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Ilustrada 50 Anos
Consumo popular
Produtores e criadores brasileiros já pensam estratégias e conteúdo para conquistar um mercado em expansão, o da classe C
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Era um mega-chororô. Adolescentes, em sua maioria da
classe C, pagando para ver um
show internacional e chorando
como se o mundo fosse acabar."
O antropólogo Hermano Vianna, estudioso da cultura popular, assim descreve a apresentação da banda mexicana RBD,
em novembro, no Rio.
E cita a paraense Calypso,
outro fenômeno, para festejar
"sucessos de massa que surgem
sem aval de gravadoras ou de
críticos de jornais". "Que bom
que tais "elites" estejam perdendo o controle."
Números deixam claro que,
se a atual crise global não inverter a lógica, a inserção da classe
C no consumo cultural deverá
ser um dos grandes desafios para produtores de música, cinema, TV e outras áreas nos próximos anos. Essa fatia da população brasileira, cuja renda familiar se situa, em média, entre
R$ 726 e R$ 1.195, subiu de 33%
para 54% entre 2003 e 2008
(Datafolha). Além de crescer,
ganhou poder aquisitivo.
De acordo com o Ibope, entre
2003 e 2004, só 17% da classe C
tinha acesso à internet. Entre
2007 e 2008, saltou para 34%.
Os assinantes de TV foram de
10% para 13% no mesmo período, e esse mercado trabalha para ampliar a nova clientela. Sabe que, uma vez que a classe AB
está quase conquistada, a popularização é o caminho.
O presidente-executivo da
ABTA (Associação Brasileira
de TV por Assinatura), Alexandre Annemberg, diz que empresas do setor estão investindo em canais dublados. "O desafio é saber o que atrairá a
"classe emergente", que já tem
muito conteúdo na TV aberta."
Outra tendência é a criação
de pacotes mais econômicos,
com canais de custos baixos. "O
preço das assinaturas ainda é
uma barreira. Mas a oferta de
TV com banda larga é atrativa,
e a venda de computadores no
país ultrapassou a de televisores. A TV fechada pode até ser
vista como supérflua na classe
C, mas a internet é uma ferramenta de inclusão social."
A inclusão digital da classe C
mudará os rumos da produção
cultural, para Rick Bonadio,
produtor de Mamonas Assassinas, Charlie Brown Jr. e CPM
22. "A classe C, a grande consumidora de música, será cada
vez mais importante no consumo de música digital, o negócio
do futuro, graças ao maior acesso a celulares sofisticados, banda larga e players como o MP3."
Nessa virada, a classe popular tem outra importância: garantir sobrevida ao CD. "É um
fã com muita identificação com
o artista e, por isso, além de
nem sempre poder ir a shows,
ainda compra CD e DVD."
Produtor de filmes populares
recordistas de bilheteria, como
os de Xuxa, Padre Marcelo e Didi, Diler Trindade também busca na inclusão digital a solução
para atingir a classe C. "Devemos vender filmes por downloads baratos, a uns R$ 3."
Cinema caro
Mas ele revela estar, por ora,
deixando de lado a classe C como alvo em troca de filmes com
perfil mais jovem e para exportação. "O cinema está caro, e essa classe se endividou comprando computadores, televisores de plasma, DVDs e home
theaters. Não sobrou muito para ir ao cinema." Dados do Ibope mostram que há fundamento. De 2003/2004 para 2007/2008, a freqüência desse público no cinema caiu pela metade,
de 14% para 7%.
Enquanto o cinema volta as
lentes a novas formas de atingir
a classe C, a TV aberta precisa
garantir um caminho para não
perdê-la. Ainda "reis" da mídia,
os canais abertos são vistos por
97% da população, que ampliou
em 30 minutos o tempo diário
dedicado a eles nos últimos sete anos, segundo o Ibope
(4h42/dia de janeiro a junho).
Mas, diante da parafernália
tecnológica que invade os lares,
"a ruptura vai acontecer", na
opinião de Rubens Glasberg,
editor da "Tela Viva", entre outras conceituadas publicações
sobre TV e telecomunicações.
Para ele, o modelo de negócio
da TV, hoje baseado no faturamento com publicidade, terá de
mudar. "A digitalização e a ligação com a internet farão com
que as pessoas vejam programação de forma não-linear, escolhendo o horário para assistir
à novela sem comerciais. A
questão será como ganhar dinheiro com isso."
Glasberg vê uma tendência
de vulgarização na televisão,
que vai ter de reduzir custos e
se atrelar mais às classes C, D e
E. "Não será possível manter
uma novela, como hoje, com
custo médio por capítulo de R$
200 mil. Ou a TV acha um caminho ou vai para o beleléu."
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