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Academia ganhou rigor, mas carece de vigor, diz filósofo
DA REPORTAGEM LOCAL
Há falta de atrevimento e de
vigor na filosofia brasileira,
afirma o professor de filosofia
da USP Renato Janine Ribeiro.
Como Roberto Machado, ele
diz que o método de leitura rigorosa de textos filosóficos praticado na USP nos anos 50 e 60,
que privilegiava trabalhos monográficos e especializados, é
hoje o modelo de cursos de pós-graduação em filosofia em todo
o país.
Ribeiro lembra, no entanto,
que tal método, em princípio,
foi positivo. "Foi uma etapa que
talvez tivesse que ter sido necessária. Qual era o contraste
que você tinha no Brasil? Uma
idéia de filosofia que era muito
eclética, muito baseada em generalidades. Então creio que
era preciso ter um rigor que foi
realmente necessário", declara.
"Foi uma coisa positiva, mas
trouxe algumas falhas. A área
acabou dando importância demasiada à questão dos autores.
A discussão de idéias é muito
rara na filosofia hoje."
O problema, continua, é que
"o método virou princípio". De
todo modo, ele afirma que já
havia na prática da filosofia daquele período, quando era aluno, "um pressuposto estranho". "Havia uma convicção de
que o tempo de filosofar tinha
passado."
Num livro da década de 90,
"Um Departamento Francês de
Ultramar" (Paz e Terra), o filósofo Paulo Arantes diz que o
"Método" (assim, com maiúscula) "incluía uma cláusula restritiva severa": "deixemos a filosofia para os filósofos".
A leitura rigorosa e a análise
não-dogmática dos textos tornava a falta de idéias na filosofia brasileira uma questão de
método, ou, melhor dizendo,
quase um objetivo do método.
"Quando muito a filosofia, se
viesse, viria por acréscimo. De
nossa parte, traduzíamos a lição, abrandando-a numa direção meramente profilática: visto que o mal a prevenir era o
dogmatismo precoce, cumpria
represar, multiplicando os
anos de aprendizagem, a natural inclinação especulativa de
cada um", escreve Arantes.
Embora o professor da USP
Luiz Fernando Franklin de
Matos também veja uma inclinação na filosofia brasileira à
excessiva especialização, ele faz
ponderações à crítica e aponta
exemplos de casamento entre o
rigor de leitura e o vigor de pensamento no país.
"Não se torna autônomo em
filosofia -e falo de pessoas e
países- sem referência à história da filosofia", diz. "Por outro
lado, é fato que isso pode gerar
excesso de especialização."
Franklin de Matos cita os colegas Bento Prado Jr. e Marilena Chaui como exemplos de filósofos brasileiros que, debruçando-se com rigor sobre a história da filosofia, foram capazes
de serem criativos e apresentarem idéias inovadoras.
"No seu estudo magistral sobre Espinosa, Marilena não o
toma como um fim, mas, por
meio dele, coloca problemas
novos, da relação entre filosofia
e história, e entre filosofia e política", exemplifica.
(RC)
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