|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/livro/"Conversas com Woody Allen"
Reunião de entrevistas é viagem prazerosa pela carreira de Allen
Entrevistas realizadas ao longo de 36 anos expõem um autor em movimento
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Já se sabia que Woody
Allen era ótimo escritor
de humor, dramaturgo
de soluções engenhosas, excelente cineasta e clarinetista diletante, mas o norte-americano
Eric Lax possibilita que ele adquira outra qualificação, a de
entrevistado dos sonhos de jornalistas e leitores, em "Conversas com Woody Allen".
Lax havia aproveitado o material reunido nesta coletânea
em outros dois livros: "On
Being Funny" (1975), inédito
no Brasil, e "Woody Allen"
(1991; R$ 62,50, 408 págs.), biografia publicada pela Companhia das Letras e já ultrapassada pela intensa produção do cineasta desde então.
Ao organizar a íntegra das
entrevistas que realizou com
Allen por 36 anos, Lax cumpre
ao menos dois objetivos: faz
uma espécie de adendo ao livro
biográfico e expõe um autor em
movimento, permitindo que se
observe como foi amadurecendo a sua maneira de encarar os
próprios filmes, o processo de
realização e o cinema.
Para os admiradores do cineasta, o livro oferece a oportunidade de se perder em uma
floresta de informações que,
embora distribuídas por oito
capítulos temáticos, estimulam
idas e vindas em torno de filmes, pessoas e tópicos.
No primeiro capítulo, "A
Idéia", estão reunidos trechos
em que Allen fala sobre como
desenvolveu argumentos. Alguns filmes mencionados ali
reaparecem em outros capítulos. Costurar por conta própria
o que o livro torna disperso
apenas aumenta o estímulo de
desbravá-lo.
De 1971 a 2007, descontadas
as naturais mudanças de opinião trazidas pela idade, é essencialmente o mesmo Allen
que se "ouve" (como Lax sugere, na apresentação), coerente
em relação a valores e dono de
notável desenvoltura para falar
não apenas do próprio trabalho
mas de tudo o que o cinema, a
literatura, o teatro e a música,
em especial, envolvem.
Outra constante é a franqueza, que não parece se confundir
com falsa modéstia. "Estava
pensando em, num futuro não
muito distante, escrever alguma coisa intitulada "Como foi
que eu durei?'", diz, em 2000.
Em seguida, vem uma aguda
análise da própria carreira,
mais incisiva do que faria um
crítico. Não se fala de psicanálise à-toa em seus filmes.
CONVERSAS COM WOODY
ALLEN
Autor: Eric Lax
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 65 (512 págs.)
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Música: Marcelo Camelo lança disco solo "Sou" hoje e amanhã Próximo Texto: Crítica/"[REC]": Hit na web, terror espanhol decepciona e copia videogame Índice
|