São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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BIA ABRAMO

"A Lei e o Crime" ganha fôlego dramático


Ainda que parta de premissas bestas, as tramas têm se tornado amarradas e envolventes


"A LEI E O CRIME " (Record, seg., às 23h15; não indicado a menores de 14 anos) explora as fronteiras esgarçadas entre ordem e desordem. O crítico Cássio Starling Carlos foi demasiadamente severo em sua análise do seriado na Ilustrada (7/ 1). Apontou inconsistência no projeto e padrão pífio na qualidade da produção. Por ter sido escrita após a estreia (5/1), talvez não tenha sido possível observar certas qualidades do roteiro. Nos últimos episódios, a série ganhou ritmo, fôlego dramático e alguma consistência.
Ainda que parta de premissas meio bestas -o pobre trabalhador é atirado no crime por uma espécie de acaso e torna-se o rei da cocada preta (e da branca) no morro; a delegada rica é descendente da nobreza-, as tramas têm se tornado mais amarradas e envolventes.
A entrada do personagem de Heitor Martinez, Leandro, um sujeito com motivações não muito esclarecidas, contribui para que os limites entre a lei e o crime fiquem ainda mais embaraçados.
E é daí, da exploração dramática desses limites que se esgarça à medida que história avança, que o seriado vai ganhando consistência. (O fato de o nome ecoar o famoso "Law and Order" soa mais como ironia do que como falta de imaginação). A outra experiência bem-sucedida da Record nesse terreno da teledramaturgia-favela, a novela "Vidas Opostas", também tinha nisso o seu ponto forte.
Mais ou menos verossímil, parece estar em jogo uma ansiedade de representação. Se, para retomar Starling, o projeto da telenovela global acertou "ao aparar as improbabilidades romanescas de Gloria Magadan" e criar uma padrão realista, também vem errando ao insistir num realismo de mão única, ou seja, se o real mudou de feição, arquive-se o real e voltemos à nossa zona de conforto.
A última favela a aparecer em novela, a Portelinha de "Duas Caras", era um exemplo típico: seu autor criou uma favela-gente boa, regida por um coronel transplantado das novelas "nordestinas", e com um bordel cheio de raparigas que pareciam saídas de um romance de Jorge Amado... Ou seja, um pot-pourri de uma certa representação do "povo brasileiro" talvez tenha feito algum sentido, mas agora...
Starling tem razão quando classifica a produção de pífia. É de amargar que, com tanto investimento (R$ 500 mil por episódio), não se achem coadjuvantes decentes, cenários que não recendam a amadorismo, trucagens minimamente profissionais... Há cenas tão precárias que desestimulam o espectador a prosseguir.

biabramo.tv@uol.com.br


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