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COLEÇÃO FOLHA
Compositor criou teia de citações para obra
Volume deste domingo destaca a primeira sinfonia de Mahler
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ele regeu a Ópera de Viena e a
Filarmônica de Nova York e compôs o último grande ciclo de sinfonias da tradição austro-alemã.
A grandiosa "Sinfonia nš 1", de
Gustav Mahler (1860-1911), é o volume de domingo da Coleção Folha de Música Clássica.
"Sou três vezes apátrida, como
natural da Boêmia na Áustria, como austríaco entre alemães e como judeu no mundo inteiro", disse certa vez o compositor, cujo reconhecimento nessa área foi póstumo e gradativo. "Em toda parte
sou intruso, nunca bem-vindo."
A sensação de deslocamento e
angústia constante permeia toda
a produção de Mahler. Tidas como um "doloroso adeus ao romantismo", suas obras são caracterizadas por monumentalismo,
orquestração grandiosa, sentimentalidade exacerbada, alternâncias bruscas de estados de espírito opostos e uma dificuldade
de execução que fazem delas o
veículo ideal para qualquer grande orquestra mostrar sua excelência técnica.
Tudo isto pode ser visto já na
primeira sinfonia do compositor,
iniciada em 1885, quando ele dava
os primeiros passos em sua carreira como maestro.
O termo "Titã", pelo qual a peça, por vezes, é designada, não
vem da mitologia, mas da novela
homônima do escritor germânico
Jean Paul (1763-1825), expressando, assim, os temas problematizados por Albano, protagonista da
obra: o amor, a amizade, a morte,
a eternidade e, acima de tudo, o
amor pela natureza.
Assim, na sinfonia, Mahler cita
as "Canções de um Viajante", de
sua própria autoria, que contam a
história de um jovem que, ao sofrer adversidade amorosa, resolve
vagar sem destino pelo mundo;
põe as madeiras a imitar o canto
de pássaros no primeiro movimento; e, no terceiro, toma a canção de ninar "Bruder Martin,
schlafst du noch" (versão alemã
do tema popular francês "Frère
Jacques") e a transfigura brilhantemente em marcha fúnebre.
Uma teia de citações que ilustra à
perfeição o princípio mahleriano
de que "a sinfonia é o mundo" e
que "deve abranger tudo".
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