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Bausch é destaque em Santiago
Última criação da coreógrafa alemã, morta em junho, tem a leveza de seus recentes espetáculos
Companhia dirigida por Pina Bausch vem ao Brasil em abril do próximo ano para comemorar centenário do Teatro Municipal de SP
FABIO CYPRIANO
EM SANTIAGO (CHILE)
A última criação da coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009), "...Como el Musguito
em la Piedra, Ay Si, Si, Si...", que
estreou três semanas antes de
sua morte, em junho do ano
passado, é o grande destaque
do Festival Internacional de
Teatro Santiago a Mil, que
ocorre até o fim de janeiro na
capital chilena.
Realizada no sistema de coprodução, que o Tanztheater
Wuppertal de Bausch utiliza
desde 1986, o espetáculo foi
criado após três semanas de residência da companhia no Chile, que incluiu estadas do deserto do Atacama, no norte do
país, à Patagônia, no sul.
O palco todo branco, novamente assinado por Peter
Pabst, em alguns momentos do
espetáculo rachava em pequenas plataformas, como placas
de gelo que se deslocam umas
das outras, quando cenas mais
intensas estavam ocorrendo.
"É o meu cenário mais minimalista", disse Pabst em Santiago.
Menos enérgico e muito mais
seco que "Água", espetáculo
brasileiro criado em 2001,
"...Como el Musguito..." tem
seu nome emprestado de um
dos versos da canção "Volver a
los 17", de Violeta Parra, que na
produção é ouvida na versão de
sua compositora, durante o solo de Tsai-Chin Yu.
Montada por meio de cenas
que intercalam dança e texto,
como Bausch praticava há décadas, sua última produção é
tão leve quanto as demais criações recentes, sem deixar de
abordar a questão central que a
coreógrafa pesquisou desde o
início de sua carreira: as relações humanas.
Um bailarino caminha em direção a uma bailarina, beija-a
com paixão, mas leva um tapa
após o rápido momento de romance. Ela sai, mas volta na direção dele e agora é ela quem
inicia o beijo. No fim, espera-se
que ele revide o tapa, mas é em
si mesmo que o bailarino tasca
o sopapo final. Típica célula de
Bausch, esse momento irônico
aponta para amor e ódio, que
sempre se revezaram no palco
da alemã.
Sobre o Chile, há muitas citações: bailarinos bebem água o
tempo todo, referencia às temperaturas desérticas do país;
olham para o céu como se estivessem no vale da Lua, no Atacama; brincam com rolhas e
garrafas de vinho vazio.
"...Como el Musguito..." deve
rodar o mundo a partir de outubro. No próximo mês de julho,
encerra-se a temporada programada por Bausch. A partir
de então, a companhia começa
de fato sua nova gestão, com
Dominique Mercy e Robert
Sturm à frente.
Em Santiago, o produtor
Emilio Kalil, fechou uma temporada de três semanas no Brasil, em abril do próximo ano,
em que deve constar dois espetáculos: "Ifigênia em Tauris",
criação de 1974, que foi apresentada no Rio em 1997, e outra
a ser definida.
"Estamos acertando "Ifigênia" como uma das principais
peças para a comemoração do
centenário do Teatro Municipal de São Paulo", confirmou
Lara Pinheiro, assessora de
dança da secretaria municipal
de Cultura.
Com 42 espetáculos no repertório, criados a partir de
1973, quando Bausch passou a
dirigir o Tanztheater Wuppertal, a companhia agora tem como desafio manter os espetáculos não só com a mesma técnica mas com a mesma intensidade e frescor de quando a coreógrafa supervisionava. É uma
tarefa difícil, mas possível, como se viu no Chile.
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