São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS

"SHAKESPEARE AFTER ALL"

Marjorie Garber analisa as 38 peças do autor

Estudiosa dos EUA promove encontro com Shakespeare

Kenneth Paulsson - 23.jan.2003/AFP
Atores encenam os papéis de Hamlet e Ofélia, em montagem em teatro de gelo na Suécia


DINITIA SMITH
DO ""NEW YORK TIMES", EM CAMBRIDGE, MASSACHUSETTS
"Este é um livro em estilo antiquado", diz Marjorie Garber. Ela se refere a ""Shakespeare After All", seu novo e imenso livro lançado em dezembro nos EUA pela Pantheon, no qual fala das 38 peças de Shakespeare, escrevendo um ensaio sobre o histórico de encenações de cada uma e as principais obras acadêmicas escritas sobre ela. São 989 páginas ao todo.
Garber, 60, já foi criticada por sua dedicação a teorias bizarras, em trabalhos como ""Vested Interests: Cross-Dressing and Cultural Anxiety" (1992), sobre o Chevalier d'Eon, Little Richard e o próprio Shakespeare. Depois vieram ""Vice Versa: Bisexuality and the Eroticism of Everyday Life" (1995) e ""Sex and Real Estate" (2000). Este último recebeu uma crítica acerba na revista ""The New Republic": ""É tão serenamente tolo, tão distante de qualquer sombra de preocupação com alguma idéia séria, que nos suscita uma espécie de respeito espantado".
Mas Garber, que ocupa a cadeira William R. Kenan Jr. de literatura inglesa e americana na Universidade Harvard, rejeita a sugestão de que ""Shakespeare After All" possa representar uma resposta a seus críticos. ""Sempre fiz Shakespeare", ela observou. O curso que ela vem dando há mais de 20 anos em Harvard é um dos mais procurados da universidade.
"Neste livro eu me dirijo aos leitores que podem ou não ter lido uma peça específica, mas que, de qualquer maneira, querem ter um encontro com Shakespeare."
De fato, Shakespeare é um tema de popularidade eterna. O livro de Garber é apenas um entre uma série de livros importantes sobre Shakespeare lançados recentemente ou prestes a sair, entre eles "Age of Shakespeare", de Frank Kermode, previsto para fevereiro.
Sob muitos aspectos, ""Shakespeare After All" é uma volta aos tempos em que a função primordial do crítico era a de entusiasta: descortinar para o leitor as glórias da obra escrita. A obra é livre do jargão dos estudos culturais; é uma obra mais no veio de A.C. Bradley, Mark van Doren ou T.S. Eliot do que de Roland Barthes ou Jacques Derrida.
Garber diz querer que seu livro ""mostre às pessoas maneiras diversas de ler as peças, além de lhes oferecer o pano de fundo de cada uma, seu conteúdo e a maneira como as peças vivas foram mudando no decorrer do tempo". Ela nos lembra, por exemplo, que as peças eram apresentadas no teatro Globe durante a tarde. Os atores precisavam recorrer a objetos, como tochas, para transmitir a idéia de noite, como acontece na abertura de ""Hamlet", quando Hamlet vê o fantasma de seu pai, ou têm que usar suas falas para revelar ao público se é dia ou noite.
Garber observa que o Ricardo 3º histórico não era corcunda nem aleijado, e que, em Harvard, no início do século 18, as peças de Shakespeare eram vistas como diversão, não como algo a ser lido em sala de aula. E mostra como sua linguagem se tornou parte de nossa cultura e, ao mesmo tempo, como em muitos casos perdeu suas raízes. Segundo Garber, os políticos estão entre os que mais fazem uso equivocado de citações de Shakespeare.

Tradução de Clara Allain

SHAKESPEARE AFTER ALL. Autor: Marjorie Garber. Editora: Pantheon. Quanto: US$ 26,40/R$ 71,30 (em média), na www.amazon.com


Texto Anterior: Teatro: Zé Celso aceita projeto de Silvio Santos
Próximo Texto: Bloom propõe Hamlet como um jogo de xadrez
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.