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Crítica/"Amor, Festa, Devoção"
Em novo show, Bethânia transforma simples e sofisticado em sinônimos
TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Quando Bethânia
canta "janela", a
gente sabe se está
aberta ou fechada." O comentário ouvido à saída do teatro
Abril reforça uma constante na
música brasileira: o poder que a
cantora tem de preencher de
intenções a menor das sílabas e a sua capacidade de manter a plateia hipnotizada. Maria Bethânia não tem fãs: tem súditos.
Aos 63 anos, ela mostra que está no auge da forma artística.
As folclóricas desafinações de
que era acusada no início da
carreira desapareceram, ou estão escondidas por um total domínio de cena.
Seu novo show, "Amor, Festa, Devoção", teve casa lotada
durante três noites em São
Paulo e promete voltar à cidade
em meados de 2010. É baseado
no repertório dos dois novos
discos que ela lançou recentemente, só com canções inéditas: "Tua", romântico e introspectivo, e "Encanteria", que celebra a fé e a baianidade.
O roteiro é pensado para não cansar o espectador com novidades, entremeando-as com
sucessos de várias épocas. Depois de um bloco que começa
animado e segue intimista, Bethânia traz a casa abaixo pela
primeira vez com uma versão a cappella de "Explode Coração", de Gonzaguinha.
Mas talvez o momento mais forte seja "Balada de Gisberta", que encerra a primeira parte.
Escrita pelo português Pedro
Abrunhosa em homenagem a
um travesti brasileiro assassinado no Porto, a faixa ficou de
fora dos novos CDs, talvez por não se encaixar direito na proposta de nenhum deles.
Cenário e figurino mudam na segunda parte, que é aberta por
"Objeto Não Identificado" -segundo a cantora, a composição de Caetano Veloso favorita do pai de ambos.
Mais tarde, a interpretação definitiva de "É o Amor", de Zezé di Camargo, ganha uma citação marota de "Vai Dar Namoro", da dupla sertaneja Bruno e Marrone.
No final, ela se faz de surpresa, como se estivesse desabituada a dar bis. Não era para
menos: embalada pela direção
musical de Jaime Alem, a direção e a cenografia de Bia Lessa e
a luz de Lauro Escorel, Maria
Bethânia transforma simples e
sofisticado em sinônimos.
AMOR, FESTA, DEVOÇÃO - MARIA BETHÂNIA
Avaliação: ótimo
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