São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Latão faz revisão revanchista do tropicalismo

Peça atinge alta densidade dramática, mas demonstra eixo ideológico frágil ao debater pensamento do crítico sobre gênero

Fotos Lenise Pinheiro/Folhapress
Os atores Ney Piacentini (ao fundo) e Carlota Joaquina, da Cia. do Latão, em cena do espetáculo "Ópera dos Vivos" durante temporada no CCBB do Rio

CRÍTICO DA FOLHA

O terceiro ato da "Ópera dos Vivos", da Companhia do Latão - "Música Popular"-, debate com Roberto Schwarz a leitura crítica que este fez, nos anos 1960, do tropicalismo, como uma tendência conformista por trás de fachada ultramoderna.
Os personagens participam do show de Miranda, cantora de protesto famosa que reaparece depois de três anos em coma e estranha os novos valores em voga.
Em diálogo com a estética do show de MPB, é a parte em que o eixo ideológico revela-se mais vulnerável.
A formalização cênica da tese de Schwarz soa caricata e anacrônica e a revisão crítica configura mais um revanchismo contra os tropicalistas do que um olhar distanciado. A cultura, agora, tornou-se um privilégio de mortos-vivos.
O quarto e último ato -"Televisão"- atualiza a discussão e articula os anteriores, dando um sentido claro ao todo. Nele, a dramaturgia e a encenação de Sérgio de Carvalho alcançam alta densidade dramática partindo de situação emblemática da produção cultural hoje.
No estúdio de uma grande rede de televisão, é o último dia de gravação de uma série.
Alguns personagens dos atos anteriores confrontam seus descendentes, o que é emblemático do próprio diálogo do grupo com a geração anterior. A ideia do "morrer de pé" reaparece, agora como projeto de luta.
A Cia. do Latão cumpriu com esse largo espetáculo o seu objetivo de testar formas de representação realista nas condições adversas de "um mundo que desmorona".
Mais difícil é aceitar a tese, insistentemente reiterada, de que a soberania da "forma mercadoria" sobre tudo e todos nos condena à morte em vida. A ideologia pesa e constrange a razão a minimizar as potências anímicas desse belo exercício cênico.
(LUIZ FERNANDO RAMOS)

ÓPERA DOS VIVOS - ESTUDO TEATRAL EM 4 ATOS

AVALIAÇÃO ótimo


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