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Pianista acusa Neschling de furtar música
Ex-parceiro musical do maestro, Ilan
Rechtman diz não ter recebido o crédito
pelo tema do programa "Roda Viva";
Neschling rebate as acusações
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O maestro John Neschling e
o pianista Ilan Rechtman eram
tão próximos que compuseram
duas músicas a quatro mãos
-as trilhas do filme "Desmundo" e da novela "Esperança".
Agora, Rechtman revela que
compôs pelo menos uma música que Neschling diz ter feito
sozinho: a do programa "Roda
Viva", da TV Cultura. "Escrevi a
música sozinho, mas Neschling
apresentou-a à TV Cultura como se fosse dele", diz à Folha.
Inimigo do maestro desde
que foi demitido da direção do
Concurso Internacional de
Piano Villa-Lobos, em abril, o
pianista, que admitiu ter adulterado a nota de um jurado, começa a revelar os bastidores da
mais importante orquestra
brasileira, a Osesp (Orquestra
Sinfônica do Estado de São
Paulo). Diz que a Osesp não é
transparente e que orquestras
com um orçamento anual similar (R$ 57 milhões) pagam o
dobro a seus músicos.
Rechtman, 43, um israelense
que já tocou com a Orquestra
de Londres, trabalhou com o
celista Yo-Yo Ma e já teve composições regidas por Zubin
Mehta, conta que os CDs da
Osesp, gravados pelo selo Bis,
são pagos com dinheiro público, mas o lucro da venda fica
para a empresa sueca.
FOLHA - Que tipo de relação o sr. tinha com John Neschling?
ILAN RECHTMAN - Conheço John
Neschling há quase cinco anos.
Tivemos uma relação tanto
pessoal quanto profissional.
Escrevemos juntos a trilha para o filme "Desmundo" e a música da novela "Esperança".
Iniciei uma série de concertos
de música de câmara na Sala
São Paulo que tem sido um sucesso nesses últimos anos.
FOLHA - Como o sr. foi escolhido
para ser o diretor do concurso?
RECHTMAN - Comecei a trabalhar no concurso de piano em
abril de 2005. Seis meses antes
Neschling me pediu que escrevesse a música de abertura do
programa "Roda Viva", o que
fiz, mas nessa época ele evitou
me pagar ou até me dar créditos. Escrevi a música sozinho
no estúdio da minha casa, mas
Neschling apresentou-a à TV
Cultura como se fosse dele.
Apesar de vários pedidos meus,
ele nunca me deu crédito nem
me compensou por isso. Em
março de 2005, eu o encontrei
para almoçar e toquei no assunto e também disse a ele que
iria começar uma nova série de
música de câmara fora da Sala
São Paulo. Ele não gostou da
idéia, pois provavelmente sentiu que essa nova série competiria com aquela que eu dirigia
na Sala São Paulo. Ele me pediu
para esperar duas semanas.
Quando achei que iria me compensar pelo trabalho do "Roda
Viva", ele me ofereceu o cargo
de diretor do concurso. Disse
que eu tinha três horas para
pensar na proposta. Aceitei
porque me envolvi em concursos internacionais por mais de
20 anos como candidato e júri.
FOLHA - Por que o sr. não processou Neschling por essa música?
RECHTMAN - Não o processei
porque ele me deu a direção do
concurso. Não me sentia à vontade para processá-lo. Nem sei
se o farei agora. O problema é
que minha mulher trabalha como violoncelista da Osesp.
Mesmo sem um processo judicial, as coisas estão ficando
muito desconfortáveis para ela.
FOLHA - Um orçamento de R$ 2,3
milhões não é alto para um concurso internacional de piano?
RECHTMAN - Claro que é. Neste
ano foram realizados 300 concursos internacionais de piano,
e o da Osesp é provavelmente o
mais caro. Não entendo para
onde foi esse dinheiro. Quando
comecei a trabalhar no concurso, me disseram que eu tinha
US$ 100 mil para a publicidade
internacional. Logo depois, um
novo administrador disse que
eram US$ 25 mil. Cerca de US$
70 mil foram reservados para
publicidade local, mas parece
não terem sido usados. Quando
pedi um telefone para fazer ligações para fora do Brasil, levou quase um ano.
Fiz todas as
ligações internacionais do concurso de minha casa. Nunca me
deram um escritório. Levou
dez meses para me darem uma
mesa. Quando pedi um armário para colocar os formulários
dos candidatos, eles me disseram que não poderia tê-lo.
Acho que o público deveria saber como o dinheiro foi gasto.
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