São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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CRÍTICA

Novas soluções das velhas idéias

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

A boa notícia é que há novela para além da Globo. A má é que a Record só acertou a mão repetindo a receita da emissora carioca. Pelo menos foi assim no ano passado e, ao que tudo indica, em 2006 muda muito pouco.
"Prova de Amor" teve a sorte de competir com a confusa e pretensiosa "Bang Bang", mas não só: a novela é direitinha, direitinha. E é isso.
Começou com tiros, correria e muita externa; reciclou o tema do bebê roubado, capaz de fazer brotar emoção até de paralelepípedo, teve dinheiro para manter um nível de produção razoável e contratar atores já conhecidos. Rezou pela cartilha e se deu bem- a audiência tem se mantido tão boa que animou a emissora a esticar por mais dois meses a trama. "Prova de Amor" só acaba em junho, com 197 capítulos.
Nunca é demais repetir que qualquer coisa que abale a espécie de "pensamento único" que a Globo impôs na televisão é bem-vinda de antemão. O fato de a Record estar se firmando como alternativa ser objeto de entusiasmo, portanto, parte desse quase princípio. Só é pena que não haja nada de alternativo no sentido da construção ficcional. Pelo contrário: a emissora do bispo Edir Macedo investe naquilo que há de mais convencional.
Até agora, a Record vem, de forma mais ou menos hábil, reciclando aquilo que a Globo testou nos últimos 30 anos. Fez uma novela "de época", com o roteiro baseado em romances de um escritor canônico da literatura brasileira, José de Alencar. Agora, com "Prova de Amor", experimentou seguir os passos do melodrama urbano, a um tempo de estruturas dramáticas bastante tradicionais e ar contemporâneo.
A pergunta que se faz é se não haveria uma maneira de escolher uma trilha própria na área da ficção de TV. E é mais ainda pertinente quando se pensa que na própria Globo a maneira velha de fazer novela anda sendo esquadrinhada.
Quando a extinta Manchete exibiu "Pantanal", nos anos 90, encontrou uma maneira, se não inovadora, ainda pouco explorada de fazer novela. Em "Pantanal", tudo andava a passo mais lento e a sombra de mistério que rondava os personagens daquele Brasil ensimesmado conseguia se espreguiçar pelas exigências mais rasteiras da trama. De certa forma, atualizava e deslocava geograficamente as novelas do realismo mágico nordestino dos anos 70.
Por ora, a Record ainda não encontrou nenhum veio que possa trazer algum frescor ao gênero. Não há de ser com "Prova de Amor", sua vilã meio de araque e a barbaridade de 197 capítulos para ter o que dizer. Quem sabe Lauro César Muniz- autor de narrativas mais arriscadas, como a de "O Casarão", que se passava em três tempos distintos -ache uma maneira.


biabramo.tv@uol.com.br

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