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Web 2.0 não é inovação, diz Pierre Lévy
Teórico da revolução digital rejeita a idéia de que houve mudança nos conceitos da internet e pesquisa linguagem para expandi-la
Pensador, que está no Brasil para ciclo de palestras, diz que Second Life é fenômeno menos relevante que jogos colaborativos on-line
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Nada abala o otimismo de
Pierre Lévy com a internet. Um
dos principais teóricos da revolução digital, filósofo da informação e professor de comunicação na Universidade de Ottawa (Canadá), Lévy acha que a
grande questão colocada hoje
para a rede é apenas aumentar
as informações disponíveis, o
que é o objeto de sua linha de
estudo atual.
É basicamente o que deve dizer hoje à noite em palestra que
vai proferir em Porto Alegre,
como convidado do ciclo
"Fronteiras do Pensamento",
na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS).
Lévy foi quem propôs o conceito de "inteligência coletiva"
no começo dos anos 90, quando
a internet comercial ainda engatinhava. Hoje, "sem falsa modéstia", diz que seu conceito virou um padrão.
Ao contrário do que muitos
poderiam esperar, Lévy não
acha que a web 2.0 ou web participativa, um dos principais focos de discussão atual sobre a
rede, seja uma novidade.
"A web 2.0 significa apenas
que tem muito mais gente se
apropriando da tecnologia da
internet, o que a torna um fenômeno social de massa. Significa
que não é mais necessário recorrer a intermediários ou técnicos. Do ponto vista de conceito de base não há uma grande
diferença em relação à internet
original", disse Lévy, em entrevista à Folha.
O autor de "As Tecnologias
da Inteligência" (ed. 34), "Cibercultura" (ed. 34) e "A Inteligência Coletiva" (Loyola) não
se preocupa com pensadores
que são céticos ou prudentes
em relação aos riscos da rede,
como o francês Paul Virilio. Só
para citar algumas discussões
que não o preocupam: várias
bibliotecas européias resistem
ao avanço da digitalização, temendo o poder excessivo das
companhias que deteriam seus
acervos (Google e Microsoft,
essencialmente); a proliferação
de blogs ameaça companhias
de comunicação que investem
na qualidade da informação;
direitos autorais são cada vez
mais ameaçados etc.
Sobre esse último exemplo,
Lévy solta uma gargalhada ao
ser lembrado do caso recente
do "vazamento" na rede da última edição da saga "Harry
Potter". "A ameaça aos direitos
de autor é um problema por
um lado, mas é bom por outro.
Não sou desses que são contra
o direito de autor. Sou a favor,
mas o objetivo final deve ser a
criação. O direito autoral é um
meio, não devemos confundir
um com outro", diz.
Second Life
E o Second Life, o novo fenômeno da internet? "Não sei por
que todos estão interessados
no Second Life. Do ponto de
vista conceitual, não traz absolutamente nada de novo. A única vantagem é permitir a um
maior número de pessoas interagirem, então passa a ser um
fenômeno social. Talvez [o sucesso] ocorra porque ele reproduz a vida real."
Mesmo conhecendo bem o
Brasil, o pensador de origem
tunisiana também não se impressiona com o sucesso das redes de relacionamento aqui, como o Orkut, mais que em outros países. "Não tenho detalhes sobre o sucesso do Orkut
no Brasil, mas acho que essas
comunidades representam um
capital social muito importante. Isso se desenvolve como a
urbanização", diz.
Para Lévy, a novidade com a
rede hoje está em outras áreas:
"Onde pode haver uma evolução no processo colaborativo é
nos jogos on-line. Mas, como
eles acabam sendo praticados
por fanáticos em jogos, os jornalistas acabam prestando menos atenção. Eles são um fenômeno mais importante do que
o Second Life", afirma.
O cientista diz que o fenômeno de inteligência coletiva continua a evoluir, e não só pela
cultura dos jogos. "Também se
desenvolve pela criação de programas de código aberto, pelo
desenvolvimento da memória
coletiva através de obras em
domínio público, como o Creative Commons", diz.
Para o criador de conceitos
como tecnodemocracia e cosmopédia, "isso é apenas o começo de algo muito mais importante que vai se desenvolver, que envolve a inteligência
individual preparada para ser
potencializada pela inteligência coletiva".
Esse "algo mais" é o IEML
(Information Economy Meta
Language), um projeto ambicioso que Lévy coordena, envolvendo também pesquisadores brasileiros, para o desenvolvimento de uma linguagem que
poderia expandir a rede.
Levy lembra que os portais
de busca (como Google e Yahoo) têm no máximo 20% das
informações da rede. "Essa nova linguagem permitirá indexações na internet, um acesso
maior ao conteúdo que existe
hoje na internet. Estou acabando a gramática agora", diz. "Não
é uma linguagem que será utilizada pelo grande público e vai
demorar algum tempo para que
se torne linguagem comum",
afirma.
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