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Crítica/"As Virgens Suicidas"
Sofia Coppola revela talento em drama sobre a juventude
Em sua estréia na direção, filha de Francis Ford aborda irmãs nos anos 70
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1999, quando estreou na direção com
"As Virgens Suicidas",
que tem lançamento em DVD,
Sofia Coppola ainda era lembrada apenas como a adolescente nariguda que tivera uma
atuação constrangedora em "O
Poderoso Chefão 3" (90).
Foi ao entrar em contato
com o livro homônimo de Jeffrey Eugenides que Sofia encontrou a maneira de se reinventar como artista. Ela tinha à
mão uma trama contemporânea, escrita como se fosse um
romance clássico, como explica
o making of do DVD.
É fácil, hoje, após a consagração com seus filmes seguintes,
os excelentes "Encontros e Desencontros" (03) e "Maria Antonieta" (06), entender as razões pelas quais o livro de Eugenides fascinou a diretora.
Sofia começava ali a definir
seus temas essenciais, perseguidos e seguidos à risca nessas
produções. Mais do que um cinema de "mulherzinha", ou feminista, como um olhar mais
rasteiro poderia sugerir, ela
adota visão cúmplice sobre a
alienação, carregada de um
sentimento de não-pertencimento, algo que extrapola as
definições de sexos.
Com "Virgens...", tais sensações vêm em estado bruto, já
que o foco é a adolescência.
Uma das idéias que resumem o
filme está na fala de Cecilia, a
irmã mais nova, após tentativa
de suicídio. "Você não tem idade para saber o quanto a vida fica difícil", diz o médico, no que
ela responde: "Obviamente,
doutor, você nunca foi uma garota de 13 anos".
A questão não é entender as
razões do que o título do filme
entrega -a repressão dos pais
não explica o ato das cinco irmãs. Prevalece o inexplicável.
A estrutura escolhida por Sofia garante a magia. A história
vem narrada por homens que
na época -o longa se passa nos
anos 70- eram apenas moleques apaixonados pelo quinteto. Eles relembram garotas que
permanecerão para sempre em
suas memórias, perfeitas, belas
e intocadas. Sofia parece evocar
astros que morreram jovens,
como James Dean ou Marilyn
Monroe, para vasculhar o voyeurismo e o fetichismo.
Para completar, a trilha do
duo francês Air garante o clima
onírico, de beleza mórbida, necessário a esse filme que só melhora com o tempo.
AS VIRGENS SUICIDAS
Direção: Sofia Coppola
Distribuidora: Paramount (à venda
exclusivamente nas lojas da rede
2001; site: www.2001video.com.br,
por R$ 19,90)
Classificação: não indicado para menores de 16 anos
Avaliação: bom
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