São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2000


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"Orfeu" não está entre favoritos

do enviado a Berlim

Apesar das boas resenhas e participações em festivais nos EUA, "Orfeu" de Carlos Diegues não aparece entre os favoritos para uma indicação ao Oscar de melhor filme de língua não-inglesa.
Mesmo entre os pretendentes latino-americanos, "Orfeu" enfrenta a concorrência da sóbria adaptação do mexicano Arturo Ripstein para "Ninguém Escreve ao Coronel", do colombiano Gabriel García Márquez.
A produção brasileira não fica melhor ou pior por causa disso. Suas chances de indicação pareciam inicialmente maiores, dada a escassez de grandes nomes na lista de 47 inscritos. Mas a versão de Carlos Diegues para o musical de Vinícius de Moraes alcançou uma tímida projeção na mídia americana, que funciona como um bom termômetro para as chances no Oscar.
A disputa deste ano é entre "Tudo sobre Minha Mãe", de Pedro Almodóvar, e os demais. Numa concorrência com raras certezas, o misantropo drama de Almodóvar é talvez a maior delas.
"Tudo sobre Minha Mãe" pode não ser o melhor e mais original de seus filmes, mas exibe uma maturidade fílmica hoje rara. É sua obra mais explicitamente reverente à cultura americana -com menções a Tennessee Williams e Joseph Mankiewicz. Almodóvar prepara ainda sua estréia em Hollywood e nunca levou um Oscar.
O prêmio agora representaria um cartão de boas-vindas ao clube. Almodóvar é o Benigni do Oscar 2000. Ainda que "Tudo sobre Minha Mãe" não tenha tido um décimo do impacto de "A Vida É Bela" nos EUA.
"The Cup" (A Copa) tem a seu favor a excepcionalidade de sua produção. Inaugura a cinematografia do Butão. É tido como a primeiro filme de ficção falado na língua tibetana. Seu diretor, Khyentse Norbum é um verdadeiro lama, um dos máximos sacerdotes do budismo.
Seus intérpretes são em grande parte monges tibetanos e um monastério budista é a principal locação. Além de tudo, "The Cup" opõe com bom humor o amor ao futebol e a ortodoxia budista, numa trama centrada em torno de dois jovens monges que querem assistir pela TV à Copa da França de 1998.
Sua indicação carregaria uma poderosa mensagem política, de reconhecimento da força cultural específica do Tibete, região controlada com mão de ferro pela China. Parece irresistível.
O francês Régis Wargnier é o único pré-indicado já vitorioso na categoria ("Indochina", premiado em 93 ). Seu "Est-Ouest" (Leste-Oeste) baseia-se num elenco de peso, capitaneado por Sandrine Bonnaire, para uma denúncia do despotismo stalinista já no pós-Guerra. A indicação ao Globo de Ouro sinalizou sua força.
O vencedor de Cannes-99 "Rosetta" conquistou a crítica com sua crua denúncia dos bolsões de miséria na Bélgica contemporânea. Por fim, o decano dos cineastas poloneses, Andrzej Wajda, volta a provar sua sintonia para com a alma polonesa com o épico "Pan Tadeusz", adaptado de um poema clássico. No mês passado, Wajda foi oficializado como membro honorário da Academia e deve receber o prêmio pelo conjunto de sua obra. Difícil o Oscar, ao menos a indicação cairia bem para completar a festa. (AL)


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