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SONARSOUND
Instalações e exposições multimídia ampliaram interesse do público para fora dos limites das pistas de dança
Arte eletrônica seduz além da música
GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Nem era preciso gostar só de
música eletrônica para entrar no
clima. O sonarsound SP, no Instituto Tomie Ohtake, funcionou
bem como o evento multimídia
por excelência que é -e não só
como série de apresentações musicais de ponta.
Havia entre os cinco andares do
edifício ocupados pelo festival
uma diversidade de ofertas e gêneros que atendia a múltiplos interesses: as exposições de arte digital e eletrônica, assim como os
debates, também foram um forte
chamariz de público.
"Meu interesse no sonar foi o
seu conceito de linguagem. O festival não é específico. A parte musical é a parte fugaz. Para entender
o que está acontecendo aqui, o seu
significado, os debates são muito
importantes, mostram a alma e a
formação dessa festa", teoriza o
designer gráfico Rafael Cardoso
Mota, 23, que privilegiou a programação de discussões e se programou com antecedência para
assistir a alguns debates.
Houve até quem, a par da programação, comparecesse ao instituto apenas para ver um palestrante específico. A estudante de
psicologia Maíra Ribeiro Spilak,
25, por exemplo, pagou a entrada
só para ouvir a psicanalista e ensaísta de arte Suely Rolnik, no debate "Enfrentamento da Vertigem da Grande Cidade - a Realidade Gerando Potência e Intensidade na Arte", realizada no sábado. "Até vou passar depois nos
shows, mas eu vim aqui só para
ouvir a Suely. Acho que ela faz um
boa análise da evolução das tendências nas artes."
Coordenadora da revista canadense "Parachute", que no sonarsound lançou edição sobre movimentos artísticos em São Paulo,
Suely discutiu a relação de arte
com a cidade, sublinhando a todo
momento "a incansável potência
de produção de São Paulo.
O primeiro andar e o subsolo do
instituto, que abrigaram as sete
salas com exposições multimídias, também não funcionaram
apenas como um hall de passagem, ou a ilustração daquilo que o
sonar vende como seu principal
produto, a música.
Um dos pontos de concentração de filas foi a instalação "Banho Turco" da dupla Tetine, com
vídeos projetados em quatro paredes, em que homens tomam banho enquanto discutem frivolidades, concentrou pequenas filas.
No domingo, a apresentação que
a dupla Bruno Verner e Eliete Mejorado realizou no espaço provocou superlotação.
Dos trabalhos que utilizaram o
celular como suporte de expressão, o mais concorrido foi a instalação "Constelações", do grupo
Re:Combo na qual se podia enviar uma mensagem de texto pelo
telefone móvel e depois vê-la
transformada em uma estrela numa constelação projetada no teto.
O caráter interativo da mostra e
até mesmo a presença de crianças
dava ao festival o clima de um pequeno parque de diversões. Mônica Bouqvar, representante da
galeria Nara Roesler, por exemplo, chegou às 15h30 do sábado,
depois de passar a noite dançando no sonar do Credicard Hall e a
manhã trabalhando, para relaxar
com a programação de artes visuais. "Vim aqui bem à toa e não
estou conseguindo parar em pé.
Para me soltar um pouco, fiquei
um tempo destruindo a parede do
Luiz Duva", comenta, referindo-se à instalação localizada no subsolo do instituto. O trabalho consistia na imagem projetada de
uma parede que podia ser demolida e reconstruída por meio de
controles. O som da demolição,
freqüentemente, era ouvido por
quem passava pelo lado de fora da
exposição.
Já a produtora de eventos Elisa
Santa Rita, 39, foi ao Tomie Ohtake com um objetivo muito diferente da maior parte do público
presente: fazer um passeio instrutivo com sua filha Clara, de um
ano e meio. "Eu levo minha filha
para várias exposições. Quero
acostumá-la desde cedo." E a pequena Clara, sob o olhar atento da
mãe, corria pelas salas e corredores, explorando os cantos escuros,
fazendo suas performances e desviando a atenção das obras. Algo
assim, dominical.
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