São Paulo, Terça-feira, 14 de Setembro de 1999
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MUSEU
Obras só serão exibidas em março de 2000; insetos estavam a próximos a telas de Velázquez e Van Gogh
Cupins mantêm acervo do Masp fechado

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

As reformas no Masp (Museu de Arte de São Paulo), que mantêm a parte principal de sua área fechada há meses, detectaram recentemente problemas estruturais no prédio da avenida Paulista, insuspeitados semanas atrás. "Em decadência física, completamente sucateado pela ação do tempo", o edifício têm preocupado o presidente da instituição, o arquiteto Júlio Neves.
Em entrevista à Folha, Neves revelou que, no início de outubro, será realizada uma reprotensão das imensas vigas mestras do prédio (pintadas de vermelho), para reforçar as estruturas.
O diretor do Masp disse ainda que a algumas dezenas de metros de preciosas telas de Velázquez, Van Gogh e tantos outros mestres, num acervo de 6.000 obras, colônias de cupins com milhões de habitantes devoravam o madeirame deixado no interior das vigas de concreto durante a construção do edifício, na década de 60.
Desde 94 à frente do Masp, Neves tem sido reeleito sucessivamente pelos sócios do museu. Autor da avenida Nova Faria Lima (zona sudoeste) e de projetos recentes de reurbanização de São Paulo, ele permanece na presidência por mais um ano, pelo menos. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista.

REPROTENSÃO DAS VIGAS MESTRAS -
"Nem convém falar muito, porque pode assustar as pessoas, mas há dois meses trabalhamos na preparação da obra e, no início de outubro, em dois dias, vamos reprotender as vigas mestras que sustentam o primeiro e segundo andares. Os cabos de ferro serão reesticados, será como uma injeção de força. Já na construção, o engenheiro Figueiredo Ferraz havia anunciado que, em 30 anos, isso deveria ser feito. Não há nenhum problema de estabilidade, temos gente do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) acompanhando tudo. O problema maior é que, antes de esticar tudo, é preciso resolver o jogo dos caixilhos dos grandes vidros do museu. Mexe-se nas vigas e os caixilhos não acompanham. Se soltarem, aí sim, vai ser um perigo. É um quebra-cabeças, trabalho de chinês."

INFESTAÇÃO DE CUPINS -
"Para colocar os dutos do novo ar-condicionado nos andares superiores, hoje quase instalado, entramos no interior das grandes vigas, onde ninguém jamais esteve. Qual a nossa surpresa! Havia milhões de cupins lá dentro, comendo o "caixão perdido" (madeirame que pode ou não ser deixado no interior do concreto). Ninguém acreditaria, e por isso mandamos filmar. Abrimos janelinhas de passagem em cada bloco da viga para limpar toda essa madeira. Foi colocado veneno e tapamos cada buraquinho, com uma empresa altamente especializada. Ferraz está gerenciando, nenhum vidro é mexido sem ele. O IPT está fazendo uma desinsetização lá em cima, antes de esticarmos os ferros. Se a madeira não tivesse sido deixada, o cupim não entraria? Ou teria atacado diretamente o concreto? Não sei."

MAIS CUPINS -
"O problema é que uma obra dessas de reprotensão leva quatro, cinco meses, e eu acho que as vigas de concreto que sustentam os andares superiores também estão infestadas. Estamos fazendo prospecções diárias, é um pouco mais complicado. O cupim ataca a madeira deixada na viga, e em alguns casos também o concreto. Às vezes atravessa-o como uma broca."

ORÇAMENTO -
"Tentamos criar um museu dinâmico, com a separação definitiva entre acervo permanente, exposições temporárias e atividades didáticas. Também se separaram os três orçamentos: o de manutenção, que pede R$ 3 milhões por ano (R$ 600 mil subvencionados pela prefeitura); o dos patrocínios para mostras temporárias; e o da reforma. A reforma consumiu R$ 14 milhões, só falta captar mais R$ 2 milhões, tudo pelas leis de incentivo federal e estadual.

SCANNER -
"A IBM doou um scanner que só três museus no mundo têm. Já começamos a copiar as mil obras principais, e tudo será registrado. Estamos testando filtros especiais para as janelas, para impedir a passagem de raios ultravioleta. Para a reserva, compramos teleiros novos e filtros de ar de última geração."

CRESCENDO PARA BAIXO -
"Constatamos que o museu era, afinal, muito pequeno para o acervo. Mas imagine conseguir mais espaço num museu tombado pelos órgãos de patrimônio histórico. Então, abaixo da laje inferior, tiramos 4.000 m3 de terra e fizemos um subsolo inteiro. Para lá vão a reserva técnica, a oficina de crianças e a biblioteca especializada, que será ampliada para 52 mil volumes, mas só reabre no ano que vem. Também acrescentamos outro elevador à caixa de vidro e uma parada no subsolo. O museu poderá atender o deficiente físico em toda a sua área."

FRANÇA E JAPÃO -
"Não sei se voltaremos a expor o acervo este ano. Mas em março de 2000 tudo deve estar pronto. No segundo andar, serão colocados painéis removíveis em lugar das divisões feitas para a mostra de Monet em 97. Poderemos expor até da forma antiga, nos cavaletes de vidro. Obras de Cézanne e Renoir foram ao Japão, e os Natier vão a Versalhes no final do ano. Esses intercâmbios são importantíssimos. Só assim conseguimos trazer Caravaggios, por exemplo."

ÁGUA E GÁS -
"Além da impermeabilização da laje da Paulista, trocamos a parte hidráulica dos banheiros e recuperamos parte do segundo mezanino que tinha vazamentos. No restaurante, trocou-se tudo, inclusive o fogão, que agora é elétrico; não pode gás num museu."


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