|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
CRÍTICA DRAMA
Latão faz revisão revanchista do tropicalismo
Peça atinge alta densidade dramática, mas demonstra eixo ideológico frágil ao debater pensamento do crítico sobre gênero
Fotos Lenise Pinheiro/Folhapress
|
|
Os atores Ney Piacentini (ao fundo) e Carlota Joaquina, da Cia. do Latão, em cena do espetáculo "Ópera dos Vivos" durante temporada no CCBB do Rio
CRÍTICO DA FOLHA
O terceiro ato da "Ópera
dos Vivos", da Companhia
do Latão - "Música Popular"-, debate com Roberto
Schwarz a leitura crítica que
este fez, nos anos 1960, do
tropicalismo, como uma tendência conformista por trás
de fachada ultramoderna.
Os personagens participam do show de Miranda,
cantora de protesto famosa
que reaparece depois de três
anos em coma e estranha os
novos valores em voga.
Em diálogo com a estética
do show de MPB, é a parte em
que o eixo ideológico revela-se mais vulnerável.
A formalização cênica da
tese de Schwarz soa caricata
e anacrônica e a revisão crítica configura mais um revanchismo contra os tropicalistas do que um olhar distanciado. A cultura, agora, tornou-se um privilégio de mortos-vivos.
O quarto e último ato
-"Televisão"- atualiza a
discussão e articula os anteriores, dando um sentido claro ao todo. Nele, a dramaturgia e a encenação de Sérgio
de Carvalho alcançam alta
densidade dramática partindo de situação emblemática
da produção cultural hoje.
No estúdio de uma grande
rede de televisão, é o último
dia de gravação de uma série.
Alguns personagens dos atos
anteriores confrontam seus
descendentes, o que é emblemático do próprio diálogo do
grupo com a geração anterior. A ideia do "morrer de
pé" reaparece, agora como
projeto de luta.
A Cia. do Latão cumpriu
com esse largo espetáculo o
seu objetivo de testar formas
de representação realista nas
condições adversas de "um
mundo que desmorona".
Mais difícil é aceitar a tese,
insistentemente reiterada, de
que a soberania da "forma
mercadoria" sobre tudo e todos nos condena à morte em
vida. A ideologia pesa e constrange a razão a minimizar as
potências anímicas desse belo exercício cênico.
(LUIZ FERNANDO RAMOS)
ÓPERA DOS VIVOS - ESTUDO
TEATRAL EM 4 ATOS
AVALIAÇÃO ótimo
Texto Anterior: Ópera para vivos-mortos Próximo Texto: Opinião: Grupo revigorou recepção de obras de Brecht no Brasil Índice | Comunicar Erros
|