São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2000


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Começa corrida ao Oscar... e ninguém está na frente

Divulgação
"Beleza Americana" tem prováveis indicações para filme, diretor, roteiro, além de ator e atriz: Annette Bening e Kevin Spacey



Nenhum filme deve concentrar as indicações de hoje, em ano sem favoritos


AMIR LABAKI
enviado especial a Berlim

O anúncio hoje (às 11h30 no Brasil) dos indicados ao Oscar 2000 deve confirmar que, depois do ano da Miramax, é a vez da fragmentação. Os favoritos representam filmes distintos: "Beleza Americana", Denzel Washington de "Hurricane - O Furacão", Hilary Swank de "Boys Don't Cry" (Garotos Não Choram). O Oscar será entregue em 23 de março.
Há uma saudável dispersão de talentos e uma inegável escassez de obras-primas. "Beleza Americana", a cínica comédia sobre a desintegração de uma família remediada de um subúrbio americano, é, talvez, o único título a merecer a classificação. Deve repetir o Globo de Ouro e liderar, sem excessos, as indicações.
Dos prêmios principais, porém, "Beleza" é o favorito apenas aos de melhor filme e roteiro (Alan Ball). Deve ser indicado ainda aos de melhor diretor (Sam Mendes, vindo do teatro), ator (Kevin Spacey) e atriz (Annette Bening).
Por trás de "Beleza Americana" está a produtora de Spielberg, a Dreamworks. No ano passado, o Oscar principal fugiu de suas mãos na última hora, migrando de "O Resgate do Soldado Ryan" para "Shakespeare Apaixonado", da agressiva Miramax.
A Dreamworks aprendeu a lição e tenta, desta vez, reduzir as expectativas com uma campanha contida. Sabe ter a seu lado o fator compensação. Ajuda mas nem precisava: "Beleza" é superior.
"O Talentoso Ripley" e "O Informante" devem vir logo atrás em número de indicações.
Anthony Minghella merece por "Ripley" mais um Oscar de diretor ("O Paciente Inglês" já lhe valeu o primeiro). Nenhum de seus pares manipulou com igual elegância e precisão os diversos elementos ao criar um universo próprio. Sua versão do romance de Patricia Highsmith sobre as aventuras de um sedutor assassino na Itália dos anos 50, é sutil e complexa. Deve ser indicado tanto pela direção quanto pelo roteiro.
Parece ter mais chances nesta última categoria. Foi esnobado pelos colegas na competição própria do Director's Guild of America (a associação americana de diretores). Num colégio de votantes mais amplo, sua candidatura tende a crescer. "Ripley" deve valer ainda indicações a Matt Damon (ator) e Jude Law (coadjuvante), além de ser lembrado em categorias técnicas como fotografia, direção de arte e figurino.
"O Informante", de Michael Mann foi o segundo filme, em número de indicações, para o Globo de Ouro. Saiu da festa com as mãos abanando. Como drama jornalístico em favor de causas nobres -a guerra contra a indústria do vício em nicotina-, é o tipo de filme abraçado com louvor pela Academia. Deve ser lembrado nas principais categorias: filme, direção e roteiro (ambos de Mann), ator (Russell Crowe). Não deve ganhar em nenhuma.
A competição pelas duas outras vagas na disputa de melhor filme apresenta apenas ligeiros favoritismos em favor do megasucesso de terror "O Sexto Sentido" e do drama penitenciário "À Espera de um Milagre". "O Sexto Sentido" ressuscitou o gênero e já ostenta a 12ª maior bilheteria da história. Seria o aplauso da indústria a seu setor mais comercial -e ao diretor e roteirista M. Night Shyamalan, para muitos revelação do ano.
Já em "À Espera de um Milagre", Tom Hanks coordena a segurança no setor dos condenados à morte de uma penitenciária interiorana de meados do século. O diretor e roteirista Frank Darabont retoma aqui a parceria de "Um Sonho de Liberdade" com o escritor Stephen King. Fez um filme sóbrio e longo, temperado por toques de realismo fantástico.
A reação crítica foi boa, mas o público foi sendo conquistado aos poucos. Hanks tem um desempenho estudadamente contido e pode ficar de fora da lista dos indicados neste ano dominado por desempenhos masculinos.
Dois filmes correm por fora. "Quero Ser John Malkovich", de Spike Jonze, é uma surreal comédia sobre a crise de identidade na era da fama. Parece alternativo demais. Sua melhor carta é o roteiro de Charlie Kaufman.
"Hurricane - O Furacão" completa, com "No Calor da Noite" (1967) e "A História do Soldado" (1984), a trilogia anti-racista do veterano Norman Jewison. Denzel Washington está estupendo no papel de Rubin Carter, um boxeador injustamente condenado por dois assassinatos.
O filme tem contra si o ritmo por demais irregular e o acúmulo de críticas pelo excesso de liberdades frente à história real. Ainda assim o currículo de Jewison, a mensagem humanista e o show de Washington podem lhe valer uma vaga entre as principais.
Fora do topo das indicações, o independente "Boys Don't Cry" sai na frente em duas categorias. Hilary Swank ("Karate Kid 3") driblaos estereótipos ao reconstituir o trágico destino de Teena Brandon, uma jovem que se passava por rapaz. Ninguém lhe rouba o Oscar de melhor atriz.
Muito próximo do de coadjuvante está a intérprete de sua namorada, Chloe Sevigny ("Kids"). Dirigir atores é o forte de Kimberly Pierce. Duvido que seja lembrada: o Oscar não é o Sundance.


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