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Cineastas exibem Alemanha sombria
Filme coletivo de 13 diretores alemães apresenta visão pessimista do país, 20 anos após queda do Muro de Berlim
Exibido no Festival de Berlim, "Deutschland 09" reúne curtas-metragens de cineastas como Tom Twyker, de "O Perfume"
JULIO OLACIREGUI
DA FRANCE PRESSE, EM BERLIM
O temor do ressurgimento do
nazismo, a desconfiança quanto aos estrangeiros, as críticas à
burocracia excessiva e à vigilância policial são alguns dos
temas do filme coletivo
"Deutschland 09", realizado
por 13 cineastas alemães, que
estreou na última sexta no Festival de Cinema de Berlim.
"Deutschland 09" oferece
uma visão um tanto sombria e
pessimista da República Federal da Alemanha desde 1989,
quando caiu o Muro de Berlim.
A Alemanha "é uma ideia", mas
não se sabe qual. Hoje há mais
eficiência e segurança, mas menos liberdade, e há "reflexos
nazistas" em muitos jovens.
A ideia do projeto é de Tom
Twyker, o mais ativo diretor
alemão do momento, diretor de
"Corra, Lola, Corra", "O Perfume" e de "The International",
que estreou na semana passada
no festival.
O cineasta Fatih Akin, ganhador do Urso de Ouro em
2004 com "Contra a Parede",
apresenta em seu curta o caso
de Murat Kurnaz, cidadão turco nascido na Alemanha, que
passou mais de quatro anos detido na prisão da baía de Guantánamo, sem acusações formais e sem julgamento.
"Esse caso não pode ser esquecido, é preciso alertar sobre
o que pode acontecer na Alemanha ainda que o país seja
uma democracia", afirmou
Akin. Segundo a Anistia Internacional, o caso de Murat Kurnaz "se complicou devido à sua
situação jurídica: porque não
tinha cidadania alemã, as autoridades do país lhe negaram
acesso à Alemanha". No curta,
Akin acusa o ministro do Exterior alemão Frank-Walter
Steinmeier (candidato ao posto
de primeiro-ministro nas eleições de setembro próximo),
que teve de se defender no Parlamento da alegação de que havia interferido pessoalmente
para bloquear a libertação de
Kurnaz.
O cineasta Dani Levy conta
em "Josué" o tratamento que
um médico lhe ministrou para
que seja otimista quanto ao futuro de seus filhos na Alemanha. Já o diretor Christoph
Hochhausler, que apresenta
em seu filme um exemplo da
desconfiança dos alemães com
relação aos estrangeiros, declarou que ""Deutschland 09" não
é um catálogo de acontecimentos apocalípticos".
"Ramsés", de Romuald Karmakar, é o mais divertido dos 13
curtas, contando a história de
um velho iraniano que é dono
de um bar de strip-tease em
Berlim e agradece às prostitutas estrangeiras que se disponham a vir trabalhar na Alemanha, "porque as alemãs, já que
recebem subsídios do governo,
não querem mais trabalhar".
O cineasta Hans Weingartner toma por tema a obsessão
com a segurança contra o terrorismo e a vigilância policial na
vida cotidiana dos alemães.
"Desde 2006, os serviços secretos estão autorizados a escutar conversas em celulares. No
meu filme, apresento um caso
real: uma pessoa que foi detida
depois de ser seguida por 11 meses. Ainda que fosse inocente,
essa pessoa era perseguida porque, segundo as autoridades, há
pessoas que poderão ser perigosas um dia", disse o diretor.
TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI
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