Sob supervisão de Antunes Filho, entra em cartaz a peça "O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade'

Influenciado pelo teatro do absurdo, texto é o primeiro de Silvia Gomez, 30; Eric Lenate, 25, é o primeiro diretor "lançado" por Antunes

CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL

Sob a supervisão de Antunes Filho, 78, estréiam hoje no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), no Sesc Consolação, o diretor Eric Lenate, 25, e a dramaturga Silvia Gomez, 30, com a peça "O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade".
Influenciado por Samuel Beckett e pelo teatro do absurdo, o texto acompanha a espera de uma enfermeira (Patrícia Carvalho) pelo pai de sua filha, enquanto se distrai fazendo palavras cruzadas, confinada com a menina (Paula Arruda).
Quando aparece, o pai, interpretado por Carlos Morelli, encontra a filha dopada por uma mãe que vê nos remédios a solução para tudo. A peça tem também a participação do ator Adriano Petermann.
Sem fixar um espaço definido e com iluminação simples, a intenção do diretor é não explicar se o único ambiente é uma casa ou um hospital. "Acho que é uma peça estranha, mas ao mesmo tempo tem uma coisa cativante, é charmosa. A estranheza nos aproxima da obra", diz Lenate.
Para a autora, o texto "tem uma coisa meio surrealista", trata de uma "situação de limite, estranha". "Com a corda esticada ao máximo, as pessoas são capazes de falar as coisas mais perigosas."

"Acupuntura" para a peça
Mineira, a jornalista Silvia Gomez faz parte do Círculo de Dramaturgia, coordenado por Antunes, desde 2003. O texto é o primeiro -e o único- escrito pela autora, e o segundo gerado no CPT que chega aos palcos: antes, "O Canto de Gregório", de Paulo Santoro, foi dirigido por Antunes, e o autor, indicado ao Prêmio Shell, em 2004.
O trabalho com os escritores do CPT exige menos tempo do que o que os atores precisam dedicar ao centro -Gomez trabalha em uma revista de decoração e dedica duas horas por semana às reuniões do grupo, onde ouviu as observações de Antunes sobre o texto. Com sotaque forte, ela não poupa elogios ao diretor, que compara a um "acupunturista da peça". "Ele descobre o problema que você não vê."
A estréia nos palcos, afirma Gomez, a ensinou a ver o que "funciona" ou não depois que o texto sai do papel. Lenate elogia a "batida muito própria" do texto, e diz que não daria para montá-lo "de maneira naturalista. O texto não rola, a peça não brota".
Ele é o primeiro diretor "lançado" ao palco do espaço CPT por Antunes, descontando-se o projeto "Prêt-à-Porter", em que os atores são responsáveis pelas próprias cenas -"O Céu Cinco Minutos..." é mais uma demonstração da vontade de Antunes de que o ator seja o "senhor dos palcos".
Lenate diz que "Antunes está num momento iluminado de generosidade, abrindo espaço para as pessoas trabalharem, é só estar com a turbina ligada". Paulista de Guarulhos e ator do CPT há dois anos e meio, Lenate assumiu a direção do texto em janeiro de 2007, depois que Antunes já havia feito algumas "experiências com a peça", que ele diz ter "aproveitado muito".