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Ópera para vivos-mortos
Cia. do Latão revisita teatro político em peça em quatro atos que testa formas realistas
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
O teatro como campo da
batalha ideológica. "Ópera
dos Vivos - Estudo Teatral em
4 Atos" é a mais ambiciosa
das realizações da Companhia do Latão.
Revisão crítica da cultura
brasileira recente, confirma a
inserção do grupo na tradição dialética do teatro de Bertolt Brecht (1898-1956).
O espetáculo fica no CCBB
do Rio até o dia 7 de novembro e tem estreia prevista em
SP para janeiro do ano que
vem. Suas quatro partes distintas se articulam como
uma unidade coerente, que é
consubstanciada pelo talentoso grupo de atores e músicos, responsável por carrear
um público atento através de
vários espaços cênicos com
formas teatrais distintas.
Se há um tema central é a
ânsia do grupo por uma
maior politização do teatro
na perspectiva de uma arte
resistente à mercantilização
cultural. Para isso, revisita-se
a experiência de artistas que,
no passado, engajaram suas
vidas e obras na luta política.
O primeiro ato -"Teatro"- remete ao final dos
anos 1950, em Pernambuco,
quando, a partir das "sociedades mortuárias" -associações criadas pelos lavradores
para garantir-lhes caixões
em seus enterros- emergiram as Ligas Camponesas. A
forma da encenação emula
os espetáculos do Centro Popular de Cultura da UNE e do
Teatro de Arena com uma exposição didática dos mecanismos de opressão.
Se uma das marcas do Latão, no seu início, era a recusa dessa forma canônica do
teatro engajado, caracterizada por atores perfilados e de
punhos cerrados olhando o
público nos olhos e denunciando a exploração em canções tocantes, agora ela é assumida como exercício de estilo e homenagem, compondo o painel revisionista pretendido. Esboça-se a imagem
do que morre de pé.
O segundo ato -"Cinema"- é, literalmente, um filme que dialoga com um dos
clássicos do cinema novo,
"Terra em Transe" (1967), de
Glauber Rocha. Os atores e os
personagens que encarnaram antes se desdobram em
um novo contexto temporal e
no registro da alegoria próprio ao cinema glauberiano.
Invertendo-se a trama do
filme original, o protagonista
é um banqueiro que flerta
com as ideias de esquerda e
acaba assumindo a defesa de
sua própria classe, a burguesia. Aqui o tempo está metaforicamente morto.
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