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FILOSOFIA
Francês participou de ciclo
Intelectual se cala por dilemas, diz Wolff
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Os intelectuais estão calados
porque nunca tiveram tanta consciência dos dilemas de sua função.
Essa foi a conclusão da palestra
que o filósofo francês Francis
Wolff fez anteontem, no Rio, dentro do seminário "O Silêncio dos
Intelectuais".
"O intelectual de hoje sabe que
aquele que interfere em todos os
meios [como Sartre] já se foi. O
que age sobre temas específicos se
confunde com o perito e é apenas
consultado de vez em quando",
disse o filósofo. "Ele também
aprendeu a desconfiar de todo
poder, inclusive do próprio. E
sente o peso dos sonhos e das utopias, porque eles deram em totalitarismos e frustrações", avaliou
ele, falando em português [foi
professor da USP] e ainda encontrando uma nota de otimismo.
"Não é um silêncio do sono, da
renúncia, mas do tempo da respiração, da reflexão ou de um ciclo
de conferências como esse", disse,
fazendo coro com o que Marilena
Chaui quis dizer, na abertura do
seminário, ao afirmar que "há
momentos em que o silêncio é o
dever de um intelectual".
Autor de vários estudos sobre
os filósofos da Grécia antiga,
Wolff recorreu ao conflito entre
Sócrates e os sofistas, no século 5
a.C., para explorar o tema "Dilemas Trágicos do Intelectual".
Os contornos e as contradições
da figura do intelectual já teriam
sido traçados naquele tempo,
muitos séculos antes de Émile Zola escrever o manifesto "J'Accuse", em 1898.
Sócrates seria o pensador que
"não fala em seu nome, mas de todos"; que está "dentro da política,
mas na margem", porque não
aceita qualquer cargo público,
mantendo sua independência e as
condições para que seja a voz crítica do espaço público.
Já os sofistas eram ardorosos
defensores da democracia ateniense, ao contrário de Sócrates;
recebiam dinheiro para ensinar,
fato malvisto então; e engajavam-se nas questões da cidade. Para
Wolff, os intelectuais do século 20
seguiram uma ou outra linhagem,
mas hoje é claro que uma não pode excluir a outra.
"Os intelectuais não podem
mais escolher entre uma ética da
convicção radical [de Sócrates],
que não leva a nada, ou uma da
responsabilidade [dos sofistas],
que leva cedo ou tarde à traição
do papel do intelectual", disse ele.
Wolff, que falaria ontem à noite
em São Paulo, tem palestras hoje,
em Belo Horizonte, e amanhã, em
Salvador.
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