São Paulo, sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Musical faz rir com preconceitos de fantoches

Sucesso no Rio, musical "Avenida Q" ameniza tom ácido de humor politicamente incorreto com ar inocente de bonecos

Em cartaz na Broadway há seis anos, peça já ganhou três prêmios Tony; adaptação recebeu cinco indicações ao Shell no Rio

CLARICE CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Pensa em algo legal, como o 11 de Setembro: olha o aviãozinho!", diz uma ursinha de pelúcia de saia rendada. Em outra cena, uma menina de voz meiga e fivelas cor de rosa canta que "todo mundo é meio racista": "quem jamais sacaneou preto, pardo, índio, oriental?". Ao fim de dois atos, não sobram muitos preconceitos intocados por "Avenida Q", 22ª parceria de Charles Möeller e Claudio Botelho que estreia amanhã em São Paulo após temporada de sucesso no Rio.
De homossexuais a negros e ex-BBBs, todos são alvos dos fantoches. Oito atores cantam, dançam e representam ao mesmo tempo em que manipulam 16 bonecos para contar a história de um recém-formado que vai morar numa vila com vizinhos como um ex-ator mirim e um gay enrustido. "Com ar inocente, os bonecos falam verdades que ninguém assume. Com pessoas, poderia ser grosseiro", diz o ator André Dias, que dá a vida a dois personagens. "Buscamos uma alquimia perfeita para a plateia ver no boneco a expressão que está no rosto do ator." Além de requerer o domínio de um quarto elemento, a manipulação, o formato diferenciado também exige preparo físico -são duas horas com o braço erguido e 140 trocas de figurinos, de bonecos e de cenários. Dias sua tanto que troca de roupa três vezes. Baldes de gelo para mãos doloridas são rotina. "É a nova moda nas academias", brinca Renata Ricci exibindo o muque que ganhou comandando os 15 bonecos que passam por suas mãos.
Sem ter cara de quem saiu de "Vila Sésamo", os três atores que contracenam com os bonecos tomam certos cuidados para não resvalar em grosserias. A solução de Claudia Netto foi a caricaturização. "Transformei-me numa boneca, às vezes até abro a boca como eles."

Criança esperança
Para todos os efeitos, "Avenida Q" não é um formato de musical que se espera da dupla Möeller e Botelho, principalmente depois de algo "certinho" como "A Noviça Rebelde". "No começo, fiquei relutante sobre se essa coisa de bonecos funcionaria, mas deu certo. As pessoas também não sabem o que esperar, se um infantil, se um musical, se uma comédia. Até amigos eu tive de convencer a assistir", diz Botelho. "Não é uma peça de repertório, como a "Noviça"."
Os três Tony na bagagem da montagem original norte-americana, em cartaz na Broadway há seis anos (em Londres são três), e as cinco indicações ao Shell no Rio parecem dizer que a fórmula funciona. "Gosto dessa coisa politicamente incorreta. Mas é um musical do bem apesar das brincadeiras. É um alerta. Não como um "Criança Esperança", mas como uma maneira divertida de retratar certas verdades. Se alguém ficar bravo porque tem piada de gay, tem que ver antes que sobra para todo mundo."
Do tom debochado do texto à divulgação -que aposta em redes sociais, convites para blogueiros e promoções-relâmpago no Twitter-, o espetáculo de R$ 3 milhões almeja conquistar um novo público. "É uma peça que pode trazer para o musical um público de comédia, que vai ver "Cócegas", que gosta do humor do "CQC", um pessoal mais jovem, interessado em diversão."


AVENIDA Q

Quando: a partir de amanhã; qui. a sáb. às 21h, dom., às 19h; até 1º/11
Onde: teatro Procópio Ferreira (r. Augusta, 2.823, tel. 0/xx/11/ 3083-4475)
Quanto: de R$ 70 a R$ 90
Classificação: 14 anos


Texto Anterior: Última Moda - Alcino Leite Neto: Guy Bourdin e os labirintos do inconsciente
Próximo Texto: Cinema/Estreias/Crítica/ "Arrasta-me para o Inferno": Diretor de "Homem-Aranha" volta ao básico com filme de terror
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.