São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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SONARSOUND

Instalações e exposições multimídia ampliaram interesse do público para fora dos limites das pistas de dança

Arte eletrônica seduz além da música

GUSTAVO FIORATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nem era preciso gostar só de música eletrônica para entrar no clima. O sonarsound SP, no Instituto Tomie Ohtake, funcionou bem como o evento multimídia por excelência que é -e não só como série de apresentações musicais de ponta.
Havia entre os cinco andares do edifício ocupados pelo festival uma diversidade de ofertas e gêneros que atendia a múltiplos interesses: as exposições de arte digital e eletrônica, assim como os debates, também foram um forte chamariz de público.
"Meu interesse no sonar foi o seu conceito de linguagem. O festival não é específico. A parte musical é a parte fugaz. Para entender o que está acontecendo aqui, o seu significado, os debates são muito importantes, mostram a alma e a formação dessa festa", teoriza o designer gráfico Rafael Cardoso Mota, 23, que privilegiou a programação de discussões e se programou com antecedência para assistir a alguns debates.
Houve até quem, a par da programação, comparecesse ao instituto apenas para ver um palestrante específico. A estudante de psicologia Maíra Ribeiro Spilak, 25, por exemplo, pagou a entrada só para ouvir a psicanalista e ensaísta de arte Suely Rolnik, no debate "Enfrentamento da Vertigem da Grande Cidade - a Realidade Gerando Potência e Intensidade na Arte", realizada no sábado. "Até vou passar depois nos shows, mas eu vim aqui só para ouvir a Suely. Acho que ela faz um boa análise da evolução das tendências nas artes."
Coordenadora da revista canadense "Parachute", que no sonarsound lançou edição sobre movimentos artísticos em São Paulo, Suely discutiu a relação de arte com a cidade, sublinhando a todo momento "a incansável potência de produção de São Paulo.
O primeiro andar e o subsolo do instituto, que abrigaram as sete salas com exposições multimídias, também não funcionaram apenas como um hall de passagem, ou a ilustração daquilo que o sonar vende como seu principal produto, a música.
Um dos pontos de concentração de filas foi a instalação "Banho Turco" da dupla Tetine, com vídeos projetados em quatro paredes, em que homens tomam banho enquanto discutem frivolidades, concentrou pequenas filas. No domingo, a apresentação que a dupla Bruno Verner e Eliete Mejorado realizou no espaço provocou superlotação.
Dos trabalhos que utilizaram o celular como suporte de expressão, o mais concorrido foi a instalação "Constelações", do grupo Re:Combo na qual se podia enviar uma mensagem de texto pelo telefone móvel e depois vê-la transformada em uma estrela numa constelação projetada no teto.
O caráter interativo da mostra e até mesmo a presença de crianças dava ao festival o clima de um pequeno parque de diversões. Mônica Bouqvar, representante da galeria Nara Roesler, por exemplo, chegou às 15h30 do sábado, depois de passar a noite dançando no sonar do Credicard Hall e a manhã trabalhando, para relaxar com a programação de artes visuais. "Vim aqui bem à toa e não estou conseguindo parar em pé. Para me soltar um pouco, fiquei um tempo destruindo a parede do Luiz Duva", comenta, referindo-se à instalação localizada no subsolo do instituto. O trabalho consistia na imagem projetada de uma parede que podia ser demolida e reconstruída por meio de controles. O som da demolição, freqüentemente, era ouvido por quem passava pelo lado de fora da exposição.
Já a produtora de eventos Elisa Santa Rita, 39, foi ao Tomie Ohtake com um objetivo muito diferente da maior parte do público presente: fazer um passeio instrutivo com sua filha Clara, de um ano e meio. "Eu levo minha filha para várias exposições. Quero acostumá-la desde cedo." E a pequena Clara, sob o olhar atento da mãe, corria pelas salas e corredores, explorando os cantos escuros, fazendo suas performances e desviando a atenção das obras. Algo assim, dominical.


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