São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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COLEÇÃO FOLHA

Compositor criou teia de citações para obra

Volume deste domingo destaca a primeira sinfonia de Mahler

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ele regeu a Ópera de Viena e a Filarmônica de Nova York e compôs o último grande ciclo de sinfonias da tradição austro-alemã. A grandiosa "Sinfonia nš 1", de Gustav Mahler (1860-1911), é o volume de domingo da Coleção Folha de Música Clássica.
"Sou três vezes apátrida, como natural da Boêmia na Áustria, como austríaco entre alemães e como judeu no mundo inteiro", disse certa vez o compositor, cujo reconhecimento nessa área foi póstumo e gradativo. "Em toda parte sou intruso, nunca bem-vindo."
A sensação de deslocamento e angústia constante permeia toda a produção de Mahler. Tidas como um "doloroso adeus ao romantismo", suas obras são caracterizadas por monumentalismo, orquestração grandiosa, sentimentalidade exacerbada, alternâncias bruscas de estados de espírito opostos e uma dificuldade de execução que fazem delas o veículo ideal para qualquer grande orquestra mostrar sua excelência técnica.
Tudo isto pode ser visto já na primeira sinfonia do compositor, iniciada em 1885, quando ele dava os primeiros passos em sua carreira como maestro.
O termo "Titã", pelo qual a peça, por vezes, é designada, não vem da mitologia, mas da novela homônima do escritor germânico Jean Paul (1763-1825), expressando, assim, os temas problematizados por Albano, protagonista da obra: o amor, a amizade, a morte, a eternidade e, acima de tudo, o amor pela natureza.
Assim, na sinfonia, Mahler cita as "Canções de um Viajante", de sua própria autoria, que contam a história de um jovem que, ao sofrer adversidade amorosa, resolve vagar sem destino pelo mundo; põe as madeiras a imitar o canto de pássaros no primeiro movimento; e, no terceiro, toma a canção de ninar "Bruder Martin, schlafst du noch" (versão alemã do tema popular francês "Frère Jacques") e a transfigura brilhantemente em marcha fúnebre. Uma teia de citações que ilustra à perfeição o princípio mahleriano de que "a sinfonia é o mundo" e que "deve abranger tudo".


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