São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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LIVRO/LANÇAMENTO

"CRÍTICA DA RAZÃO IMPURA OU O PRIMADO DA IGNORÂNCIA"

Escritor faz sátira mordaz de escritos de políticos

Millôr se diverte criticando Sarney e FHC

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

Millôr Fernandes, "considerado por muitos o maior galhofeiro nacional", como definem seus editores, parodia o filósofo de "Crítica da Razão Pura", Immanuel Kant (1724-1804), para nomear "Crítica da Razão Impura ou O Primado da Ignorância".
É uma análise feroz e mordaz de duas obras de dois escritores: "Brejal dos Guajas", do ex-presidente José Sarney, e "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", o livro mais importante do sociólogo -ou melhor, "óciologo", como diz Millôr- e atual presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, o FHC -ou melhor, FhC, um superlativo de PhD.
O autor afirma que sua nova obra ganha este nome porque pureza é tudo o que falta na dupla "jaça criticada". Seu intuito é se divertir e divertir o leitor, com uma lição de anatomia literária.
"Mas, no ato de dissecação, descobri que os autores têm razão ao considerar seus livros como duas obras-primas. São o primado da ignorância", afirma.
Sem piedade, Millôr disseca cada obra, discute os estilos literários, o passado dos autores, aponta, especialmente em Sarney, erros da narrativa e de sintaxe, "solecismos em pencas", idéias que não se completam e contradições.
E não perde a chance para fazer piada. "Brejal é mais que obra-prima, é uma obra madrasta".
Os estudos sobre "Brejal dos Guajas" foram publicados em partes, em 1988, na sua coluna do "Jornal do Brasil". Millôr afirma que se sente enganado e estarrecido: "[O livro] é uma anedotinha socialzinha tolinha da briguinha de dois coroneizinhos de uma cidadezinha perdidinha no interiorzinho do MaraNHÃO".
Afirmando ser o único livro que conhece errado do começo ao fim, Millôr implica logo com a primeira frase da obra ["O caminho de Brejal era longe]", faz medições, descobre que, pelas contas da narrativa, morariam 105 pessoas em cada casa da cidade.
Em seguida, ele discorre sobre o outro, "o barroco-rococó". Millôr logo de cara exalta suas diferenças com FHC, "the king of the black sweetmeat made of cocoanuts" (o rei da cocada preta). Durante o regime militar, enquanto ele e amigos papeavam com a rapaziada do Dops-DOI/ Codi, o atual presidente "lutava bravamente" no Chile [onde se exilou" em sua Mercedes, conta. Cita trechos de "Dependência e Desenvolvimento na América Latina" impossíveis para um leitor comum e faz comentário sobre as tais notas de "pata" de página. O livro de Millôr é uma piada e o riso é garantido.


Crítica da Razão Impura ou O Primado da Ignorância    
Autor: Millôr Fernandes
Editora: LPM
Quanto: R$ 14 (67 págs.)




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