São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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RESENHA
"Aimée & Jaguar" retrata amor nos tempos da estupidez

MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Entre 1942 e 1945, uma dona de casa alemã, Elisabeth Wust, escondeu e protegeu da perseguição nazista quatro mulheres judias em Berlim. Uma delas, Felice Schragenheim, era amante de Elisabeth.
São esses os dados reais da história verídica de "Aimée & Jaguar", espécie de biografia romanceada do caso amoroso das duas mulheres. "Aimée" era o apelido de Elisabeth (também chamada Lilly). "Jaguar" era o de Felice.
No início dos anos 90, a jornalista alemã Erica Fischer procurou Elisabeth Wust -que tem hoje mais de 90 anos- em Berlim. Por meio de longas entrevistas com ela, recuperou a história de seu namoro com Felice e do destino desta nas mãos da Gestapo.
O livro de Fischer foi adaptado este ano para o cinema pelo diretor alemão Max Färberbock, com o mesmo nome de "Aimée & Jaguar". As atrizes Maria Schrader e Juliane Köhler, que interpretam Lilly e Felice, ganharam o Urso de Prata de melhor atriz no festival de cinema de Berlim.
A narrativa de Fischer oscila entre a linguagem do documento jornalístico e o tom de romance de ficção. Mas o que poderia ser um defeito resulta, neste caso, em recurso que fortalece a mensagem última de uma história real: fatalidade, impossibilidade, silêncio.
O livro conta em detalhes (inclusive com fotos da época) a vida de Lilly e Felice desde o dia em que se conheceram. Lilly, mãe de quatro filhos pequenos e mulher de um oficial do exército de Hitler, descobre o amor físico com Felice, e divorcia-se do marido para se entregar a sua relação lésbica.

Suspense
A história, que tem um clima de suspense tocante, é precisa na reconstituição da atmosfera de dupla proibição que elas viveram, a do amor e a da raça, em tempos já de racionamento, de bombardeios, de guerra.
O horror do nazismo é apresentado em sua face mais cortante: a que atingiu e separou os amantes. Exemplo disso: o momento em que Lilly tenta visitar Felice num campo de concentração.
Em 1944, Lilly escreve em seu diário: "Lerás este diário quando não fores mais a judia Schragenheim e sim uma pessoa entre pessoas. Grande Deus, deixe-nos viver ou morrer juntas, não permita que uma de nós sobre. Não aguentarei não rever minha Felice".
Cartas e poemas trocados entre as duas mulheres, trechos de diários, além de depoimentos de amigos ainda vivos, completam a pesquisa de Erica Fischer, que, no entanto, não consegue abrir portas definitivas sobre o destino de Felice. Fica a dúvida, no relato emocionante sobre mais um grande amor proibido pela estupidez humana.


Avaliação:    

Livro: Aimée & Jaguar Autor: Erica Fischer Tradução: Kristina e Regine Michahelles Lançamento: Record Quanto: R$ 32 (286 págs.)

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