BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Por que vamos ao cinema? Ou, hoje em dia, por que nos abrigamos em videolocadoras e agimos como crianças em loja de chocolate nos feirões de DVDs?
São várias as respostas. A mais provável é aquela que diz respeito à arte como um todo, essa possibilidade de transcendência do humano. Com as imagens e os sons do cinema, há uma amplificação: a vida encontra sua representação, imitação e substituição. Tudo porque vemos modelos de comportamento que são devorados como pipoca. A experiência do espectador passa, assim, perto de uma das várias utopias do homem: o sonho de viver, e ver, várias vidas em uma.
Essa discussão, tão metafísica quanto básica no cinema, é pertinente especialmente hoje na TV paga, com vários filmes que tocam nesse desejo de fuga, em um plano mais, digamos, concreto.
A possibilidade de abandonar a vida comezinha em favor de uma ilusão -com a grande chance de encontrar, enfim, a felicidade- move a protagonista do belo "As Pontes de Madison" (HBO, 18h30), uma dona-de-casa que vê um filme passar em sua cabeça quando conhece o forasteiro Clint Eastwood. Algo semelhante ocorre em "Dança Comigo?" (Cinemax, 18h15), onde um contido japonês, funcionário padrão de uma empresa, busca na dança algum combustível que ilumine novamente seu morto dia-a-dia.
São personagens que, como um diretor de cinema, quebram a cabeça na montagem e edição de suas próprias realidades, como fica ainda mais evidente em "Sob o Sol da Toscana" (HBO, 23h45) e "Dogville" (Telecine Emotion, 22h45), filmes que mostram como "começar uma vida nova" é um belo slogan publicitário. À este último, somos lembrados da impossibilidade dessa transferência. Por isso "Quero Ser John Malkovich" (A&E Mundo, 18h30; 24h) é a exacerbação do absurdo, com o portal que leva à mente do personagem-título. Mas convém lembrar que a empreitada não é de todo bem-sucedida. Como os tropeços da vida.

Pouco antes da era blockbuster

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Na prática, a carreira de Franklin J. Schaffner teve 13 anos, de "O Senhor da Guerra" (1965) a "Os Meninos do Brasil" (1978). No fim da década de 70, entra, com outros bons (ou ótimos) diretores americanos, em melancólico declínio.
Bem, esse final de década marca a ascensão do blockbuster e, com ele, da idéia de que os filmes devem ser feitos para adolescentes. Foi um sucesso para a indústria americana, sabe-se, e uma desgraça para o cinema, sabe-se também.
Belo documento desse final de era é "A Ilha do Adeus" (TC Classic, 0h40), tocante reencontro entre um pai que vive isolado numa ilha e seus dois filhos.
Acrescentemos a isso que quem faz o papel do pai é George C. Scott, o magnífico, e temos no total um filme adulto, difícil de ser feito e agradável de ser visto.

TV ABERTA

Anel Mágico
Record, 14h.
(Johnny Mysto - Boy Wizard). EUA, 1996, 88 min. Direção: Jeff Burr. Com Toran Caudell, Patrick Renna. Jovem cujo sonho é se tornar um grande mágico recebe de presente o anel de Merlin, o mago da lenda do rei Arthur. O garoto vira de fato um grande mágico, até que o irmão desaparece. Fazê-lo reaparecer é a questão.

Vôo da Fantasia
Globo, 15h40.
(Flight of Fancy). EUA, 1999, 92 min. Direção: Noel Quinones. Com Dean Cain, Talisa Soto, Miguel Sandoval, Juan Piedrahita. Piloto (Cain) faz pouso forçado em ilha tradicionalista, onde Mercedes (Soto), mãe solteira, prepara-se para casamento seguro. A chegada do piloto servirá para lembrar-nos que nada é seguro, e o tal casamento, muito menos.

O Médico Erótico
SBT, 2h40.
(The Man with Two Brains). EUA, 1983, 90 min. Direção: Carl Reiner. Com Steve Martin, Kathleen Turner, David Warner. Martin é o notório neurocirurgião que procura um novo cérebro para a mulher que ama. Carl Reiner brinca com os filmes de cientista louco, mas, como de costume, na parceria entre ambos, Martin é quem segura a peteca com brilho.

Intercine
Globo, 1h50.
Dois inéditos concorrem ao direito de passar na quarta-feira: "Impostor" (2002, de Gary Fleder, com Gary Sinise, Madeleine Stowe) e "Lendas da Vida" (2000, de Robert Redford, com Will Smith, Matt Damon, Charlize Theron).

As Peripécias de um Ratinho Detetive
SBT, 3h30.
(The Great Mouse Detective). Direção: Ron Clements e outros. Desenho animado que se tornou famoso por ser o primeiro em que a Disney utilizou fartamente tecnologia digital. A história se passa no fim do século 19, quando o pai da ratinha Olivia acaba sendo seqüestrado em Londres. Ela não tem dúvidas e apela para Basil, o Sherlock Holmes dos roedores. Só para São Paulo. (IA)


Texto Anterior: Astrologia
Próximo Texto: José Simão: Buemba! Lula vai pra Guatemala e Cuecala!
Índice