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"Orfeu" não está entre favoritos
do enviado a Berlim
Apesar das boas resenhas e participações em festivais nos EUA,
"Orfeu" de Carlos Diegues não
aparece entre os favoritos para
uma indicação ao Oscar de melhor filme de língua não-inglesa.
Mesmo entre os pretendentes
latino-americanos, "Orfeu" enfrenta a concorrência da sóbria
adaptação do mexicano Arturo
Ripstein para "Ninguém Escreve
ao Coronel", do colombiano Gabriel García Márquez.
A produção brasileira não fica
melhor ou pior por causa disso.
Suas chances de indicação pareciam inicialmente maiores, dada
a escassez de grandes nomes na
lista de 47 inscritos. Mas a versão
de Carlos Diegues para o musical
de Vinícius de Moraes alcançou
uma tímida projeção na mídia
americana, que funciona como
um bom termômetro para as
chances no Oscar.
A disputa deste ano é entre "Tudo sobre Minha Mãe", de Pedro
Almodóvar, e os demais. Numa
concorrência com raras certezas,
o misantropo drama de Almodóvar é talvez a maior delas.
"Tudo sobre Minha Mãe" pode
não ser o melhor e mais original
de seus filmes, mas exibe uma
maturidade fílmica hoje rara. É
sua obra mais explicitamente reverente à cultura americana
-com menções a Tennessee Williams e Joseph Mankiewicz. Almodóvar prepara ainda sua estréia em Hollywood e nunca levou um Oscar.
O prêmio agora representaria
um cartão de boas-vindas ao clube. Almodóvar é o Benigni do Oscar 2000. Ainda que "Tudo sobre
Minha Mãe" não tenha tido um
décimo do impacto de "A Vida É
Bela" nos EUA.
"The Cup" (A Copa) tem a seu
favor a excepcionalidade de sua
produção. Inaugura a cinematografia do Butão. É tido como a
primeiro filme de ficção falado na
língua tibetana. Seu diretor,
Khyentse Norbum é um verdadeiro lama, um dos máximos sacerdotes do budismo.
Seus intérpretes são em grande
parte monges tibetanos e um monastério budista é a principal locação. Além de tudo, "The Cup"
opõe com bom humor o amor ao
futebol e a ortodoxia budista, numa trama centrada em torno de
dois jovens monges que querem
assistir pela TV à Copa da França
de 1998.
Sua indicação carregaria uma
poderosa mensagem política, de
reconhecimento da força cultural
específica do Tibete, região controlada com mão de ferro pela
China. Parece irresistível.
O francês Régis Wargnier é o
único pré-indicado já vitorioso na
categoria ("Indochina", premiado em 93 ). Seu "Est-Ouest" (Leste-Oeste) baseia-se num elenco de
peso, capitaneado por Sandrine
Bonnaire, para uma denúncia do
despotismo stalinista já no pós-Guerra. A indicação ao Globo de
Ouro sinalizou sua força.
O vencedor de Cannes-99 "Rosetta" conquistou a crítica com
sua crua denúncia dos bolsões de
miséria na Bélgica contemporânea. Por fim, o decano dos cineastas poloneses, Andrzej Wajda,
volta a provar sua sintonia para
com a alma polonesa com o épico
"Pan Tadeusz", adaptado de um
poema clássico. No mês passado,
Wajda foi oficializado como
membro honorário da Academia
e deve receber o prêmio pelo conjunto de sua obra. Difícil o Oscar,
ao menos a indicação cairia bem
para completar a festa.
(AL)
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