São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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Crítica/"Amor, Festa, Devoção"

Em novo show, Bethânia transforma simples e sofisticado em sinônimos

TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Quando Bethânia canta "janela", a gente sabe se está aberta ou fechada." O comentário ouvido à saída do teatro Abril reforça uma constante na música brasileira: o poder que a cantora tem de preencher de intenções a menor das sílabas e a sua capacidade de manter a plateia hipnotizada. Maria Bethânia não tem fãs: tem súditos.
Aos 63 anos, ela mostra que está no auge da forma artística. As folclóricas desafinações de que era acusada no início da carreira desapareceram, ou estão escondidas por um total domínio de cena.
Seu novo show, "Amor, Festa, Devoção", teve casa lotada durante três noites em São Paulo e promete voltar à cidade em meados de 2010. É baseado no repertório dos dois novos discos que ela lançou recentemente, só com canções inéditas: "Tua", romântico e introspectivo, e "Encanteria", que celebra a fé e a baianidade.
O roteiro é pensado para não cansar o espectador com novidades, entremeando-as com sucessos de várias épocas. Depois de um bloco que começa animado e segue intimista, Bethânia traz a casa abaixo pela primeira vez com uma versão a cappella de "Explode Coração", de Gonzaguinha.
Mas talvez o momento mais forte seja "Balada de Gisberta", que encerra a primeira parte.
Escrita pelo português Pedro Abrunhosa em homenagem a um travesti brasileiro assassinado no Porto, a faixa ficou de fora dos novos CDs, talvez por não se encaixar direito na proposta de nenhum deles.
Cenário e figurino mudam na segunda parte, que é aberta por "Objeto Não Identificado" -segundo a cantora, a composição de Caetano Veloso favorita do pai de ambos.
Mais tarde, a interpretação definitiva de "É o Amor", de Zezé di Camargo, ganha uma citação marota de "Vai Dar Namoro", da dupla sertaneja Bruno e Marrone.
No final, ela se faz de surpresa, como se estivesse desabituada a dar bis. Não era para menos: embalada pela direção musical de Jaime Alem, a direção e a cenografia de Bia Lessa e a luz de Lauro Escorel, Maria Bethânia transforma simples e sofisticado em sinônimos.


AMOR, FESTA, DEVOÇÃO - MARIA BETHÂNIA

Avaliação: ótimo




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