|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Biografia de Chiquinha Gonzaga
traz detalhes de fim de romance
Livro de Edinha Diniz volta com mais documentos, como autos de divórcio
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Praticamente tudo o que se
sabe hoje sobre a vida transgressora de Chiquinha Gonzaga (1847-1935) apareceu na biografia publicada em 1984 pela
pesquisadora Edinha Diniz.
Comemorar os 25 anos de
"Chiquinha Gonzaga - Uma
História de Vida" já seria um
bom motivo para uma reedição,
mas o livro ainda volta com
mais novidades.
Diniz pôs os olhos em fevereiro passado nos autos do divórcio da compositora, que estavam até então com acesso
restrito no arquivo da Cúria
Metropolitana do Rio.
A documentação mostra que
em 1877, aos 29 anos, Chiquinha foi condenada pelo Tribunal Eclesiástico do Bispado do
Rio à separação perpétua do
marido por abandono do lar (e
de três filhos) e adultério.
Ao assumir o relacionamento com João Batista de Carvalho -cujo nome foi revelado na
edição de 1984- e pôr a maternidade em segundo plano, Chiquinha adotou uma liberdade
inimaginável para o século 19.
Fotos dela em grupos apenas
formados por homens, presentes no novo volume, ilustram
essa personalidade deslocada
no seu tempo.
"Agora, eu reescrevi de um
modo mais explícito o capítulo
do fim do casamento, chamando o João Batista, inclusive, de
seu amante, pois está comprovado", conta Diniz, que refez os
textos também para trocar o
tom de "estudo de gênero" que
havia na versão anterior por
um mais leve, de "pesquisa de
música popular".
Filha de escravos
Ela ainda localizou, para a
nova edição, os papéis do casamento dos pais de Chiquinha,
realizado em sigilo após 17 anos
de união, e o "assentamento de
batismo" da mãe da compositora, Rosa, filha de escravos que
foi alforriada ao nascer.
E também reescreveu as páginas referentes à última união
da autora de "Ó Abre Alas", com
João Batista Lage, 36 anos mais
novo do que ela. Ele era tratado
publicamente como seu filho
adotivo, arranjo que Diniz desmontou.
Todos esses componentes
indicam por que a vida de Chiquinha fascina muita gente e já
virou peça de sucesso, minissérie de TV e enredos de duas escolas de samba do Rio.
E ainda há a música. Pianista
que transitava entre uma base
formal e os temas populares,
revolucionária por causa do
"Corta Jaca" -tango que, contra a liturgia de então, foi tocado a partir de 1914 na sede da
Presidência do República e nos
salões elegantes-, ela produziu
centenas de composições, parte delas para 77 peças de teatro.
O tamanho da produção só se
saberá quando o IMS (Instituto
Moreira Salles) concluir o trabalho de catalogação e digitalização do acervo de Chiquinha.
Os registros são a fonte principal da pesquisa que Diniz iniciou na década de 70. Ainda
neste mês deve entrar no site
da instituição uma página dedicada ao acervo, e interessados
já podem consultá-lo pessoalmente ou por e-mail.
CHIQUINHA GONZAGA -
UMA HISTÓRIA DE VIDA
Autora: Edinha Diniz
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 39,90 (316 págs.)
Texto Anterior: Bienal do livro abre com best-sellers e famosos Próximo Texto: Música: Elton John estuda adotar criança Índice
|