São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Televisão/Crítica

"Juno" anda na contramão de "Sem Destino"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Ontem foi o dia do "independente" de 2008, "Juno" (Telecine Pipoca, 20h; não indicado a menores de 10 anos), que hoje será reprisado numa versão dublada na qual perde o principal: a voz da protagonista.
Hoje está mais para o independente de 1969, "Easy Rider" ou "Sem Destino" (TCM, 0h05; não indicado a menores de 16 anos). O filme dirigido por Dennis Hopper não é o criador do filme de motocicleta. Ele se serve desse gênero (que o mestre dos realizadores, Roger Corman, por sinal cultivou) e o acopla ao "road movie", o filme de estrada, para colocar seus dois protagonistas, Peter Fonda e o próprio Dennis Hopper, numa viagem iniciática pela América.
Um deles carrega a bandeira americana na moto, mas não é no mesmo espírito do Clint Eastwood do ainda inédito "Gran Torino": não se trata de afirmar os valores da América, mas de tudo colocar em questão. Andar é procurar por si mesmo, não ter muito nada definido, estar mesmo sem destino, como diz o título, isto é: aberto a tudo, inclusive a outro tipo de viagem, a de LSD.
O mundo anda mais acanhado. Tivesse Dennis Hopper feito o filme sob George W. Bush era capaz de acabar em Guantánamo. Agora já não há que procurar o que somos ou o que é nosso país.
Existe um discurso que parece já ter definido tudo. E à garotada cabe isso: executar. Não por acaso, "Juno" e sua rebeldia terminam em "happy end".


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