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MÚSICA
Banda canadense se apresenta de 22 a 25 deste mês em festival no Brasil e prepara "hipnose" para apresentações
Familiar, Arcade Fire prepara show furioso
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles tocam com acordeão, violino, às vezes até com um martelo,
instrumentos não muito associados a uma banda jovem. Mas são
poucos os grupos hoje que fazem
show tão rock and roll quanto o
combo canadense Arcade Fire.
Em apresentação no gigantesco
Reading Festival, na Inglaterra,
em agosto, o Arcade Fire roubou
a atenção de gente como Foo
Fighters, Iron Maiden, Pixies e
Marilyn Manson. É uma experiência hipnótica, com canções
que alternam momentos calmos
com seqüências furiosas -à certa
altura, um dos tecladistas, tomado por uma espécie de transe psicótico, bate violentamente com
uma toalha nos pratos da bateria.
O Brasil terá a chance de presenciar isso. A banda é atração do
próximo dia 22 no Tim Festival.
No dia seguinte, tocam na versão
paulista do evento e, em 25/10,
vão a Porto Alegre. (Em São Paulo, o Arcade Fire se apresenta antes do Kings of Leon; não será nada fácil para o KoL ganhar o público após a fúria do grupo...)
Um show do Arcade Fire ganha
muito também com o aspecto teatral da banda. Todos se vestem sobriamente, com ternos (os homens) e vestidos classudos (as
mulheres).
"Queríamos algo diferente para
nossos shows, para não nos apresentarmos como as outras bandas, de calças jeans e camisetas.
Quando você convida alguém para ir à sua casa, você normalmente
limpa os cômodos, se veste bem,
até como sinal de respeito a essa
visita. É essa a nossa intenção nos
shows, mostrar ao público que os
respeitamos", contou à Folha Régine Chassagne, que toca acordeão, teclados e, às vezes, bateria.
Além de Chassagne e de seu marido, o vocalista Win Butler, o Arcade Fire, formado em 2003, reúne William Butler (irmão de
Win), Richard Parry, Tim Kingsbury, Sarah Neufeld e Jeremy Gara. Eles têm apenas um álbum inteiro, "Funeral", lançado no ano
passado nos EUA e que acaba de
ganhar edição brasileira devido a
iniciativa da gravadora Slag.
Recentemente, emplacaram
uma nova música, "Cold Wind",
na trilha do seriado cult "A Sete
Palmos". A canção saiu também
em formato single, que traz, como
"lado B", um bizarro quase-cover
de "Aquarela do Brasil".
Há mais conexões com o país.
Uma de suas canções, "Brazil", foi
inspirada pelo filme de Terry Gilliam. "Estava tocando a melodia
ao piano, apenas brincando no estúdio, e resolveram gravar aquilo,
sem eu saber", disse Chassagne,
sobre o quase-cover. "Não conheço muito de música brasileira,
mas gosto de samba, bossa nova.
Adoro os grooves."
A banda foi criada em Montreal,
mas isso, hoje, já não quer dizer
muita coisa, pois a banda passa
mais tempo fora do que na cidade
canadense. "Quando acabarmos
essa turnê que parece interminável, voltaremos para lá", diz, ansiosa. Estar na estrada com o marido e o cunhado ajuda, afirma
Chassagne. "Somos uma família,
então é uma coisa natural passarmos tanto tempo juntos. Conheci
Win e todos os outros antes de
pensarmos em formar a banda,
nos damos muito bem."
Com apenas um disco lançado,
o Arcade Fire está se tornando um
fenômeno cult do rock independente. Tanto que eles foram convidados pelo U2 para abrir dois
shows deles, no Canadá, em novembro. "Não os conhecemos,
mas eles passaram a usar uma
música nossa, "Wake Up", para
entrar no palco. Então queriam
que a gente abrisse várias apresentações deles, mas não podíamos por causa de nossos próprios
shows. Faremos apenas duas datas. Acho que será uma experiência bem estranha para nós."
Morte
A música do Arcade Fire é difícil
de classificar; pode ser folk, pode
ser rock, pode ser punk. A voz de
Win é bem parecida com a de David Byrne, o que rende comparações com o Talking Heads.
"Quando escrevemos as canções, definitivamente não estávamos pensando em nenhuma banda em particular. Mas entendo essa relação que fazem, não me incomoda. É melhor ser comparado
aos Talking Heads do que a uma
banda ruim", diz Chassagne.
A temática das canções, no geral, remete a idéias de morte. Não
à toa, "Cold Wind" entrou na trilha do soturno "A Sete Palmos".
"Há algo similar, esteticamente,
entre a banda e o seriado. Ambos
falamos bastante de morte, não
no típico sentido do termo, mas
como uma exploração do que circunda a morte."
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