São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2010

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Sankai Juku traz o melhor do butô contemporâneo

Mais conhecida companhia japonesa de dança no mundo apresenta em São Paulo "Tobari", peça inspirada nos ciclos do tempo e da natureza

Ensaios foram feitos sem espelho e sem música para estimular a concentração dos oito bailarinos do grupo


MORRIS KACHANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Abrem-se as cortinas. A luz se projeta lentamente sobre um homem de cabeça raspada e corpo inteiramente coberto de pó branco. Outros sete a ele irão se juntar.
Como se fossem estátuas, seus movimentos serão lentos, às vezes imperceptíveis, limitando-se por exemplo aos dedos de uma mão ou do pé. As expressões faciais nos convidarão a diferentes estados de espírito. Tristeza. Dor. Mistério. Salvação. Êxtase.
Assistir a um espetáculo do grupo de dança Sankai Juku, que se apresenta de hoje a quinta no teatro Alfa, é uma experiência única.
Essa é a mais conhecida companhia de butô no mundo, tendo se apresentado em mais de 40 países e 700 cidades ao longo de 35 anos de estrada, e conquistado ilustres admiradores como a coreógrafa e bailarina Pina Bausch (1940-2009).
As bases do butô foram lançadas pelos mestres Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno, no Japão pós-Segunda Guerra. Era uma dança-protesto que resgatava elementos fundamentais da tradição cultural, mas de forma inovadora, se entrelaçando com os movimentos de vanguarda europeus e trazendo à tona temas tabus que expunham as feridas da sociedade após o cataclismo nuclear.
Passado meio século, hoje o butô é muito mais uma arte de transcendência e meditação. Um conceito absolutamente diferenciado ao que o mundo ocidental está acostumado a chamar de dança.

SEM ESPELHOS
Nos ensaios do Sankai não há espelho, não há música. É para que nenhum dos bailarinos se olhe e tente corrigir o movimento através da imagem. O processo exige, claro, muita concentração e incontáveis repetições.
Isso explica por que muitas vezes os movimentos são tão lentos. Há também uma busca incansável pela simplicidade, que requer um corpo em estado de relaxamento avançado.
No palco os bailarinos aparecem de branco para que não haja distinção entre os sexos. São criaturas ambíguas, masculinas ou femininas. A maioria das roupas e do cenário são produzidos pelos próprios bailarinos.
Em "Tobari", espetáculo que será apresentado em São Paulo, teremos, por exemplo, uma cortina com 6.600 pequenos furos aplicados a ela pelos bailarinos. São as estrelas que iluminam o céu de agosto no Polo Norte...
Tobari significa a passagem da tarde para a noite. É um momento de transição. Espaço para se meditar sobre o tempo e suas transformações. E as estrelas, que emitem um brilho que só pode ser visto por nós milhares de anos depois.
À frente do Sankai desde 75, Ushio Amagatsu dirige, coreografa e desenha roupas e cenários da companhia. A essência de seu trabalho, explica, consiste no que chama de diálogo com a gravidade.
"Pense em um bebê, leva um ano para ficar em pé! Na medida do tempo suas áreas de contato com a terra vão diminuindo. Ele começa deitado, depois engatinhando, para finalmente se firmar com as pernas. Ou seja, de peixinho no ventre da mãe, ele se transforma em réptil, em quadrúpede e em bípede.
Todo aquele contato com a terra vai parar em dois pontos. Para mim, isto define o homem. Eu procuro reconstruir este processo", diz ele. E conclui: "No Ocidente a busca é pelos passos mais difíceis, enquanto no butô buscamos os mais simples. A economia de energia é fundamental".


SANKAI JUKU

QUANDO de hoje a quinta, às 21h
ONDE teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 0/xx/ 11/5693-4000)
QUANTO de R$ 30 a R$ 120
CLASSIFICAÇÃO não informada




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