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TEATRO
Dirigido por Paulo de Moraes, grupo do Rio abre temporada no Sesc Belenzinho com peça que discute fé e intolerância
Armazém revela sua identidade forjada aos 18 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
O espetáculo mais recente da
Armazém Cia. de Teatro, "A Caminho de Casa" (2004), deixa
transparecer uma identidade estética forjada em seus 18 anos. É o
que o público paulistano poderá
constatar na temporada que começa hoje no Sesc Belenzinho.
São três atos. No primeiro, a
ação se passa nos arredores de
uma grande cidade. Um engarrafamento é evidenciado pela carcaça de seis automóveis cortados
pela metade, preservando-se o lugar do motorista. Há vários efeitos sonoros e visuais, culminando
com uma explosão.
No segundo, é como se a história girasse para a vida no subúrbio, na vila, onde uma mercearia e
uma casa surgem também incompletas em suas arquiteturas.
No terceiro ato, por fim, o espaço
é dominado pelo vazio, onde elementos como a terra, a água e o
fogo parecem traduzir a essência
do trabalho físico dos intérpretes
em meio ao barro.
A essa curva espacial e visual, o
diretor Paulo de Moraes e o dramaturgo Maurício Arruda Mendonça criaram uma estrutura
narrativa de base existencial, na
qual o homem questiona a fé em
si mesmo e a fé que deposita num
deus presumido, em nome do
qual comete atos como um atentado terrorista. Segundo o diretor,
o congestionamento inicial serve
para pontuar as outras duas partes da peça. "Poderia ser num engarrafamento ou dentro de um
elevador, o fato é que essas pessoas serão obrigadas a se aproximar, gerando amizade ou intolerância, por exemplo", diz Moraes,
40 anos, quase metade deles dedicada ao teatro.
São personagens os mais diversos, como uma lutadora de telecatch, um legista, um taxista e
uma noiva atrasada para o casamento. Para o diretor, a facilidade
de o ser humano se envolver com
o outro é a mesma com a qual ele
o rejeita.
O segundo fragmento apresenta
uma fábula sobre a tolerância. Ao
lado de um bordel de prostitutas
francesas, a solidão e a dor da perda une, inesperadamente, um velho e um menino.
Na terceira história, uma mãe
conversa com Deus sobre fé e
chora a morte de seu filho, ligado
à explosão do ônibus projetada
no início da peça. O drama salta a
tragédia contemporânea de homens e mulheres que, no limite,
explodem a si mesmos para matar
o outro multiplicado por dezenas,
centenas.
O elenco é formado por Patrícia
Selonk, Simone Mazzer, Sérgio
Medeiros, Thales Coutinho, Ricardo Martins, Simone Vianna,
Stella Rabello, Marcelo Guerra,
Isabel Pacheco e Raquel Karro.
Depois da temporada em São
Paulo, "A Caminho de Casa" participa do Festival de Teatro de Recife, em novembro. No final daquele mês, a Armazém volta para
o Rio, onde estréia "Toda Nudez
Será Castigada", seu primeiro texto de Nelson Rodrigues.
Em projeto extracompanhia,
Moraes também estréia hoje no
Sesc Anchieta a montagem de "O
Pequeno Eyolf", drama do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) em
que duas famílias são confrontadas em suas condições egoístas ou
individualistas (sex. a sáb., às 21h;
e dom., às 19h; tel. 0/xx/11/3234-3000; ingressos: R$ 20).
(VS)
A Caminho de Casa
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb.,
às 21h; e dom., às 20h. Até 13/11
Onde: Sesc Belenzinho - teatro (av.
Álvaro Ramos, 915, Quarta Parada, tel.
0/xx/11/6602-3700)
Quanto: R$ 15
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