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Sankai Juku traz o melhor do butô contemporâneo
Mais conhecida companhia japonesa de dança no mundo apresenta em São Paulo "Tobari", peça inspirada nos ciclos do tempo e da natureza
Ensaios foram feitos sem espelho e sem música para estimular a concentração dos oito bailarinos do grupo
MORRIS KACHANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Abrem-se as cortinas. A
luz se projeta lentamente sobre um homem de cabeça
raspada e corpo inteiramente
coberto de pó branco. Outros
sete a ele irão se juntar.
Como se fossem estátuas,
seus movimentos serão lentos, às vezes imperceptíveis,
limitando-se por exemplo
aos dedos de uma mão ou do
pé. As expressões faciais nos
convidarão a diferentes estados de espírito. Tristeza. Dor.
Mistério. Salvação. Êxtase.
Assistir a um espetáculo
do grupo de dança Sankai Juku, que se apresenta de hoje
a quinta no teatro Alfa, é uma
experiência única.
Essa é a mais conhecida
companhia de butô no mundo, tendo se apresentado em
mais de 40 países e 700 cidades ao longo de 35 anos de estrada, e conquistado ilustres
admiradores como a coreógrafa e bailarina Pina Bausch
(1940-2009).
As bases do butô foram
lançadas pelos mestres Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno,
no Japão pós-Segunda Guerra. Era uma dança-protesto
que resgatava elementos
fundamentais da tradição
cultural, mas de forma inovadora, se entrelaçando com os
movimentos de vanguarda
europeus e trazendo à tona
temas tabus que expunham
as feridas da sociedade após
o cataclismo nuclear.
Passado meio século, hoje
o butô é muito mais uma arte
de transcendência e meditação. Um conceito absolutamente diferenciado ao que o
mundo ocidental está acostumado a chamar de dança.
SEM ESPELHOS
Nos ensaios do Sankai não
há espelho, não há música. É
para que nenhum dos bailarinos se olhe e tente corrigir o
movimento através da imagem. O processo exige, claro,
muita concentração e incontáveis repetições.
Isso explica por que muitas vezes os movimentos são
tão lentos. Há também uma
busca incansável pela simplicidade, que requer um
corpo em estado de relaxamento avançado.
No palco os bailarinos
aparecem de branco para
que não haja distinção entre
os sexos. São criaturas ambíguas, masculinas ou femininas. A maioria das roupas e
do cenário são produzidos
pelos próprios bailarinos.
Em "Tobari", espetáculo
que será apresentado em São
Paulo, teremos, por exemplo, uma cortina com 6.600
pequenos furos aplicados a
ela pelos bailarinos. São as
estrelas que iluminam o céu
de agosto no Polo Norte...
Tobari significa a passagem da tarde para a noite. É
um momento de transição.
Espaço para se meditar sobre
o tempo e suas transformações. E as estrelas, que emitem um brilho que só pode
ser visto por nós milhares de
anos depois.
À frente do Sankai desde
75, Ushio Amagatsu dirige,
coreografa e desenha roupas
e cenários da companhia. A
essência de seu trabalho, explica, consiste no que chama
de diálogo com a gravidade.
"Pense em um bebê, leva
um ano para ficar em pé! Na
medida do tempo suas áreas
de contato com a terra vão diminuindo. Ele começa deitado, depois engatinhando,
para finalmente se firmar
com as pernas. Ou seja, de
peixinho no ventre da mãe,
ele se transforma em réptil,
em quadrúpede e em bípede.
Todo aquele contato com a
terra vai parar em dois pontos. Para mim, isto define o
homem. Eu procuro reconstruir este processo", diz ele.
E conclui: "No Ocidente a
busca é pelos passos mais difíceis, enquanto no butô buscamos os mais simples. A
economia de energia é fundamental".
SANKAI JUKU
QUANDO de hoje a quinta, às 21h
ONDE teatro Alfa (r. Bento Branco
de Andrade Filho, 722, tel. 0/xx/
11/5693-4000)
QUANTO de R$ 30 a R$ 120
CLASSIFICAÇÃO não informada
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