|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MUSEU
Obras só serão exibidas em março de 2000; insetos estavam a próximos a telas de Velázquez e Van Gogh
Cupins mantêm acervo do Masp fechado
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
As reformas no Masp (Museu
de Arte de São Paulo), que mantêm a parte principal de sua área
fechada há meses, detectaram recentemente problemas estruturais no prédio da avenida Paulista, insuspeitados semanas atrás.
"Em decadência física, completamente sucateado pela ação do
tempo", o edifício têm preocupado o presidente da instituição, o
arquiteto Júlio Neves.
Em entrevista à Folha, Neves revelou que, no início de outubro,
será realizada uma reprotensão
das imensas vigas mestras do prédio (pintadas de vermelho), para
reforçar as estruturas.
O diretor do Masp disse ainda
que a algumas dezenas de metros
de preciosas telas de Velázquez,
Van Gogh e tantos outros mestres, num acervo de 6.000 obras,
colônias de cupins com milhões
de habitantes devoravam o madeirame deixado no interior das
vigas de concreto durante a construção do edifício, na década de
60.
Desde 94 à frente do Masp, Neves tem sido reeleito sucessivamente pelos sócios do museu. Autor da avenida Nova Faria Lima
(zona sudoeste) e de projetos recentes de reurbanização de São
Paulo, ele permanece na presidência por mais um ano, pelo menos. Leia a seguir os principais
trechos de sua entrevista.
REPROTENSÃO DAS VIGAS
MESTRAS - "Nem convém falar
muito, porque pode assustar as
pessoas, mas há dois meses trabalhamos na preparação da obra e,
no início de outubro, em dois
dias, vamos reprotender as vigas
mestras que sustentam o primeiro e segundo andares. Os cabos
de ferro serão reesticados, será
como uma injeção de força. Já na
construção, o engenheiro Figueiredo Ferraz havia anunciado que,
em 30 anos, isso deveria ser feito.
Não há nenhum problema de estabilidade, temos gente do IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) acompanhando tudo. O
problema maior é que, antes de
esticar tudo, é preciso resolver o
jogo dos caixilhos dos grandes vidros do museu. Mexe-se nas vigas e os caixilhos não acompanham. Se soltarem, aí sim, vai ser
um perigo. É um quebra-cabeças,
trabalho de chinês."
INFESTAÇÃO DE CUPINS -
"Para colocar os dutos do novo
ar-condicionado nos andares superiores, hoje quase instalado,
entramos no interior das grandes
vigas, onde ninguém jamais esteve. Qual a nossa surpresa! Havia
milhões de cupins lá dentro, comendo o "caixão perdido" (madeirame que pode ou não ser deixado no interior do concreto).
Ninguém acreditaria, e por isso
mandamos filmar. Abrimos janelinhas de passagem em cada bloco da viga para limpar toda essa
madeira. Foi colocado veneno e
tapamos cada buraquinho, com
uma empresa altamente especializada. Ferraz está gerenciando,
nenhum vidro é mexido sem ele.
O IPT está fazendo uma desinsetização lá em cima, antes de esticarmos os ferros. Se a madeira
não tivesse sido deixada, o cupim
não entraria? Ou teria atacado diretamente o concreto? Não sei."
MAIS CUPINS - "O problema é
que uma obra dessas de reprotensão leva quatro, cinco meses, e eu
acho que as vigas de concreto que
sustentam os andares superiores
também estão infestadas. Estamos fazendo prospecções diárias,
é um pouco mais complicado. O
cupim ataca a madeira deixada
na viga, e em alguns casos também o concreto. Às vezes atravessa-o como uma broca."
ORÇAMENTO - "Tentamos
criar um museu dinâmico, com a
separação definitiva entre acervo
permanente, exposições temporárias e atividades didáticas.
Também se separaram os três orçamentos: o de manutenção, que
pede R$ 3 milhões por ano (R$
600 mil subvencionados pela prefeitura); o dos patrocínios para
mostras temporárias; e o da reforma. A reforma consumiu R$
14 milhões, só falta captar mais
R$ 2 milhões, tudo pelas leis de
incentivo federal e estadual.
SCANNER - "A IBM doou um
scanner que só três museus no
mundo têm. Já começamos a copiar as mil obras principais, e tudo será registrado. Estamos testando filtros especiais para as janelas, para impedir a passagem
de raios ultravioleta. Para a reserva, compramos teleiros novos e
filtros de ar de última geração."
CRESCENDO PARA BAIXO -
"Constatamos que o museu era,
afinal, muito pequeno para o
acervo. Mas imagine conseguir
mais espaço num museu tombado pelos órgãos de patrimônio
histórico. Então, abaixo da laje
inferior, tiramos 4.000 m3 de terra
e fizemos um subsolo inteiro. Para lá vão a reserva técnica, a oficina de crianças e a biblioteca especializada, que será ampliada para
52 mil volumes, mas só reabre no
ano que vem. Também acrescentamos outro elevador à caixa de
vidro e uma parada no subsolo. O
museu poderá atender o deficiente físico em toda a sua área."
FRANÇA E JAPÃO - "Não sei se
voltaremos a expor o acervo este
ano. Mas em março de 2000 tudo
deve estar pronto. No segundo
andar, serão colocados painéis
removíveis em lugar das divisões
feitas para a mostra de Monet em
97. Poderemos expor até da forma antiga, nos cavaletes de vidro.
Obras de Cézanne e Renoir foram
ao Japão, e os Natier vão a Versalhes no final do ano. Esses intercâmbios são importantíssimos.
Só assim conseguimos trazer Caravaggios, por exemplo."
ÁGUA E GÁS - "Além da impermeabilização da laje da Paulista, trocamos a parte hidráulica
dos banheiros e recuperamos
parte do segundo mezanino que
tinha vazamentos. No restaurante, trocou-se tudo, inclusive o fogão, que agora é elétrico; não pode gás num museu."
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Reforma começou em 97 Índice
|