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Crítica/"A Solução Final"
Mescla de crônica, investigação e piada resulta insossa e tola
SANTIAGO NAZARIAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Verão de 1944, sul da Inglaterra. A Segunda
Guerra Mundial ainda
não acabou, o país vive tempos
de paranoia e as pessoas procuram ajudar umas às outras com
uma solidariedade austera.
Linus é um garoto judeu alemão de nove anos. Vítima de
aparentes traumas, ele se tornou mudo e sua única ligação
afetiva é com um papagaio cinza, que vive em seu ombro e repete constantemente números
aleatórios. Os dois são adotados
pelos Panicker, uma família da
região que enfrenta problemas
com o filho delinquente, mas
vive em razoável conforto e em segurança.
Até que outro hóspede da casa dos Panicker, o sr. Shane, é
encontrado morto. Recebeu
um golpe atrás da cabeça e o papagaio desapareceu. A polícia
inicia sua investigação. Teria
Shane tentado roubar o papagaio e sido morto? Surpreendido o ladrão e assassinado por isso? Seria um crime passional, por um possível romance entre a sra. Panicker e o sr. Shane?
Os policiais seguem o caso
solicitando a ajuda de um velho
apicultor, que guarda um passado de investigações e, quem
sabe, não é o próprio Sherlock Holmes no final da vida.
Essa é a insólita premissa da novela de Michael Chabon, "A
Solução Final", publicada originalmente em 2004. Uma obra
de ficção revisionista (que se aproveita de personagens e tramas criados por outros autores) e que mistura crônica histórica, trama de detetive e até piada de papagaio.
Se a mistura é homogênea,
não chega a ser saborosa. Falta
profundidade à crônica, perspicácia à história de detetive e
graça na piada. Mesmo o óbvio
talento do autor com a escrita
ralenta-se pela tolice da história; as experiências literárias
não fazem jus ao que está sendo
contado. Já a investigação limita-se a observações óbvias e
anagramas banais que podem ser desvendados de primeira.
Americano de 1963, Chabon
escreveu, entre outros, o romance "Garotos Incríveis" (levado às telas em 2000) e "As Incríveis Aventuras de Kavalier e
Clay" (que recebeu o prêmio
Pulitzer de 2001). Aqui, em "A
Solução Final", o autor parece
tentar uma experiência literária que não engrena e conclui-se preguiçosa como suas 112 páginas.
Felizmente, Chabon nunca
dá nome a seu velho protagonista. O leitor pode se aproveitar do benefício da dúvida. Ainda que haja certo lirismo no retrato do investigador que está
no final da vida, não se pode
deixar de pensar que Sherlock
Holmes já esteve em muito melhor forma.
SANTIAGO NAZARIAN é autor de "O Prédio, o Tédio e o Menino Cego", entre outros
A SOLUÇÃO FINAL
Autor: Michael Chabon
Tradução: Alexandre Barbosa de Souza
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 32,50 (112 págs.)
Avaliação: ruim
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