São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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Autor revela a selva dos abastados

Primo rico

CARLOS HAAG
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O escritor americano Scott Fitzgerald (1896-1940) escreveu que os ricos eram, sim, diferentes de você e de mim. Eles tinham mais dinheiro. A resposta pode satisfazer os cínicos, mas não o jornalista Richard Conniff, autor de "A História Natural dos Ricos", que, com bom humor exemplar, defende a tese de que pessoas com mais de US$ 5 milhões pertencem a uma subespécie cultural: o Homo sapiens pecuniosus.
Não adianta revirar o seu Darwin, pois ela não está lá. A "descoberta" de Conniff, no entanto, não deixa de levar em conta a observação "em campo" de como se comportam os milionários e de que maneira eles são tão parecidos, não com você ou comigo, mas com os macacos.
Na raiz de tudo está o desejo de dominância, característico daquilo que os biólogos chamam de macho-alfa, o manda-chuva de um bando. Daí mesmo a mania geral de ajustar-se a uma hierarquia social que nos dê um senso de segurança por meio de um prazer todo especial de servir àqueles que estão no topo. Em suma, para Conniff, tudo o que nos aproxima dos símios está mais realçado quando se trata de gente rica.
Assim, muito executivo de fala arrogante e Armani reluzente, para o autor, não é lá muito diferente do gorila de costas prateada das florestas africanas que dominam os outros com seus gritos e a sua presença impressionante.
Mas nem só de urros vivem os ricos. Eles também podem ser gentis e filantrópicos. Como Ted Turner ao doar US$ 1 bilhão para a ONU; um comportamento que lembra uma ave africana que alimenta seus pares inferiores (dominância pró-social) apenas para demonstrar a sua soberania. Segundo Conniff, uma regra dourada para quem quer se parecer com um macho-alfa dominante é justamente doar muito.
Mas quem não gosta de ser paparicado? Jack Welsh, o ex-CEO da GE, por exemplo, tinha uma casa mantida pela empresa dos chefes de cozinha do tipo de papel higiênico que usava. O mesmo privilégio dado aos machos-alfa dos chimpanzés, que, da mesma forma que o executivo, sofrem ao perder a "boquinha".
Nem sempre eles agem como os animais: a princesa Stephanie de Mônaco, por exemplo, não esconde suas ligações amorosas com "subalternos". Mas até mesmo nos detalhes eles tendem a se comportar como os animais que são: Conniff, irônico, ressalta como JP Morgan ou mesmo o kitsch Donald Trump cultivam suas sobrancelhas fartas, que lhes dão um olhar ameaçador, o mesmo atributo dado pela natureza às chitas, nas savanas. Até mesmo o desprezo dos magnatas antigos pelos novos-ricos repete um padrão biológico: entre os gorilas das montanhas, novos ingressantes no grupo que desejam aparecer demais são imediatamente espancados e expulsos. Os ricos humanos são mais magnânimos: em vez de porrada, desprezo.
Por fim, o básico de sempre: ricos têm mais e melhores mulheres. Por mais feios que sejam. Onassis era definitivo: "Do que me adiantaria nadar em dinheiro se não existissem mulheres no mundo?". Da mesma forma, na natureza, os símios-alfa conseguem as melhores fêmeas. Jack Welsh, careca e baixinho, deu a receita em seu livro: "Ser rico é ganhar uns 15 cm de altura e uma vasta cabeleira".


"A HISTÓRIA NATURAL DOS RICOS" - Autor: Richard Conniff. Editora: Jorge Zahar. Quanto: R$ 45 (344 págs.).


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