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Musical faz rir com preconceitos de fantoches
Sucesso no Rio, musical "Avenida Q" ameniza tom ácido de humor politicamente incorreto com ar inocente de bonecos
Em cartaz na Broadway há seis anos, peça já ganhou três prêmios Tony; adaptação recebeu cinco indicações ao Shell no Rio
CLARICE CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Pensa em algo legal, como o
11 de Setembro: olha o aviãozinho!", diz uma ursinha de pelúcia de saia rendada. Em outra
cena, uma menina de voz meiga
e fivelas cor de rosa canta que
"todo mundo é meio racista":
"quem jamais sacaneou preto,
pardo, índio, oriental?". Ao fim
de dois atos, não sobram muitos preconceitos intocados por
"Avenida Q", 22ª parceria de
Charles Möeller e Claudio Botelho que estreia amanhã em
São Paulo após temporada de
sucesso no Rio.
De homossexuais a negros e
ex-BBBs, todos são alvos dos
fantoches. Oito atores cantam,
dançam e representam ao mesmo tempo em que manipulam
16 bonecos para contar a história de um recém-formado que
vai morar numa vila com vizinhos como um ex-ator mirim e
um gay enrustido.
"Com ar inocente, os bonecos falam verdades que ninguém assume. Com pessoas,
poderia ser grosseiro", diz o
ator André Dias, que dá a vida a
dois personagens. "Buscamos
uma alquimia perfeita para a
plateia ver no boneco a expressão que está no rosto do ator."
Além de requerer o domínio
de um quarto elemento, a manipulação, o formato diferenciado também exige preparo físico -são duas horas com o
braço erguido e 140 trocas de figurinos, de bonecos e de cenários. Dias sua tanto que troca de
roupa três vezes. Baldes de gelo
para mãos doloridas são rotina.
"É a nova moda nas academias", brinca Renata Ricci exibindo o muque que ganhou comandando os 15 bonecos que
passam por suas mãos.
Sem ter cara de quem saiu de
"Vila Sésamo", os três atores
que contracenam com os bonecos tomam certos cuidados para não resvalar em grosserias. A
solução de Claudia Netto foi a
caricaturização. "Transformei-me numa boneca, às vezes até
abro a boca como eles."
Criança esperança
Para todos os efeitos, "Avenida Q" não é um formato de musical que se espera da dupla
Möeller e Botelho, principalmente depois de algo "certinho" como "A Noviça Rebelde".
"No começo, fiquei relutante
sobre se essa coisa de bonecos
funcionaria, mas deu certo. As
pessoas também não sabem o
que esperar, se um infantil, se
um musical, se uma comédia.
Até amigos eu tive de convencer a assistir", diz Botelho.
"Não é uma peça de repertório,
como a "Noviça"."
Os três Tony na bagagem da
montagem original norte-americana, em cartaz na Broadway
há seis anos (em Londres são
três), e as cinco indicações ao
Shell no Rio parecem dizer que
a fórmula funciona.
"Gosto dessa coisa politicamente incorreta. Mas é um musical do bem apesar das brincadeiras. É um alerta. Não como
um "Criança Esperança", mas
como uma maneira divertida
de retratar certas verdades. Se
alguém ficar bravo porque tem
piada de gay, tem que ver antes
que sobra para todo mundo."
Do tom debochado do texto à
divulgação -que aposta em redes sociais, convites para blogueiros e promoções-relâmpago no Twitter-, o espetáculo
de R$ 3 milhões almeja conquistar um novo público. "É
uma peça que pode trazer para
o musical um público de comédia, que vai ver "Cócegas", que
gosta do humor do "CQC", um
pessoal mais jovem, interessado em diversão."
AVENIDA Q
Quando: a partir de amanhã; qui. a
sáb. às 21h, dom., às 19h; até 1º/11
Onde: teatro Procópio Ferreira
(r. Augusta, 2.823, tel. 0/xx/11/
3083-4475)
Quanto: de R$ 70 a R$ 90
Classificação: 14 anos
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