmo tamanho. A Flip é avessa à idéia de se tornar um festival para grandes platéias. O formato original, de autores fazendo a leitura de seus próprios textos para público reduzido, será mantido.
O pouco brilho da edição deste ano se deve muito à falta de critérios claros para a escolha dos autores e de afinidades entre escritores que eram colocados para debater juntos.
O homenageado da festa, Jorge Amado, ficou praticamente esquecido. Tirando a mesa destinada a discutir sua obra, o nome do escritor baiano quase não circulou na Flip. A exceção honrosa foi o show de Maria Bethânia, que leu trechos de romances e cantou em sua memória.
A mesa mais concorrida foi a que reuniu, no sábado, o colunista da Folha Fernando Gabeira e o jornalista britânico Christopher Hitchens, com público de 874 pessoas na Tenda dos Autores (o debate também podia ser acompanhado na Tenda da Matriz). Hitchens, que defende a ação de Israel no Líbano, confrontou diversas vezes o público, chegando a chamá-lo de idiota.
A segunda mais popular, quase com o mesmo número de participantes (872), foi a que teve a poeta Adélia Prado. Em terceiro, veio a norte-americana Toni Morrison (837), que apresentou um discurso antipreconceito e criticou os EUA ("sinto vergonha").
Também agradaram bastante as participações do rapper Benjamin Zephaniah, da divertida Ali Smith, do circunspecto Jonathan Safran Foer e o espirituoso angolano Ondjaki.
A discussão entre Foer e Smith no sábado à noite pode ser considerada a mais "literária" propriamente dita dentro do evento. Ambos discutiram o processo de criação e de elaboração de seus livros.
A diretora de programação, Ruth Lanna, anunciou que está deixando o cargo porque vai viver um período no exterior e que ainda não há um substituto a caminho. Tampouco há nomes de escritores previstos para o próximo ano, mas os organizadores dizem que tentarão novamente alguns autores que sempre chamam e que nunca puderam participar, como o norte-americano Phillip Roth e o sul-africano J.M. Coetzee.
O único que já está acenando com uma possível participação é o português Antonio Lobo Antunes.
Por causa da Copa, pela primeira vez a Flip aconteceu em agosto. Em 2007, o evento deve voltar a ocorrer em julho, na primeira semana, ou na última semana de junho.
(EDUARDO SIMÕES, MARCOS STRECKER, SYLVIA COLOMBO)

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