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OPINIÃO
Grupo revigorou recepção de obras de Brecht no Brasil
CRÍTICO DA FOLHA
A Cia. do Latão situa-se como um terceiro tempo na assimilação da obra e das
ideias do poeta e encenador
alemão Bertolt Brecht (1898-1956) no Brasil.
Os primeiros ecos se deram no fim dos anos 1950, no
âmbito do teatro de Arena de
São Paulo, e reverberariam
de forma diversa nas encenações de Augusto Boal (1931-2009) e nas dramaturgias de
Gianfrancesco Guarnieri
(1934-2006) e Oduvaldo
Vianna Filho (1936-1974).
Nos anos 1960, melhor
fundamentada teoricamente
pelo crítico e professor Anatol Rosenfeld (1912 -1973), a
recepção de Brecht encontrou nas encenações de Zé
Celso no Teatro Oficina uma
primeira inflexão radical.
Mirava-se para o jovem
Brecht, mais anarquista e
menos racional. Até hoje essa contribuição é renegada
pelos estudiosos canônicos.
A segunda leva significativa na recepção de Brecht no
país ocorreu já no início dos
anos 1980, com o resgate pelo Teatro do Ornitorrinco dos
aspectos mundanos do teatro de Brecht, associados ao
cabaré e ao desregramento.
A terceira onda, demarcada pela Cia. do Latão, se dá
no final dos anos 1990.
A pré-história do Latão começa em 1996, com "Ensaio
para Danton", a partir da peça de Georg Büchner, dramaturgo alemão do século 19.
Naquele momento ainda
não aparecia clara a influência central de Brecht, o que
explica que o grupo só inclua
em sua biografia a remontagem realizada em 1999, já
nessa perspectiva.
Em 1997 o Latão, em montagem histórica no teatro Eugênio Kusnet de São Paulo,
espaço do antigo teatro de
Arena, encena "Ensaio sobre
o Latão", a partir de textos
teóricos de Brecht.
O sucesso definirá o nome
do grupo e lhe abrirá caminhos. Trazia-se à luz, para
gáudio de muitos, um Brecht
depurado das marcas das gerações anteriores, focando-se em suas ideias.
A montagem, em seguida,
de "Santa Joana dos Matadouros" aproximará o grupo
dos sindicatos e dos acampamentos do MST.
Desde então, contando
com a colaboração de muitos
artistas que por ali passaram,
o grupo realizou um conjunto de espetáculos, experimentos cênicos, publicações
e produtos audiovisuais que
revigoraram a tradição
brechtiana no Brasil.
"Ópera dos vivos" destaca-se como novo patamar alcançado entre as pérolas colhidas nessa trajetória virtuosa.
(LFR)
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