São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2010

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OPINIÃO

Grupo revigorou recepção de obras de Brecht no Brasil

CRÍTICO DA FOLHA

A Cia. do Latão situa-se como um terceiro tempo na assimilação da obra e das ideias do poeta e encenador alemão Bertolt Brecht (1898-1956) no Brasil.
Os primeiros ecos se deram no fim dos anos 1950, no âmbito do teatro de Arena de São Paulo, e reverberariam de forma diversa nas encenações de Augusto Boal (1931-2009) e nas dramaturgias de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974).
Nos anos 1960, melhor fundamentada teoricamente pelo crítico e professor Anatol Rosenfeld (1912 -1973), a recepção de Brecht encontrou nas encenações de Zé Celso no Teatro Oficina uma primeira inflexão radical.
Mirava-se para o jovem Brecht, mais anarquista e menos racional. Até hoje essa contribuição é renegada pelos estudiosos canônicos.
A segunda leva significativa na recepção de Brecht no país ocorreu já no início dos anos 1980, com o resgate pelo Teatro do Ornitorrinco dos aspectos mundanos do teatro de Brecht, associados ao cabaré e ao desregramento.
A terceira onda, demarcada pela Cia. do Latão, se dá no final dos anos 1990.
A pré-história do Latão começa em 1996, com "Ensaio para Danton", a partir da peça de Georg Büchner, dramaturgo alemão do século 19.
Naquele momento ainda não aparecia clara a influência central de Brecht, o que explica que o grupo só inclua em sua biografia a remontagem realizada em 1999, já nessa perspectiva.
Em 1997 o Latão, em montagem histórica no teatro Eugênio Kusnet de São Paulo, espaço do antigo teatro de Arena, encena "Ensaio sobre o Latão", a partir de textos teóricos de Brecht.
O sucesso definirá o nome do grupo e lhe abrirá caminhos. Trazia-se à luz, para gáudio de muitos, um Brecht depurado das marcas das gerações anteriores, focando-se em suas ideias.
A montagem, em seguida, de "Santa Joana dos Matadouros" aproximará o grupo dos sindicatos e dos acampamentos do MST.
Desde então, contando com a colaboração de muitos artistas que por ali passaram, o grupo realizou um conjunto de espetáculos, experimentos cênicos, publicações e produtos audiovisuais que revigoraram a tradição brechtiana no Brasil.
"Ópera dos vivos" destaca-se como novo patamar alcançado entre as pérolas colhidas nessa trajetória virtuosa.
(LFR)


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