São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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EVENTO
Sesc-SP abre hoje maratona com cerca de 150 atrações nas áreas de música, teatro, dança, literatura e artes visuais
Balaio quer iluminar cafundós do Brasil

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Babel em 97, com 84 expressões da cultura urbana. Mundão em 98, com 400 atrações populares que guindaram a periferia (Santo Amaro, zona sul) para o "centro". E agora Balaio, com cerca de 150 "manifestações culturais".
Os nomes dão bem a medida dos projetos de proa do Serviço Social do Comércio (Sesc) em São Paulo. A bola da vez é o Balaio Brasil, de hoje até o dia 26.
Ao contrário do Babel, que lançou a pedra fundamental do Sesc Pinheiros, e do Mundão, idem para o Sesc Santo Amaro, o Balaio vai se esparramar por nove unidades da instituição, contemplando os quatro pontos cardeais da cidade, além da região central.
Ainda no rastro dos 500 anos do Descobrimento, o projeto quer dar visibilidade para os artistas que vêm dos cantões do país e dificilmente chegariam ao "Sul maravilha" pelas vias normais -produção mínima com alimentação e hospedagem, por exemplo.
"Além do público, é importante que os produtores culturais confiram o potencial desses criadores", afirma o gerente de ação cultural do Sesc-SP, Ivan Giannini, 50.
Apesar do espectro da cultura popular, Giannini garante que esse não foi o recorte utilizado pela curadoria. O que se verá, diz, "são trabalhos contemporâneos que fazem releituras ou imprimem linguagens modernas".
Apesar desse verniz, a tradição reveste boa parte da programação. São Paulo ouvirá pela primeira vez, por exemplo, a Banda de Zabumba de Lagarto, município a cerca de 100 km de Aracaju (SE).
Trata-se de um legado artístico de Zé Terreno, um zabumbeiro que começou a tocar na cidade há cerca de 160 anos e marcou gerações futuras. Seus bisnetos, o pipoqueiro José Carlos e o cortador de carne Enoque, encabeçam o conjunto que segue participando de reisados e novenas.
"Os tocadores de zabumba são todos senhores de idade e exercem muita influência na cultura local", afirma o cantor e compositor autodidata Ademir Tacer, 27, que traz para o Balaio o duo Lacertae, também de Lagarto -uma mistura de música nordestina, jazz e bossa nova.
Do Acre, se apresentam os índios da tribo ashaninka, com canções rituais do CD "Homãpani Ashaninka", a voz do povo ashaninka. "É uma música que lembra o Olodum, mas com uma sonoridade da floresta amazônica", afirma a cineasta Nicole Algranti, 34, que conviveu durante oito anos com a tribo.
O grupo Cafundó de Contadores de Histórias, de Teresina (PI), formado em 97, evoca a oralidade em "Histórias e Lendas do Piauí".
"Como são lendas que não estão em livro, a gente aumenta um pouquinho com teatro, mas a oralidade é nossa principal ferramenta", afirma Ana Miranda, 39, parceira de Maria Evelin, 36.
A festa de abertura do Balaio Brasil acontece hoje, no Sesc Belenzinho, com um mix que faz jus ao projeto: Cássia Eller, Zé Ramalho, Lia de Itamaracá, Inocentes e Demônios da Garoa.


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