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CRÍTICA
Novas soluções das velhas idéias
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A boa notícia é que há novela
para além da Globo. A má é
que a Record só acertou a mão
repetindo a receita da emissora
carioca. Pelo menos foi assim no
ano passado e, ao que tudo indica, em 2006 muda muito pouco.
"Prova de Amor" teve a sorte
de competir com a confusa e pretensiosa "Bang Bang", mas não
só: a novela é direitinha, direitinha. E é isso.
Começou com tiros, correria e
muita externa; reciclou o tema
do bebê roubado, capaz de fazer
brotar emoção até de paralelepípedo, teve dinheiro para manter
um nível de produção razoável e
contratar atores já conhecidos.
Rezou pela cartilha e se deu
bem- a audiência tem se mantido tão boa que animou a emissora a esticar por mais dois meses a
trama. "Prova de Amor" só acaba em junho, com 197 capítulos.
Nunca é demais repetir que
qualquer coisa que abale a espécie de "pensamento único" que a
Globo impôs na televisão é bem-vinda de antemão. O fato de a Record estar se firmando como alternativa ser objeto de entusiasmo, portanto, parte desse quase
princípio. Só é pena que não haja
nada de alternativo no sentido da
construção ficcional. Pelo contrário: a emissora do bispo Edir
Macedo investe naquilo que há
de mais convencional.
Até agora, a Record vem, de
forma mais ou menos hábil, reciclando aquilo que a Globo testou
nos últimos 30 anos. Fez uma novela "de época", com o roteiro
baseado em romances de um escritor canônico da literatura brasileira, José de Alencar. Agora,
com "Prova de Amor", experimentou seguir os passos do melodrama urbano, a um tempo de
estruturas dramáticas bastante
tradicionais e ar contemporâneo.
A pergunta que se faz é se não
haveria uma maneira de escolher
uma trilha própria na área da ficção de TV. E é mais ainda pertinente quando se pensa que na
própria Globo a maneira velha
de fazer novela anda sendo esquadrinhada.
Quando a extinta Manchete
exibiu "Pantanal", nos anos 90,
encontrou uma maneira, se não
inovadora, ainda pouco explorada de fazer novela. Em "Pantanal", tudo andava a passo mais
lento e a sombra de mistério que
rondava os personagens daquele
Brasil ensimesmado conseguia
se espreguiçar pelas exigências
mais rasteiras da trama. De certa
forma, atualizava e deslocava
geograficamente as novelas do
realismo mágico nordestino dos
anos 70.
Por ora, a Record ainda não encontrou nenhum veio que possa
trazer algum frescor ao gênero.
Não há de ser com "Prova de
Amor", sua vilã meio de araque e
a barbaridade de 197 capítulos
para ter o que dizer. Quem sabe
Lauro César Muniz- autor de
narrativas mais arriscadas, como
a de "O Casarão", que se passava
em três tempos distintos -ache
uma maneira.
biabramo.tv@uol.com.br
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