São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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Crítica/livro/"Conversas com Woody Allen"

Reunião de entrevistas é viagem prazerosa pela carreira de Allen

Entrevistas realizadas ao longo de 36 anos expõem um autor em movimento

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Já se sabia que Woody Allen era ótimo escritor de humor, dramaturgo de soluções engenhosas, excelente cineasta e clarinetista diletante, mas o norte-americano Eric Lax possibilita que ele adquira outra qualificação, a de entrevistado dos sonhos de jornalistas e leitores, em "Conversas com Woody Allen".
Lax havia aproveitado o material reunido nesta coletânea em outros dois livros: "On Being Funny" (1975), inédito no Brasil, e "Woody Allen" (1991; R$ 62,50, 408 págs.), biografia publicada pela Companhia das Letras e já ultrapassada pela intensa produção do cineasta desde então.
Ao organizar a íntegra das entrevistas que realizou com Allen por 36 anos, Lax cumpre ao menos dois objetivos: faz uma espécie de adendo ao livro biográfico e expõe um autor em movimento, permitindo que se observe como foi amadurecendo a sua maneira de encarar os próprios filmes, o processo de realização e o cinema.
Para os admiradores do cineasta, o livro oferece a oportunidade de se perder em uma floresta de informações que, embora distribuídas por oito capítulos temáticos, estimulam idas e vindas em torno de filmes, pessoas e tópicos. No primeiro capítulo, "A Idéia", estão reunidos trechos em que Allen fala sobre como desenvolveu argumentos. Alguns filmes mencionados ali reaparecem em outros capítulos. Costurar por conta própria o que o livro torna disperso apenas aumenta o estímulo de desbravá-lo.
De 1971 a 2007, descontadas as naturais mudanças de opinião trazidas pela idade, é essencialmente o mesmo Allen que se "ouve" (como Lax sugere, na apresentação), coerente em relação a valores e dono de notável desenvoltura para falar não apenas do próprio trabalho mas de tudo o que o cinema, a literatura, o teatro e a música, em especial, envolvem.
Outra constante é a franqueza, que não parece se confundir com falsa modéstia. "Estava pensando em, num futuro não muito distante, escrever alguma coisa intitulada "Como foi que eu durei?'", diz, em 2000. Em seguida, vem uma aguda análise da própria carreira, mais incisiva do que faria um crítico. Não se fala de psicanálise à-toa em seus filmes.


CONVERSAS COM WOODY ALLEN
Autor: Eric Lax
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 65 (512 págs.)
Avaliação: ótimo



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