São Paulo, terça-feira, 14 de dezembro de 2010

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Cadastro global lista 300 mil obras roubadas

DE SÃO PAULO

Enquanto o Brasil tenta dar corpo a um primeiro cadastro-geral de obras roubadas no país, uma estrutura muito mais robusta do que isso funciona no circuito internacional há quase 20 anos.
Fundado em Londres em 1991, o Art Loss Register lista as obras de arte roubadas e desaparecidas no mundo todo. Quase 300 mil trabalhos estão enumerados e 400 mil investigações são conduzidas no mundo ano a ano.
Toda transação entre casas de leilões e colecionadores e aquisições institucionais passam antes por uma consulta à base de dados da organização britânica, que tem entre os clientes a Sotheby's, a Christie's e os maiores museus, galerias e feiras de arte do mundo.
Esse serviço surgiu, aliás, de um pedido da Sotheby's que queria uma lista geral para evitar que obras falsas ou roubadas fossem a leilão.
"Recolhemos dados da polícia, seguradoras e vítimas do mundo todo", diz Julian Radcliffe, diretor do Art Loss Register, à Folha. "Quando encontramos uma obra, tomamos providências legais, muitas vezes em ações coordenadas com autoridades."
Uma equipe de 28 pessoas, entre elas policiais e detetives, trabalham para solucionar os casos no mundo todo, chegando a cuidar de até 120 negociações simultâneas.
Agentes do Art Loss Register trabalharam até em casos no Brasil, como a repatriação de peças da coleção de arte do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, suspeitas de envio ilegal para fora do país.
Seguindo a expansão do mercado de arte em países emergentes, o grupo tem trabalhado cada vez mais não só no Brasil, mas também na China, na Índia e na Rússia.
Desde que existe o Art Loss Register, já foram recuperados US$ 100 milhões, cerca de R$ 170 milhões, em peças roubadas e desaparecidas pelo mundo. Entre elas, estava uma natureza-morta do francês Paul Cézanne avaliada em mais de R$ 48 milhões.
Dependendo da natureza do caso, a Art Loss Register paga um resgate pelas peças.
Caso tenha sido comprada por alguém que desconhecia a origem da peça, um valor pode ser pago para recuperar a obra, o que não acontece caso esteja em poder de ladrões ou de informantes que se recusam a revelar a identidade aos investigadores.
"Nunca pagamos resgate para ladrões", diz Radcliffe. "Mas temos muitos modelos diferentes de negociação."
Esses modelos são postos à prova com cada vez mais frequência nos processos para reaver obras de vítimas do Holocausto que foram parar em museus e coleções pelo mundo. Negociações do tipo, que têm gerado manchetes recorrentes em jornais, viraram a segunda especialidade da Art Loss Register. (SM)


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