Filme mostra equipe atacada por monstros em estrutura de falso documentário

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Gigantesco sucesso pirata entre baixadores de filmes na internet, onde circula há mais de um ano, "[REC]" chega, finalmente, às telas grandes, sem que seu suposto impacto de invenção se confirme. A repercussão subterrânea adquirida pelo longa espanhol de terror de baixo orçamento decorre do modo como a produção vampiriza idéias usadas e abusadas, tais como o falso documentário e a monstruosidade dos zumbis como metáfora sociopolítica.
O documentário falso tem sua matriz em "Canibal Holocausto" (de 1980, contemporâneo da disseminação do VHS), posteriormente recalibrado com o medo subjetivo de "A Bruxa de Blair". A fórmula vem sendo utilizada com freqüência no cinema contemporâneo ("Cloverfield", "Diário dos Mortos"), com intenções e resultados diversos.
Em "[REC]", a coincidência do ponto de vista do espectador com o da câmera de TV que registra tudo serve apenas para manter alta a adrenalina, sem buscar produzir sentidos colaterais. A situação central é claustrofóbica: uma equipe de reportagem acompanha a rotina de um plantão num quartel de bombeiros e acaba presa num prédio residencial onde criaturas monstruosas estão prontas para o ataque.
Mas o filme se resume a uma sucessão de sustos, intensificados pela imagem instável dada pelo personagem-câmera da "reportagem" e pelo uso admirável do som. A suposta inventividade "experimental" creditada ao trabalho dos espanhóis Jaume Balagueró e Paco Plaza não vai além do efeito de videogame copiado para cinema.