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60º FESTIVAL DE BERLIM
Dogma volta a incomodar em Berlim
Com o longa "Submarino", cineasta dinamarquês Thomas Vinterberg, um dos criadores do movimento, recobra a forma
Rodado em 16 mm e politicamente incorreto, filme busca contar história de maneira realista, "sem maneirismos ou espertezas"
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
E eis que, competindo com
filmes como "The Ghost Writer", de Roman Polanski e "A
Ilha do Medo", de Martin Scorsese, um diretor dinamarquês
respeitado, mas bem menos famoso, deixou a plateia sem reação - no bom sentido- com
um filme sem truques.
"Submarino", de Thomas
Vinterberg, fundador do Dogma ao lado de Lars Von Trier,
respeita os preceitos do movimento de 1995, por um cinema
mais realista e menos preocupado com as bilheterias.
Rodado em 16 mm (película
mais barata do que a usual, 35
mm), o longa teve "orçamento
apertado", segundo o diretor,
que diz ter feito "o possível para
contar a história sem maneirismos, sem espertezas". "Fizemos tudo, com muitas restrições, para o resultado ser o
mais puro."
Para os críticos, "Submarino" representa a volta à forma
de Vinterberg, que não impressionava tanto desde "Festa de
Família" (1998), premiado em
Cannes. Em coletiva anteontem, o diretor, afastado dos
grandes festivais desde então,
se irritou com a afirmação de
que "Submarino" pode ser a
sua próxima grande obra depois de "Festa...".
"Não é minha história, mas
sei que é a história que contarão de mim. Nunca estive fora.
Talvez vocês [jornalistas] estivessem. Não é minha volta,
porque nunca parei", afirmou,
subindo o tom e aplaudido por
repórteres. Muitos deles, antes
de fazer algumas poucas perguntas, rasgavam elogios ao
drama sobre dois irmãos.
"Submarino", baseado em livro de Jonas T. Bengtsson, abre
com o choro de um bebê, assistido apenas por duas expressivas crianças, enquanto a mãe
dos três está mais preocupada
em achar a garrafa de vermute.
Politicamente incorreto e
com excelente direção de atores, o filme coloca os meninos
para fumar, beber, apanhar da
mãe e, ainda na primeira parte,
ver o irmão pequeno morrer
por falta de quem o olhasse. O
trauma desenhado no início
marca o resto da trajetória dos
dois protagonistas.
No segundo ato, o mais velho
tenta refazer a vida depois de
levar um fora e passar um tempo encarcerado. Na terceira
parte, é hora de vermos quão
ruim ficou a vida do mais novo,
viciado em heroína e pai, sozinho, de um menino.
Os irmãos não conseguem
conviver um com o outro, mas
se reencontram para a quarta e
última parte do filme. Sem estragar o final, não é difícil imaginar que um roteiro como esse
não seja feito para que o espectador deixe o cinema feliz.
A repórter CRISTINA FIBE está hospedada a
convite do festival
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