São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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60º FESTIVAL DE BERLIM

Dogma volta a incomodar em Berlim

Com o longa "Submarino", cineasta dinamarquês Thomas Vinterberg, um dos criadores do movimento, recobra a forma

Rodado em 16 mm e politicamente incorreto, filme busca contar história de maneira realista, "sem maneirismos ou espertezas"

CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

E eis que, competindo com filmes como "The Ghost Writer", de Roman Polanski e "A Ilha do Medo", de Martin Scorsese, um diretor dinamarquês respeitado, mas bem menos famoso, deixou a plateia sem reação - no bom sentido- com um filme sem truques.
"Submarino", de Thomas Vinterberg, fundador do Dogma ao lado de Lars Von Trier, respeita os preceitos do movimento de 1995, por um cinema mais realista e menos preocupado com as bilheterias. Rodado em 16 mm (película mais barata do que a usual, 35 mm), o longa teve "orçamento apertado", segundo o diretor, que diz ter feito "o possível para contar a história sem maneirismos, sem espertezas". "Fizemos tudo, com muitas restrições, para o resultado ser o mais puro."
Para os críticos, "Submarino" representa a volta à forma de Vinterberg, que não impressionava tanto desde "Festa de Família" (1998), premiado em Cannes. Em coletiva anteontem, o diretor, afastado dos grandes festivais desde então, se irritou com a afirmação de que "Submarino" pode ser a sua próxima grande obra depois de "Festa...".
"Não é minha história, mas sei que é a história que contarão de mim. Nunca estive fora. Talvez vocês [jornalistas] estivessem. Não é minha volta, porque nunca parei", afirmou, subindo o tom e aplaudido por repórteres. Muitos deles, antes de fazer algumas poucas perguntas, rasgavam elogios ao drama sobre dois irmãos.
"Submarino", baseado em livro de Jonas T. Bengtsson, abre com o choro de um bebê, assistido apenas por duas expressivas crianças, enquanto a mãe dos três está mais preocupada em achar a garrafa de vermute.
Politicamente incorreto e com excelente direção de atores, o filme coloca os meninos para fumar, beber, apanhar da mãe e, ainda na primeira parte, ver o irmão pequeno morrer por falta de quem o olhasse. O trauma desenhado no início marca o resto da trajetória dos dois protagonistas.
No segundo ato, o mais velho tenta refazer a vida depois de levar um fora e passar um tempo encarcerado. Na terceira parte, é hora de vermos quão ruim ficou a vida do mais novo, viciado em heroína e pai, sozinho, de um menino.
Os irmãos não conseguem conviver um com o outro, mas se reencontram para a quarta e última parte do filme. Sem estragar o final, não é difícil imaginar que um roteiro como esse não seja feito para que o espectador deixe o cinema feliz.

A repórter CRISTINA FIBE está hospedada a convite do festival



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