São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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FILOSOFIA

Francês participou de ciclo

Intelectual se cala por dilemas, diz Wolff

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Os intelectuais estão calados porque nunca tiveram tanta consciência dos dilemas de sua função. Essa foi a conclusão da palestra que o filósofo francês Francis Wolff fez anteontem, no Rio, dentro do seminário "O Silêncio dos Intelectuais".
"O intelectual de hoje sabe que aquele que interfere em todos os meios [como Sartre] já se foi. O que age sobre temas específicos se confunde com o perito e é apenas consultado de vez em quando", disse o filósofo. "Ele também aprendeu a desconfiar de todo poder, inclusive do próprio. E sente o peso dos sonhos e das utopias, porque eles deram em totalitarismos e frustrações", avaliou ele, falando em português [foi professor da USP] e ainda encontrando uma nota de otimismo.
"Não é um silêncio do sono, da renúncia, mas do tempo da respiração, da reflexão ou de um ciclo de conferências como esse", disse, fazendo coro com o que Marilena Chaui quis dizer, na abertura do seminário, ao afirmar que "há momentos em que o silêncio é o dever de um intelectual".
Autor de vários estudos sobre os filósofos da Grécia antiga, Wolff recorreu ao conflito entre Sócrates e os sofistas, no século 5 a.C., para explorar o tema "Dilemas Trágicos do Intelectual".
Os contornos e as contradições da figura do intelectual já teriam sido traçados naquele tempo, muitos séculos antes de Émile Zola escrever o manifesto "J'Accuse", em 1898.
Sócrates seria o pensador que "não fala em seu nome, mas de todos"; que está "dentro da política, mas na margem", porque não aceita qualquer cargo público, mantendo sua independência e as condições para que seja a voz crítica do espaço público.
Já os sofistas eram ardorosos defensores da democracia ateniense, ao contrário de Sócrates; recebiam dinheiro para ensinar, fato malvisto então; e engajavam-se nas questões da cidade. Para Wolff, os intelectuais do século 20 seguiram uma ou outra linhagem, mas hoje é claro que uma não pode excluir a outra.
"Os intelectuais não podem mais escolher entre uma ética da convicção radical [de Sócrates], que não leva a nada, ou uma da responsabilidade [dos sofistas], que leva cedo ou tarde à traição do papel do intelectual", disse ele.
Wolff, que falaria ontem à noite em São Paulo, tem palestras hoje, em Belo Horizonte, e amanhã, em Salvador.


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