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LIVRO/LANÇAMENTO
"CRÍTICA DA RAZÃO IMPURA OU O PRIMADO DA IGNORÂNCIA"
Escritor faz sátira mordaz de escritos de políticos
Millôr se diverte criticando Sarney e FHC
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Millôr Fernandes, "considerado por muitos o maior
galhofeiro nacional", como definem seus editores, parodia o filósofo de "Crítica da Razão Pura",
Immanuel Kant (1724-1804), para
nomear "Crítica da Razão Impura
ou O Primado da Ignorância".
É uma análise feroz e mordaz de
duas obras de dois escritores:
"Brejal dos Guajas", do ex-presidente José Sarney, e "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", o livro mais importante do sociólogo -ou melhor,
"óciologo", como diz Millôr- e
atual presidente da República,
Fernando Henrique Cardoso, o
FHC -ou melhor, FhC, um superlativo de PhD.
O autor afirma que sua nova
obra ganha este nome porque pureza é tudo o que falta na dupla
"jaça criticada". Seu intuito é se
divertir e divertir o leitor, com
uma lição de anatomia literária.
"Mas, no ato de dissecação, descobri que os autores têm razão ao
considerar seus livros como duas
obras-primas. São o primado da
ignorância", afirma.
Sem piedade, Millôr disseca cada obra, discute os estilos literários, o passado dos autores, aponta, especialmente em Sarney, erros da narrativa e de sintaxe, "solecismos em pencas", idéias que
não se completam e contradições.
E não perde a chance para fazer
piada. "Brejal é mais que obra-prima, é uma obra madrasta".
Os estudos sobre "Brejal dos
Guajas" foram publicados em
partes, em 1988, na sua coluna do
"Jornal do Brasil". Millôr afirma
que se sente enganado e estarrecido: "[O livro] é uma anedotinha
socialzinha tolinha da briguinha
de dois coroneizinhos de uma cidadezinha perdidinha no interiorzinho do MaraNHÃO".
Afirmando ser o único livro que
conhece errado do começo ao
fim, Millôr implica logo com a
primeira frase da obra ["O caminho de Brejal era longe]", faz medições, descobre que, pelas contas da narrativa, morariam 105 pessoas em cada casa da cidade.
Em seguida, ele discorre sobre o
outro, "o barroco-rococó". Millôr
logo de cara exalta suas diferenças
com FHC, "the king of the black
sweetmeat made of cocoanuts" (o
rei da cocada preta). Durante o regime militar, enquanto ele e amigos papeavam com a rapaziada
do Dops-DOI/ Codi, o atual presidente "lutava bravamente" no
Chile [onde se exilou" em sua
Mercedes, conta. Cita trechos de
"Dependência e Desenvolvimento na América Latina" impossíveis para um leitor comum e faz
comentário sobre as tais notas de
"pata" de página. O livro de Millôr
é uma piada e o riso é garantido.
Crítica da Razão Impura ou O
Primado da Ignorância
Autor: Millôr Fernandes
Editora: LPM
Quanto: R$ 14 (67 págs.)
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