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Artista plástico Romero Britto integra grupo de possíveis testemunhas pró-Jackson, em julgamento reiniciado ontem
Defesa de MJ tem celebridades e brasileiro
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A SANTA MARIA
A defesa de Michael Jackson
mostrou sua força ao elencar um
"dream team" de possíveis testemunhas favoráveis, que vão do
músico Stevie Wonder à atriz Elizabeth Taylor, passando pelo produtor musical Quincy Jones,
membros da família do ator Marlon Brando, o jogador de basquete Kobe Bryant e até o artista plástico brasileiro Romero Britto.
No total, o advogado Thomas A.
Mesereau Jr. leu para os candidatos a júri 155 nomes, num procedimento de rotina que reabriu o
julgamento do astro pop na manhã de ontem, em Santa Maria, na
Califórnia. Na lista da promotoria, chamava a atenção apenas o
nome da enfermeira Debbie Rowe, ex-mulher de Jackson.
A escolha do júri do que a mídia
vem chamando de "o julgamento
do século" recomeçou depois de
uma semana de intervalo com
uma preleção do juiz, Rodney
Melville, sobre a importância do
caso. "Quantos de vocês estão se
sentindo nervosos nesta manhã?", perguntou ele. "Se são como eu, muitos. E olhe que faço isso há 18 anos." Sentados na platéia da pequena corte, que lembra
uma agência bancária brasileira,
com suas madeiras escuras e luz
fria, estavam 113 candidatos, dos
243 que foram pré-selecionados
entre 500 cidadãos americanos
convocados.
Agora, no processo que o jargão
jurídico norte-americano chama
de "voir dire" (em francês, literalmente "ver dizer", no sentido de
mostrar a verdade), que os americanos pronunciam "voár dáier",
defesa e promotoria podem questionar de cinco a dez minutos cada jurado potencial e ambos os lados podem recusar até dez deles
"peremptoriamente" -ou seja,
sem explicar o motivo- e um
número ilimitado caso provem
que há parcialidade do candidato.
É o que tentarão estabelecer nas
próximas semanas, para chegar
aos 12 titulares e oito reservas que
decidirão o destino de Michael
Jackson. Ontem, apenas um deles
foi dispensado, um homem de 81
anos, por problemas de saúde.
O músico, 46 anos, pai de três filhos, está sendo acusado de ter
usado substância tóxica para embriagar um adolescente e de ter
abusado sexualmente dele entre
fevereiro e março de 2003, quando a suposta vítima tinha 13 anos
e sofria de câncer, e de ter detido o
menino e sua família contra sua
vontade em pelo menos uma ocasião em Neverland, seu rancho
perto de Santa Maria, cidade três
horas ao norte de Los Angeles, na
Califórnia. Ele nega todas as acusações. Se condenado, pode ficar
até 20 anos preso.
A linha da defesa no questionamento dos candidatos se baseou
no tripé criança-relação com poder-imprensa, já que a acusação
deve se basear no testemunho de
um menino hoje com 15 anos e
em depoimentos de policiais que
revistaram o rancho de Jackson, e
o resultado será certamente influenciado pela repercussão que o
caso vem tendo na mídia.
Ao entrevistar os três primeiros
candidatos, o advogado do músico se mostrou interessado em saber o que estes achavam da influência da mídia no sistema judicial e por quais fontes se informavam, chegando mesmo a perguntar que jornais assinavam e à qual
emissora assistiam, se na TV
aberta ou paga. Ouviu respostas
como: "A imprensa é parcial, e o
público tende a acreditar no que
ouve, em vez de pensar" (jurado
número 110, um trabalhador autônomo de 42 anos).
"Defesa! Defesa!"
Os primeiros 18 candidatos a
sentarem na ala reservada ao júri
definitivo se mostraram mais do
que favoráveis a colaborar, o que é
incomum num caso como esse,
que pode durar até seis meses e
pelo qual o governo paga US$ 17
(R$ 44) por dia para selecionados
-e as empresas não são obrigadas a manter o salário do escolhido, a não ser que ele seja funcionário público. É o fator celebridade. Terminado o julgamento, os
12 jurados serão liberados a falar
-e falar valerá dinheiro para editoras de livros, emissoras de TV e
estúdios de cinema, além das entrevistas para tablóides.
O músico chegou à corte da cidade californiana às 8h06 (14h06
de Brasília) cercado por seis seguranças negros, vestidos com ternos negros e óculos escuros, em
dois furgões pretos, de vidros escurecidos. O que segurava um
guarda-chuva abriu a porta ao
músico, que também vestia preto,
com uma faixa no braço esquerdo, chapéu e um colete vermelho.
Ao deixar um dos carros, acenou
e fez o vê de "vitória" para cerca
de 30 fãs que o esperavam na porta com cartazes e um grito de
guerra típico do basquete americano: "Defesa! Defesa!".
Era o sinal mais evidente do que
deve ser o "julgamento do século": a final de um campeonato
multimilionário, em que será vencedor o lado que conseguir entusiasmar mais a platéia -no caso,
os 12 jurados, que começaram a
ser escolhidos ontem.
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