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RESENHA
"Aimée & Jaguar" retrata amor nos tempos da estupidez
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Entre 1942 e 1945,
uma dona de casa
alemã, Elisabeth
Wust, escondeu e
protegeu da perseguição nazista quatro mulheres judias em Berlim.
Uma delas, Felice Schragenheim,
era amante de Elisabeth.
São esses os dados reais da história verídica de "Aimée & Jaguar", espécie de biografia romanceada do caso amoroso das
duas mulheres. "Aimée" era o
apelido de Elisabeth (também
chamada Lilly). "Jaguar" era o de
Felice.
No início dos anos 90, a jornalista alemã Erica Fischer procurou
Elisabeth Wust -que tem hoje
mais de 90 anos- em Berlim. Por
meio de longas entrevistas com
ela, recuperou a história de seu
namoro com Felice e do destino
desta nas mãos da Gestapo.
O livro de Fischer foi adaptado
este ano para o cinema pelo diretor alemão Max Färberbock, com
o mesmo nome de "Aimée & Jaguar". As atrizes Maria Schrader e
Juliane Köhler, que interpretam
Lilly e Felice, ganharam o Urso de
Prata de melhor atriz no festival
de cinema de Berlim.
A narrativa de Fischer oscila entre a linguagem do documento
jornalístico e o tom de romance
de ficção. Mas o que poderia ser
um defeito resulta, neste caso, em
recurso que fortalece a mensagem
última de uma história real: fatalidade, impossibilidade, silêncio.
O livro conta em detalhes (inclusive com fotos da época) a vida
de Lilly e Felice desde o dia em
que se conheceram. Lilly, mãe de
quatro filhos pequenos e mulher
de um oficial do exército de Hitler, descobre o amor físico com
Felice, e divorcia-se do marido
para se entregar a sua relação lésbica.
Suspense
A história, que tem um clima de
suspense tocante, é precisa na reconstituição da atmosfera de dupla proibição que elas viveram, a
do amor e a da raça, em tempos já
de racionamento, de bombardeios, de guerra.
O horror do nazismo é apresentado em sua face mais cortante: a
que atingiu e separou os amantes.
Exemplo disso: o momento em
que Lilly tenta visitar Felice num
campo de concentração.
Em 1944, Lilly escreve em seu
diário: "Lerás este diário quando
não fores mais a judia Schragenheim e sim uma pessoa entre
pessoas. Grande Deus, deixe-nos
viver ou morrer juntas, não permita que uma de nós sobre. Não
aguentarei não rever minha Felice".
Cartas e poemas trocados entre
as duas mulheres, trechos de diários, além de depoimentos de
amigos ainda vivos, completam a
pesquisa de Erica Fischer, que, no
entanto, não consegue abrir portas definitivas sobre o destino de
Felice. Fica a dúvida, no relato
emocionante sobre mais um
grande amor proibido pela estupidez humana.
Avaliação:
Livro: Aimée & Jaguar
Autor: Erica Fischer
Tradução: Kristina e Regine Michahelles
Lançamento: Record
Quanto: R$ 32 (286 págs.)
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