São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Cineastas exibem Alemanha sombria

Filme coletivo de 13 diretores alemães apresenta visão pessimista do país, 20 anos após queda do Muro de Berlim

Exibido no Festival de Berlim, "Deutschland 09" reúne curtas-metragens de cineastas como Tom Twyker, de "O Perfume"


JULIO OLACIREGUI
DA FRANCE PRESSE, EM BERLIM

O temor do ressurgimento do nazismo, a desconfiança quanto aos estrangeiros, as críticas à burocracia excessiva e à vigilância policial são alguns dos temas do filme coletivo "Deutschland 09", realizado por 13 cineastas alemães, que estreou na última sexta no Festival de Cinema de Berlim.
"Deutschland 09" oferece uma visão um tanto sombria e pessimista da República Federal da Alemanha desde 1989, quando caiu o Muro de Berlim. A Alemanha "é uma ideia", mas não se sabe qual. Hoje há mais eficiência e segurança, mas menos liberdade, e há "reflexos nazistas" em muitos jovens.
A ideia do projeto é de Tom Twyker, o mais ativo diretor alemão do momento, diretor de "Corra, Lola, Corra", "O Perfume" e de "The International", que estreou na semana passada no festival.
O cineasta Fatih Akin, ganhador do Urso de Ouro em 2004 com "Contra a Parede", apresenta em seu curta o caso de Murat Kurnaz, cidadão turco nascido na Alemanha, que passou mais de quatro anos detido na prisão da baía de Guantánamo, sem acusações formais e sem julgamento.
"Esse caso não pode ser esquecido, é preciso alertar sobre o que pode acontecer na Alemanha ainda que o país seja uma democracia", afirmou Akin. Segundo a Anistia Internacional, o caso de Murat Kurnaz "se complicou devido à sua situação jurídica: porque não tinha cidadania alemã, as autoridades do país lhe negaram acesso à Alemanha". No curta, Akin acusa o ministro do Exterior alemão Frank-Walter Steinmeier (candidato ao posto de primeiro-ministro nas eleições de setembro próximo), que teve de se defender no Parlamento da alegação de que havia interferido pessoalmente para bloquear a libertação de Kurnaz.
O cineasta Dani Levy conta em "Josué" o tratamento que um médico lhe ministrou para que seja otimista quanto ao futuro de seus filhos na Alemanha. Já o diretor Christoph Hochhausler, que apresenta em seu filme um exemplo da desconfiança dos alemães com relação aos estrangeiros, declarou que ""Deutschland 09" não é um catálogo de acontecimentos apocalípticos".
"Ramsés", de Romuald Karmakar, é o mais divertido dos 13 curtas, contando a história de um velho iraniano que é dono de um bar de strip-tease em Berlim e agradece às prostitutas estrangeiras que se disponham a vir trabalhar na Alemanha, "porque as alemãs, já que recebem subsídios do governo, não querem mais trabalhar".
O cineasta Hans Weingartner toma por tema a obsessão com a segurança contra o terrorismo e a vigilância policial na vida cotidiana dos alemães.
"Desde 2006, os serviços secretos estão autorizados a escutar conversas em celulares. No meu filme, apresento um caso real: uma pessoa que foi detida depois de ser seguida por 11 meses. Ainda que fosse inocente, essa pessoa era perseguida porque, segundo as autoridades, há pessoas que poderão ser perigosas um dia", disse o diretor.


TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI


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